25 de abril de 2024
Colunistas Paulo Antonini

Amigos pra quê, se eu tenho uma ideologia?

Esse pouso forçado nas pistas de minha cama devido a uma gripe que cancelou todos os meus planos desses últimos cinco dias, levou-me a várias reflexões sobre variados temas, mas um que tem sido recorrente e dos que mais me comovem, é essa intolerância que existe nos dias de hoje, onde antigos amigos de uma vida inteira se estraçalham pelo simples e saudável e bem vindo fato, de pensarem diferente e de terem posições diversas.

Nesse tema, me concentrei num quase dogma, o que preconiza que quanto mais podemos privar da intimidade de outra pessoa, melhor a conheceremos. Por outro lado, me vi diante do fato de tão longas e fraternas amizades, até mesmo entre familiares, se precipitarem num abismo sem volta, e esse novo fato, se deu com a pulverização e massificação das redes sociais.
O paradoxo, é que tivemos essas pessoas uma vida inteira ao lado e nunca nos demos conta de tamanha disponibilidade em nos dizimarem com uma simples apertar de uma mísera tecla.

Nessa barafunda política em que vivemos, onde os sentimentos foram lobotomizados entre o sentir de ricos contra pobres, de homens contra mulheres e negros versus brancos, entre outros.
Vejo que estamos consagrando a bestialidade e retroagindo ao tempo dos guetos, onde partes de sociedades se refugiavam para poderem sobreviver junto a seus iguais. Nada me parece ser mais libertador e rico, do que o convívio respeitoso com o diferente.
O discurso recorrente dessas pessoas que encarnam a intolerância, hipocritamente, é a defesa da democracia… como assim? A manutenção de direitos adquiridos… quais direitos de fato foram esses?

Não existem direitos, e eles parecem ignorar ou esquecerem desse detalhe, na intolerância, no desejo de eliminação do contraditório. Raciocínio matemático, como 2 + 2.

Bem, cheguei à conclusão que a dissimulação humana é muito maior do eu julgava. Conviver, privar da intimidade, muitas vezes, até muito intimamente, não é certificado pra nada. A mente de uma pessoa é intransponível, enquanto for sua vontade.

De uma hora pra outra, vi testemunhas de minha vida, de minha conduta, atos e desatinos, me acusarem de comportamentos e atitudes que eles jamais testemunharam. Me vi sendo eliminado, por irmãos que julguei termos uma fraternidade inexorável. Não, não os humilhei, não os traí, nem destruí a vida de nenhum deles, apenas, tive a infelicidade de dar minhas opiniões e posições, que até julgava serem pra lá de conhecidas por eles, contrária ao que vinham pregando.

Percebi que algo na lógica havia se tornado dialético para eles.
Os fatos, as evidências e provas, não mais se esgotavam como referências à formação de um pensamento. tudo era em prol da retórica do idealismo engendrada para manter pessoas subjugadas, por suas deficiências,e isso, se tornou um álibi. Sua fome, seu flagelo, sua condição sexual e ou social, tudo passou a ser fecundado e estimulado como moeda de troca ideológica.

A internet, que eu pensei ser um lugar de certa forma superficial para conhecermos alguém, hoje vejo, que é o lugar perfeito pra se ver quem é quem.
Aí, todos se sentem livres pra tudo. Ficam à vontade, e sem censura, já que não existe a presença física do outro, em destratar, humilhar, acabar com o outro, com o contraditório, e se até aí não foi logrado o alvo, deletamos o cara.
Nesse simples apertar de tecla, terminamos um laço que nos custou anos de afeto e dedicação, mas, o que é isso, o que vale isso, perto de se satisfazer o ego?

Amigos pra quê, se eu tenho uma ideologia?
Paulo Antonini

Paisagista bailarino e amante da natureza. Carioca da gema, botafoguense antes do Big Bang.

Paisagista bailarino e amante da natureza. Carioca da gema, botafoguense antes do Big Bang.

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