17 de abril de 2024
Lucia Sweet

As constelações e a imaginação do homem


Uma das coisas que mais me fascina nesta vida é o homem ter sido capaz de olhar o céu à noite, imaginar uma linha luminosa ligando as estrelas de uma constelação e pelo desenho que aparece identificar o personagem real ou imaginário que um dia ficou sendo o nome daquela constelação: Andrômeda, a princesa sacrificada… Cassiopéia, a rainha vaidosa… Hércules, o invencível… Pégaso, o cavalo voador… a Ursa Maior… a Ursa Menor… ( Meu avô era astrônomo e demarcou fronteiras no Mato Grosso com seu teodolito – além de ter sido campeão brasileiro de xadrez e ter vencido o legendário Capablanca na única partida que jogou com ele).
Morei uns tempos em Búzios numa casa em Manguinhos, simples e linda. Era da Angélique, uma amiga suíça que tinha acabado de se separar. Eu dividia com ela as despesas.
Muitas vezes na lua nova, quando todos saíam para passear na cidade, estendia sobre a grama uma manta tecida à mão que comprei em Marrakesh – sempre espetava um pouco quando eu deitava, mas gostava muito dela porque era bonita – e, em silêncio, observava o esplendor de Vênus, o brilho fulgurante de Sirius, as Plêiades – chamadas no Japão de Subaru e na Pérsia de Soraya –, o Cruzeiro do Sul e, na constelação de Órion, a candura das Três Marias que para os portugueses são os Três Reis Magos, para os ingleses, três rainhas, para os beduínos, três pérolas, para os esquimós, três pescadores perdidos no mar…
As três estrelas, que encontramos facilmente pelo seu brilho e por estarem alinhadas, formam o cinturão da constelação de Órion, O Caçador. A constelação, com duas das estrelas mais brilhantes do céu Betelgeuse e Rigel, tem um total de 81 estrelas e a forma de um quadrilátero com as Três Marias no centro. O nome delas? Mintaka ( Delta Oris), Alnilam (Epsilon Orionis) e Alnitaka (Zeta Orionis). No Livro de Jó, “desatar o cinturão do Órion” (Jó 38:31) é um dos vários atos sobrenaturais que o narrador (presumivelmente falando em nome de Deus) diz que Deus pode fazer, mas Jó não pode.
“Existe uma teoria de que as pirâmides de Gizé imitam o cinto de Orion.
As 3 pirâmides, assim como as 3 estrelas do cinturão da Constelação de Orion, não estão em exata simetria. Isso provaria que não se trata de um erro de cálculo e sim que foram construídas propositalmente deste modo. Além disso, a orientação dessas pirâmides é direcionada para o Rio Nilo, assim como a orientação da constelação está voltada para a Via-Láctea.”
“A antiga cidade de Teotihuacan, localizada no México, é outra maravilha da construção antiga que está ligada a Orion. De acordo com a teoria, assim como as pirâmides de Gizé, os monumentos dessa cidade apontam diretamente para as três estrelas do cinto de Órion.”
Imersa na luminosidade diáfana dos astros rutilantes da Via Láctea, que se debruça sobre o céu do Brasil, contemplava cometas e luzes misteriosas que passavam diante de mim… Nosso céu tem mais estrelas. No hemisfério norte o Cosmo parece um vácuo vasto e frio, escuro e interminável. Hoje, as luzes da cidade escondem as sutilezas e os encantos do céu. Que pena…

Lucia Sweet

Jornalista, fotógrafa e tradutora.

Jornalista, fotógrafa e tradutora.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *