Bolsonaro e López Obrador passaram dias desfiando besteiras
Bolsonaro interrompe o isolamento pelo coronavírus e confraterniza com manifestantes em frente ao Palácio do Planalto
Adriano Machado/Reuters
Populismo é uma praga. Devasta países, asfixia a democracia, escraviza povos. Uma peste indomável, disseminada igualmente pela direita e pela esquerda. Nas crises, a capacidade destrutiva dos populistas fica ainda mais escancarada. Indisfarçável, explode diante da mais grave pandemia global dos tempos modernos.
“Estão fazendo uso político do vírus porque temos eleições”, diz o esquerdista Andrés Manuel López Obrador, presidente do México, que, assim como o ultradireitista Jair Bolsonaro, se lançou nos braços da galera no último domingo, descumprindo os alertas sanitários de seu próprio governo. Autoproclamando-se como corajosos e homens “do povo”, ambos colocaram em risco a rede de proteção tão difícil de tecer quando o vírus terrível e desconhecido ataca.
Duas frases, a de López Obrador, “Insisto que vamos muy bien e que tenemos fortaleza”, e a de Bolsonaro, “Nosso time está ganhando de goleada”, bastam para demonstrar o quanto a fé populista ultrapassa a montanha ideológica. Um e outro creem que darão conta do recado com mensagens ufanistas, animadoras para a torcida, mas insuficientes para inspirar segurança aos seus compatriotas temerosos de perder empregos, amigos, familiares e a própria vida.
Únicos presidentes a desdenhar do perigo, Bolsonaro e López Obrador passaram dias desfiando besteiras sobre o novo coronavírus. Histeria virou palavra-chave de Bolsonaro ao fazer pouco das medidas restritivas indicadas por seu ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, e praticadas por governadores e prefeitos cientes da velocidade e dos danos do surto.
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O mexicano também não quis saber dos seus técnicos. Incentivou a participação popular em um plebiscito que ocorre neste fim de semana – o que agora diz que não fez -, garantiu que não vai impedir o turismo, muito menos cancelar eventos. Criticou políticos e, claro, jornalistas e “colunistas de TV”. Não é fácil viver em um país com um presidente assim.
A desidratação do apoio nas redes sociais de ambos, uma morte, a primeira no México, e panelaços espontâneos em várias capitais brasileiras uma noite antes da data convocada mudaram o tom. López Obrador correu a assinar um acordo de fechamento parcial de fronteira com Donald Trump, um ex-cético quanto os danos do vírus que se converteu depois de contabilizar perdas eleitorais, e, como faz todo populista, começou a desdizer o que dissera dias antes.
Bolsonaro também tentou firmar pé. Depois de ver seu desafeto João Doria falar diariamente com a imprensa – o primeiro desses encontros ao lado do ministro Mandetta provocou um misto de ciúme e ódio no presidente -, ele decidiu organizar coletivas diárias com os jornalistas, representantes da mesma mídia que ele execra dia sim, outro também.
A primeira delas foi um desastre. À lida errática de máscaras de proteção que proporcionou a cena emblemática do presidente colocando-a sobre os olhos e depois pendurando-a na orelha, à completa ausência de assepsia, tudo traduzia a dimensão da desordem, da incompetência. Coube questionar: se nem mesmo uma mesa para uma entrevista (que deveria ter sido online) eles sabem organizar, como crer que conseguirão enfrentar o que está por vir?
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Mesmo com anúncio de medidas importantes, várias delas de alívio imediato para pequenos e médios empreendedores e para o trabalhador informal, a entrevista mais fragilizou do que fortificou o governo. Bolsonaro, que vira e mexe critica todos por politizar a pandemia, só fez politizá-la, chegando até mesmo a convocar um panelaço em sua defesa. Como se panelas, símbolos do contra, batessem em favor de algo.
Pior: o ministro Mandetta, reconhecido pela competência na proa de combate ao surto, perdeu tamanho e firmeza. Teve, por vezes, de defender o indefensável, contrariando suas próprias recomendações, para atender ao chefe, como no episódio das máscaras.
Na sexta-feira, Bolsonaro quase conseguiu parecer levar tudo a sério. Mas como populista que é, se traiu no final: – “Depois de uma facada não há de ser uma gripezinha que vai me derrubar”. Com uma frase, uma única frase, jogou no lixo todo o árduo trabalho de prevenção, minimizando a gravidade da pandemia que, segundo Mandetta, só será domada a partir de julho com estabilização em setembro.
O presidente que exortou as pessoas a encher a sua bola – “o time está ganhando, vamos fazer justiça, vamos elogiar seu técnico, e seu técnico se chama Jair Bolsonaro” – convocou vaias para si. Oxalá os panelaços destas noites sejam ouvidos por ele e por todos os que em nome do povo desprezam o povo. #ForaPopulismo.
Fonte: Veja On Line
Jornalista, mineira de Belo Horizonte, ex-Rádio Itatiaia, Rádio Inconfidência, sucursais de O Globo e O Estado de S. Paulo em Brasília, Agência Estado em São Paulo. Foi assessora de Imprensa do governador Mario Covas durante toda a sua gestão, de 1995 a 2001. Assina há mais de 10 anos coluna política semanal no Blog do Noblat.
Jornalista, mineira de Belo Horizonte, ex-Rádio Itatiaia, Rádio Inconfidência, sucursais de O Globo e O Estado de S. Paulo em Brasília, Agência Estado em São Paulo. Foi assessora de Imprensa do governador Mario Covas durante toda a sua gestão, de 1995 a 2001. Assina há mais de 10 anos coluna política semanal no Blog do Noblat.
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