Moraes Moreira me deixou uma lembrança muito especial. Foi um Carnaval que passei em Recife há algumas décadas, eu e Pedro Bartholomeu, Barthô, hospedados na casa de Tereza Barbosa Lins e Mario Fernando Lins. Momentos inesquecíveis junto de amigos-irmãos a quem amarei para sempre, acima de qualquer coisa.

Nas festas que estavam espalhadas por toda a cidade, e durante todos os dias, pudemos experimentar diferentes versões dos festejos.

As ladeiras da vizinha Olinda, os bonecos, os vendedores de iguarias, muita água de coco, um quebra queixo aqui, uma tapioca doce ali, só faltava rolar, ribanceira abaixo, com tanta coisa de se comer. Mas meio tenso para quem prefere mais um papo reservado à sombra, sem aquele sol tórrido de esquentar a cachola. Mas e o Moraes nisso tudo?

Num dos dias o programa era visitar o Recife antigo e curtir seus bares, com suas tintas e sabores. Mas estava muito cheio.

As pessoas se acotovelavam e não sobrava uma quina de mesa sequer. Desistimos dali em busca de algo mais tranquilo.

Foi quando ouvimos o cantor ao longe. Eu não sabia se o que eu ouvia vinha de alguma caixa de som ou o quê. Era o som de um frevo mais pacato, se é que isso existe, e logo depois uma música mais suave de embalar as paixões de Carnaval.

Não era nenhuma caixa de som, era o próprio ocupando o palco de uma de tantas praças, como se estivesse na varanda de sua casa. Sem esquemas, seguranças e parafernálias mais.

Era apenas ele tocando seu violão e cantando, enquanto casais dançavam abraçadinhos. Não me lembro da música, mas de como ali estava tranquilo.

Em meio à fervura carnavalesca, me senti como em uma ilha de sossego. As pessoas cantavam junto as músicas como em um coro ensaiado.

Não sei o que sente um artista ao ser prestigiado e acompanhado em uníssono por um público fiel.

Mas me lembro de sentir um aconchego, um momento único, desses que a gente não se esquece e leva para a eternidade.

“Não se esqueça de mim, não desapareça! Quando a chuva começa..”.

Obrigada pelo show Moraes Moreira.