10 de setembro de 2025
Ligia Cruz

Qual é o seu lugar no jogo?

Todo mundo tem um ideal de paraíso na terra. Um lugar onde seja possível encaixar a si mesmo, com todas as assimetrias, medos e apreensões. É como aquele sapato de que tanto se gosta e mesmo apertando aquele ossinho mais saliente, se insiste em usar.

Até os loucos acreditam nisso. É possível encontrar uma lógica em que o próprio inferno seja acolhedor. Em certa medida todos temos esse lugar onde são gestados os infortúnios, rancores e desalinhos da alma.

Há aquele que faz e vive tudo isso em silêncio, para que o próprio ego não o escute e o traia. Porém, o vaidoso, que não cabe em si de tanta formosura e razão, precisa de plateia para aplaudi-lo.

Para os que estão no meio da turba, o psicótico universo de identificação azeita as engrenagens em busca do “perfect match”. E encontra os tais pontos de referência nas entranhas mais profundas de si mesmo e dos outros.

Dá para imaginar como se formam os elos entre os adoradores do prânico Buda e os do capeta mais contorcido e cuspidor de blasfêmias. Como aquelas gárgulas suspensas nas bordas dos telhados medievais. Assustam só de olhar.

Mas é possível que em dado momento se aliem por pontos comuns.

Como ser mais tenebroso e cruel entre tantos iguais no mundo das sombras e nas bordas da sociedade? É nesse pensamento que começam os descaminhos e se constroem as lendas do bem e do mal. Os que oprimem e os que os combatem.

Na verdade um precisa do outro para se opor, estabelecer a discórdia. Senão um não seria o um e o outro, o outro. E os exércitos dos extremos não teriam porque lutar. Até os gêmeos se opõem e constroem diferenças.

Entre os maiores confrontos da humanidade, não necessariamente do bem contra o mal mas de motivos específicos, grupos se enfrentaram até a ruína ou a vitória.

Civilizações inteiras desapareceram no curso da história, na tentativa de defender um comando único, um modo de vida, crenças ou um deus. Se perpetraram no poder por séculos ou milênios, mas caíram quando se ativaram as faíscas da beligerância. Não sem que nos intervalos fossem sufocadas insurgências, rebeliões até chegar a tempos de paz.

A uniformidade é perfeita demais para abrigar os inconformados, os que saem fora do padrão por tantas razões.

Hititas, persas, gregos, mongóis, romanos, eslavos, celtas, núbios, pretos, brancos, miscigenados vários foram vítimas dos mesmos tipos de algozes e lutaram pela dominação ou liberdade. O poder insano e a soberba de um sempre contra todos os demais.

É a monotonia que incendeia as mentes e abre os flancos das discórdias. E é a ousadia que diferencia um dos demais. Que gera líderes capazes de controlar mentes para brigar pelos seus ideais.

Os manipuladores sabem fazer boas leituras de perfis psicológicos desde que o mundo social foi criado. Sabem a quem sufocar até pedirem clemência para respirar.

Alguma similaridade disso tudo com nossas vidas nas empresas, nas cidades, na política nacional? As histórias se repetem com diferentes sujeitos e épocas. O nazismo não seria o que foi, nem o fascismo, nem qualquer ditadura de esquerda ou direita, sem todos esses componentes.

Submeter o indivíduo, achatá-lo de tal modo que não possa respirar, para não oxigenar o próprio sentido de liberdade, é o que põe um sujeito adiante do outro. Um enredo monocórdio em espiral que nunca terá fim.

A fome e a insanidade temperam a calda quente da sociedade manipulável. Mas por um tempo. É da natureza humana rebelar-se, buscar a tangente entre as possibilidades.

Transgredir é o verbo dos corajosos, dos que se opõem, independente de estarem do lado certo ou errado.

Os livros foram escritos com exemplos assim. São tantos os personagens até para esquecer os nomes. Biografias esculpidas nas decisões, emoções e desafios de seus tempos.

Os personagens de ontem e de hoje se parecem em certa medida em suas ambições, salvaguardadas as circunstâncias de suas épocas e a obsolescência de suas ferramentas.

O caráter é o único que não sofre a ação do tempo, mas molda o ser e o coloca de frente para as adversidades.

Em qualquer época o homem sempre foi e será instigado a combater por seus princípios e interesses.

Todos sentem medo, euforia e tem arroubos de valentia. Alguns levam tudo a sério demais. Outros se apassivam à espera da sorte que não vem.

Esse mundo não é para os fracos e ficar no meio sem saber onde se está, não é bom.

No arremate desse enredo de opostos, nomes e mais nomes desfilaram pela mente, encaixando-se em intrincados esquemas mentais. Do bem contra o mal. Alguns para amar, outros para odiar.

Resta saber de que lado você está, como observa o cenário e toma decisões. Se age rápido assumindo a dianteira ou espera que alguém vá à frente para seguir. Seja qual for, de todo modo, a vida vai te cobrar uma posição. A necessidade urge.

O mundo está acelerado demais, as peças estão caindo no jogo e esperar muito pode ser irremediavelmente tarde para escolher o amanhã que se quer. É melhor ser protagonista do que alguém perdido em meio à multidão.

Ligia Maria Cruz

Jornalista, editora e assessora de imprensa. Especializada em transporte, logística e administração de crises na comunicação.

Jornalista, editora e assessora de imprensa. Especializada em transporte, logística e administração de crises na comunicação.

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