Na semana do impeachment, novos sinais positivos na economia.
O fundo do poço em que a incompetência, o desatino, a soberba, o voluntarismo de Dilma Rousseff enfiaram a economia brasileira é exatamente isso: fundo. Muito fundo. Quem sabe somar 1 + 1 sabe também que não será nada fácil, nem rápido, tirar a economia da recessão em que ela foi colocada.
Não é uma crisezinha. É a maior, a mais grave crise da economia brasileira em toda a História.
Assim, não é de forma alguma de se espantar que, nos últimos dias, tenha havido novas más notícias.
A pior de todas foi divulgada no dia 30/8, terça-feira: o desemprego atingiu 11,8 milhões e a renda dos trabalhadores voltou ao nível de 2013.
“A taxa de desocupação no Brasil subiu para 11,6% no trimestre encerrado em julho de 2016, após ficar em 11,3% nos três meses até junho, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)”, diz reportagem de Daniela Amorim, do Estadão.
“O resultado é o maior da série histórica, iniciada em 2012. Em igual período do ano passado, a taxa de desemprego medida pela Pnad Contínua estava em 8,60%. A população desocupada também atingiu o patamar recorde de 11,847 milhões de pessoas, um avanço de 37,4% em relação a julho de 2015, o equivalente a 3,225 milhões de indivíduos a mais em busca de uma vaga. A população desocupada também atingiu o patamar recorde de 11,847 milhões de pessoas, um avanço de 37,4% em relação a julho de 2015, o equivalente a 3,225 milhões de indivíduos a mais em busca de uma vaga. Já a população ocupada encolheu 1,8% no período, para um total de 90,487 milhões de pessoas, o equivalente à eliminação de 1,698 milhão de postos de trabalho.”
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Outra má notícia veio no dia seguinte, quarta-feira, 31/8 – exatamente o dia em que o Senado aprovou o impeachment de Dilma Rousseff por 61 votos a 20 – mas, numa manobra inimaginável, contrariou frontalmente o parágrafo único do artigo 52 da Constituição e manteve os direitos políticos da agora ex-presidente.
O PIB recuou 0,6% no segundo trimestre deste ano, frente ao trimestre anterior. A queda foi ainda mais intensa do que a do primeiro trimestre, de 0,4%.
O número sem dúvida alguma é péssimo, e confirma que o país continua afundado na recessão que já dura mais de dois anos.
No entanto, há motivo para algum pequeno, contido otimismo: houve reação da indústria e dos investimentos. “O desempenho de alguns setores do PIB no segundo trimestre e outros indicadores conjunturais mais recentes sugerem que a economia brasileira está deixando a UTI”, dizia a reportagem do Globo do dia 1º/9.
Os investimentos tiveram pequenina alta, de 0,4% – a primeira após 10 semestres consecutivos de quedas.
A indústria também teve alta, de 0,3%;
Diz a reportagem do Globo, assinada por Lucianne Carneiro, Danielle Nogueira, Daiane Costa e Bruna Rosa:
“A avaliação de especialistas é a de que há sinais de mudança no perfil do desempenho econômico. Mas o cenário ainda é nebuloso sobre o ritmo dessa retomada, bem como em relação a qual setor da economia vai liderar esse movimento.
“- As taxas são parecidas, mas o perfil da economia no segundo trimestre é mais auspicioso. A hemorragia da demanda interna está estancando. O investimento deu sinal de vida, e a indústria também parou de cair – afirma o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges.
“Após dez trimestres seguidos de queda, os investimentos, medidos pela Formação Bruta de Capital Fixo, subiram 0,4% em relação ao primeiro trimestre. Já a indústria voltou ao azul, após cinco taxas negativas, com alta de 0,3%. Quem ofuscou essa reação do investimento e da indústria, no entanto, foi o setor de serviços, que viu acelerar sua retração de 0,4% no primeiro trimestre para 0,8% no segundo.”
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Ou seja: está muito ruim, sim, sem dúvida alguma.
Mas os sinais de melhora já começaram a aparecer – como venho insistindo aqui desde que Dilma Rousseff foi afastada da Presidência da República, em 12 de maio deste ano.
E continuam aparecendo.
E vão continuar aparecendo – a não ser que o Supremo Tribunal Federal, ao julgar as ações contra o fatiamento da votação do dia 31, acabe por derrubar a votação que por 61 votos a 20 afastou definitivamente Dilma Rousseff.
Eis alguns desses sinais noticiados nos últimos dias pelos jornais, em ordem cronológica:
* A crise é menos intensa na construção.
“Na indústria em geral predomina a confiança na desaceleração do ritmo de queda da atividade, percepção que agora se estende à construção civil, um dos setores da economia mais atingidos pela crise. É o que se constata na Sondagem Indústria da Construção da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que aponta para números mais positivos após o auge da crise verificado entre fins de 2015 e o início de 2016.
“Entre junho e julho, o índice de evolução do nível de atividade da construção aumentou de 41,2 pontos para 42,3 pontos. É ainda inferior à linha de 50 pontos que separa os campos positivo e negativo, mas em dezembro de 2015 era de 33,3 pontos – ou seja, subiu 27% em relação ao ponto mínimo.
“As expectativas são melhores que a situação presente: o nível de atividade efetivo em relação ao usual registra apenas 28,8 pontos, pequena alta sobre os 27,2 pontos de junho e o mínimo de 25,3 pontos observado em fevereiro.” (Editorial econômico, Estadão, 25/8.)
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* Ipea e FGV já apontavam sinal de recuperação dos investimentos.
“Estimativas de dois institutos de pesquisa apontam um avanço na Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) – o índice que mede os investimentos – próximo a 0,4% em relação ao primeiro trimestre de 2016.
“Pelas estimativas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), os investimentos aumentaram 0,38% na passagem do primeiro para o segundo trimestre do ano. ‘Há sinais de que a economia começa a se recuperar depois desse longo período de recessão profunda. Não significa que a crise acabou, mas que a retomada possa estar começando, principalmente nos investimentos, que foi o componente do PIB que mais caiu. As expectativas melhoraram, e os investimentos respondem mais rapidamente a isso’, avaliou o coordenador do Grupo de Conjuntura do Ipea, José Ronaldo de Souza Junior.
“O Ipea aponta que o indicador de investimento em construção civil avançou apenas 0,5% entre o primeiro e o segundo trimestre deste ano, enquanto o consumo aparente de máquinas e equipamentos registrou elevação de 11,72%.
“Já o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) calcula que a FBCF tenha avançado 0,42% no segundo trimestre ante o trimestre anterior. Para Claudio Considera, economista responsável pelo Monitor do PIB, apurado pelo Ibre/FGV, o aumento das vendas e importações de máquinas e equipamentos mostra que o País está voltando a captar investimentos, o que pode caracterizar uma retomada da economia.” (Daniela Amorim e Nathália Larghi, Estadão, 27/8/2016.)
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* Indústria dá sinais de reação, aponta Iedi.
“A indústria começa a dar os primeiros sinais de reação. Um estudo elaborado pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) aponta que o pior da crise parece ter ficado para trás para fatia significativa do setor.
“O levantamento mostra que todos os setores continuam com retração na atividade, mas o que determina o cenário mais positivo é a queda mais tênue. No trimestre encerrado em junho, por exemplo, a indústria de alta tecnologia, que inclui farmacêutica e aeronáutica, caiu 5,9%. No início do ano, a retração chegava a quase 20%. (…)
“’O nosso desempenho tem duas explicações. A primeira é que saúde é uma necessidade que todo mundo coloca como prioridade. A segunda explicação é que não há para quem transferir a necessidade de comprar um medicamento. No Brasil, 79% dos medicamentos são comprados pela própria pessoa’, diz Antônio Britto, presidente da Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa.
A mesma lógica vale para o setor de média alta tecnologia, que engloba veículos e máquinas e equipamentos. Em junho, a queda registrada foi de 7,9%. Na virada do ano, o tamanho do tombo superava 20%. ‘Esses setores foram afetados pela queda na confiança de empresários e consumidores’, afirma Rafael Cagnin, economista do Iedi.
“Por fim, a indústria de baixa tecnologia, conhecida por calçados, têxtil e alimentos, é a que está mais próxima do fim da recessão. No trimestre encerrado em junho, o recuo foi de apenas 0,3%. O setor tem sido beneficiado pela melhora das exportações, o que compensa o mau momento do mercado interno.
“Juntos, esses três grandes setores equivalem a 62,1% da indústria brasileira.” (Luiz Gulherme Gerbelli, Estadão, 29/8/2016.)
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* Sete dos dez principais setores da economia esboçam recuperação.
“Os economistas já afirmam quase unanimemente que a economia bateu no fundo do poço e começa a reagir. Dos 10 principais setores que fazem a roda do crescimento girar, 7 já esboçam recuperação, segundo levantamento feito pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Mas há outro consenso entre os especialistas: a robustez e a velocidade da retomada estão nas mãos do governo. O ponto de partida de um novo ciclo virtuoso é o ajuste fiscal nas contas públicas. Na avaliação geral, o ajuste será deslanchado após o julgamento do impeachment, nesta semana, com a definição de quem por direito tem aval para bancar medidas duras de cortes de gastos. (…)
“Economistas ouvidos pelo Estado estimam que devem contribuir para esse resultado reações pontuais, como a alta média de 2,4% em têxteis e calçados e de 0,9% no setor automotivo, em especial graças às exportações. Também deve pesar a favor o avanço de 1,3% no setor químico, impulsionado pela reposição de estoques. Outros setores tiveram crescimento zero, o que é bom, pois indica que a atividade deixou de se contrair e pode voltar a crescer, caso de construção e metalurgia.
Caio Megale, economista do Itaú Unibanco, lembra que a recuperação econômica virá de duas frentes. Uma parte, diz, ficará por conta da ‘regeneração natural do tecido econômico’. Nesse caso, cumpriu-se um ciclo: a recessão derrubou o consumo e a produção, o que levou ao uso de estoques. Gradativamente, a produção é retomada, mas para atender a um consumo menor. Nesse processo, o câmbio cedeu, favorecendo a produção voltada à exportação.
“Foi esse fenômeno natural que levou a indústria em geral a apresentar crescimento em volume físico de 1,2% no segundo trimestre, o primeiro saldo desde junho de 2013. ‘Os eventos esportivos pautaram a recessão: ela começou depois da Copa e tudo indica que se encerra na Paralimpíada’, diz Megale.” (Alexa Salomão, Estadão, 28/8/2016.)
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* Durante visita de Temer, chineses anunciam investimentos de cerca de R$ 15 bilhões no Brasil.
“A atração de investimentos chineses para projetos de infraestrutura no Brasil é um dos pontos centrais da visita que o presidente Michel Temer iniciou hoje à China. Mas o maior objetivo de Temer com a viagem – no domingo, ele participa da reunião do G-20 –, é passar a mensagem de que o período de instabilidade política no Brasil foi superado e que seu governo está tomando as medidas necessárias para ajustar a economia e dar segurança aos que coloquem capital em grandes projetos de infra-estrutura.
“Em evento que reuniu cerca de 100 empresários brasileiros e 250 chineses em Xangai, alguns investimentos já foram anunciados. A CBSteel oficializou um acordo de US$ 3 bilhões (R$ 9,75 bilhões) para siderurgia no Maranhão. A China Communications Construction Company (CCCC) informou um aporte de US$ 460 milhões (R$ 1,5 bilhão) em um terminal multicargas em São Luís (MA). A Hunan Dakang disse que investirá US$ 1 bilhão (R$ 3,25 bilhões) em agricultura no Brasil. E a Embraer fechou a venda de pelo menos 4 aviões para dois grupos chineses.
“’Agora, o Brasil sabe onde quer chegar’, disse o ministro dos Transportes, Maurício Quintella, no evento com os empresários. Ele afirmou que o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff ‘restabeleceu a estabilidade política’ no País. Mas reconheceu que o País continua mergulhado em uma grave crise financeira, que restringe sua capacidade de investimentos em infra-estrutura. Esse cenário, ressaltou, cria oportunidades para empresas estrangeiras em busca de projetos de longo prazo.” (Cláudia Trevisan e Fernando Nakagawa, Estadão, 2/9/2016.)
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* Produção industrial tem alta mínima – mas é o quinto mês consecutivo de alta.
“A produção industrial variou 0,1% em julho, frente a junho, a quinta taxa positiva seguida. Nestes cinco meses, a indústria acumulou alta de 3,7%. O desempenho recente mostra alguma reação da indústria, mas está longe de recuperar as perdas registradas anteriormente, especialmente no ano de 2015, que o setor fechou com queda de 8,3%.
“Na comparação com julho de 2015, houve queda de 6,6% — é a 29ª taxa negativa seguida na comparação anual. No acumulado de 12 meses, a retração foi de 9,6%.Considerando os sete primeiros meses de 2016, a perda é de 8,7%.
“O resultado dá a primeira sinalização da indústria no terceiro trimestre do ano, após a divulgação do resultado do Produto Interno Bruto (PIB), na última quarta-feira. No segundo trimestre, a economia encolheu 0,6%, mas a indústria avançou 0,3%, na primeira taxa positiva após cinco trimestres. Em junho, a indústria avançou 1,3% frente a maio, no quarto resultado positivo seguido.
“Gerente da Coordenação de Indústria do IBGE, André Macedo afirma que uma sequência de cinco taxas positivas na indústria não ocorria desde 2012 — quando entre abril e agosto houve alta acumulada de 4,3% —, mas lembra que a indústria ainda está longe de recuperar perdas passadas:
“— A indústria mostra ligeiro acréscimo de 0,1% em julho, é o quinto resultado positivo. Essa sequência positiva não era vista desde 2012. Mas mesmo com esse resultado o setor industrial ainda tem um caminho importante de recuperação. A indústria ainda opera em nível de fevereiro de 2009 e 18,2% abaixo do pico de produção, em junho de 2013.
“O avanço recente, segundo ele, mostra que a indústria já começou a trilhar o caminho da recuperação e deixar os pontos mais baixos da série histórica para trás, mas é preciso relativizar este desempenho.
“— A indústria já andou algo nesse caminho (da recuperação), mas não significa que todas as perdas foram recuperadas, nem que a trajetória é claramente ascendente. Ainda é prematuro dizer que se tenha algo consistente na produção industrial.”
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