Caríssimos leitores,
Sempre entendi que o arrependimento tem seu lado nobre, afinal quem nunca se arrependeu de ter feito ou algo que não deveria, ou deixado de fazer algo que necessitava ter sido feito ao longo da vida?
Vivemos em tempos em que a palavra perdeu o peso da responsabilidade e se transformou em arma letal. O mal, de fato, não está nos objetos, nas circunstâncias ou sequer nas instituições; ele está, sobretudo, no que sai da boca do homem.
É no discurso tóxico, na mentira, repetida mil vezes, até se tornar verdade, no insulto que desumaniza e comemora a morte de outra pessoa, só por que diverge ideologicamente, no palavreado que corrompe consciências, que encontramos a raiz da degradação social.
A boca que deveria ser instrumento de diálogo, reflexão e construção coletiva, muitas vezes se converte em canal de ódio. É por ela que se espalham preconceitos, que se instiga a violência, que se alimenta a ignorância travestida de opinião. E, no campo político, vemos diariamente como palavras irresponsáveis abrem feridas mais profundas que qualquer ação concreta: líderes que prometem o que não podem cumprir, que demonizam adversários e que manipulam sentimentos em benefício próprio.
Exemplo disso veio recentemente. Em participação no programa Roda Viva, da TV Cultura, na noite desta segunda-feira, o presidente do STF, Luís Roberto Barroso, classificou como “infeliz” a frase sobre “derrotar o bolsonarismo”, dita por ele pouco após as eleições de 2022.
A declaração veio quando o magistrado foi perguntado por um dos entrevistadores sobre um “arrependimento” marcante à frente da Corte, uma vez que será substituído por Edson Fachin na presidência do tribunal na próxima semana.
A frase em questão havia sido proferida em julho de 2023, em meio a ataques de uma plateia que exibiu faixa chamando-o de “inimigo da enfermagem e articulador do golpe de 2016”.
Naquele mesmo discurso, o magistrado defendeu o livre direito à manifestação e criticou a ditadura, ao lado do então ministro da Justiça, Flávio Dino. Mas não foi a primeira vez que Barroso deixou o verbo escapar mais do que deveria: após a divulgação da vitória de Lula, respondeu com a expressão “perdeu, mané” a uma apoiadora de Bolsonaro que o abordou na rua.
Eis o ponto central: o mal que sai da boca do homem não respeita toga, nem cargo, nem posição. Quando até magistrados que deveriam ser exemplo de sobriedade deixam escapar expressões que inflamam ainda mais os ânimos da sociedade, o que esperar do cidadão comum? A palavra mal utilizada não apenas diminui quem a profere, mas também compromete a credibilidade da instituição que representa.
E aqui está o veneno mais perigoso: enquanto juízes se permitem a soberba do “perdeu, mané”, políticos destilam promessas falsas, presidentes da República espalham ilusões e deputados gritam mais do que legislam. O mal que sai da boca deles não é apenas retórica: ele molda consciências, legitima abusos e pavimenta o caminho da intolerância. A sociedade brasileira está cansada de ser cobaia de discursos irresponsáveis.
Se o mal é o que sai da boca do homem, o Brasil está atolado até o pescoço. E, pior, boa parte desse mal vem justamente daqueles que deveriam ser os guardiões da ética, da lei e da democracia.

Possui graduação em Engenharia Agronômica pela Universidade do Estado da Bahia (1987)-UNEB e graduação em bacharelado em administração de empresa – FACAPE pela FACULDADE DE CIÊNCIAS APLICADAS DE PETROLINA (1985). Pós-Graduado em PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL. Licenciatura em Matemática pela UNIVASF – Universidade Federal do São Francisco . Atualmente é proprietário e redator – chefe do blog o ProfessorTM