3 de outubro de 2024
Colunistas Ligia Cruz

Mundo na web

Imagem: Arquivo Google – Eduardo Lima Cria

Para que serve uma mídia social como esta? Para compartilhar pensamentos, conhecimentos, afinidades, para açucarar o dia, para rir de piadas bobas, para seguir pessoas interessantes e inteligentes, para dizer bom dia, boa tarde e boa noite, para ver quem responde; enfim para sair da casca, se envolver e refletir sobre as coisas.

Nesse mundo, nem tudo acontece no seu tempo ou no do outro. É como se, na vida cotidiana, você dobrasse uma esquina e se deparasse com uma fisionomia conhecida, mas não se lembra quem é. Vem a expectativa de um sorriso, um constrangimento, um rechaço e até aquela clássica confissão: “te conheço não sei de onde!”. Ficam os dois se olhando até um dizer “você está enganado” ou “ah! Já sei você é amiga do aplicativo tal”, um sorriso ou aquele ar de surpresa: “nossa você é melhor do que eu pensava” ou ainda “nada a ver”.

Você a cumprimenta, se alegra ou dá aquele sorrisinho de quem está com pressa e, em segundos, você já a vê pelas costas desaparecendo na rua. É a vida te tirando da zona de conforto para te ensinar mais sobre generosidade e respeito ao outro. Algo tão simples e importante nas relações pessoais, virtuais ou não. E todo mundo vive isso nesse universo, se afinando, desafinando, alfinetando, adorando, admirando e se decepcionando também.

Aqui, curtir é gostar, se entristecer, odiar e se surpreender. Apenas figurantes e coadjuvantes que fazem desse mundo digital um sucesso de nosso tempo, para Marc Zuckerberg e seus parceiros. Mas para toda a população de usuários também. Capitularam o antigo orkut e enriquecem às custas de nossas emoções para vender a nós mesmos o que somos. Louco isso não?

Assim nos tornamos “unha e carne”, cúmplices, oponentes, solidários a pessoas que jamais vimos, mas que se tornaram referência de admiração nesta seara virtual. Somos todos escritores, trabalhadores gratuitos de um sistema bilionário, que contabiliza moedas a cada curtida nossa. Tudo na velocidade do clique.

Gente aqui entra e sai da nossa lista, por diferentes razões, como na vida real, mas de uma forma menos dramática. De repente você sente falta de habituais amigos e vai lá na sua página para ver se está tudo bem. É uma visita sem consentimento dessas que a gente faz para dizer oi. Todo mundo dá aquela espiada básica, faz parte do comportamento humano nesse meio. Observar, stalkear, tanto faz.

Diferente da vida real, se alguém passa dos limites você deleta ou bloqueia para sempre. E ainda blasfema diante de um público cuja maioria não entende. Muito mais fácil e prático. Até a parentela entra na dança.

De outro ponto de vista, a rede social pode ser uma forma de conhecer mais amiúde alguém que na vida real era só mais um. Afinal, quando se leem as ideias se conhecem as pessoas. Se fortalecem ou se desfazem laços. Do lado positivo, há encontros, reencontros e casamentos. Gente que buscava irmão, pai, parente desaparecido e teve êxito. Do lado oposto fraturas fatais, dessas que não vão colar jamais.

O fato indiscutível é que tão cedo essa forma de relacionamento não será superada. Veio para ficar ainda por muito tempo. Seja para lucrar ou não. Todo mundo é protagonista e espectador.

Ligia Maria Cruz

Jornalista, editora e assessora de imprensa. Especializada em transporte, logística e administração de crises na comunicação.

Jornalista, editora e assessora de imprensa. Especializada em transporte, logística e administração de crises na comunicação.

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