4 de maio de 2024
Colunistas Ligia Cruz

Impagável flatulento

Essa turma do petê é mesmo especializada em ventos. Uma estoca, o outro solta.

E daí né? Tão natural. Todo mundo solta pum. O presidente, sua consorte, a Dilma, o Dino (ai que medo!) — até o papa e todo o gado do planeta! Pum é tão pueril não é? Menos para quem está perto.

As casas de pobres, que só podem ter só uma televisão para não ostentar (isso deve estar na última edição da cartilha digital comunista), agora deveriam incorporar um espaço específico para fugir das visitas e soltar os flatos sozinho. O espaço do alívio. Mas o banheiro não é o local apropriado para isso?

Sinceramente, nunca houve iniciativa tão nobre vinda de um presidente da república, em todos os tempos. Nenhum, desde 1889, foi tão criterioso e profundo ao eleger as necessidades de seus comandados. Tamanha preocupação só poderia vir mesmo de um homem virtuoso e preocupado com os narizes alheios. Muito digno. Que seja feito então.

Nem mesmo na corte francesa dos “Luízes” houve uma preocupação tão sincera, para com a depleção intestinal dos cidadãos. Entre perucas, punhos rendados, espartilhos estranguladores, todo mundo liberava à vontade.

O presidente tem razão. Ninguém merece mesmo partilhar de um momento tão íntimo e revelador das atividades intestinais de outrem. Isso é fato — ou flato. Deveria ser compreensível mas não é. Se perguntada, a maioria diria: “dê minha parte em reais que eu decido onde solto meus traques”.

Um tema um tanto escatológico e constrangedor para a maioria, não deveria ser tratado com tanta intimidade. Mas com a sinceridade mais genuína, o presidente deu pitaco até nisso. Até então, só mesmo um médico podia falar com toda naturalidade com seu paciente e perguntar se ele anda soltando pum normalmente. Fora essa situação tão direta, só mesmo a mãe para expulsar da sala o moleque pestilento transgressor.

Para vivenciar a situação da urbe, intimamente, o magnífico senhor deveria pegar o metrô às 18h00, no horário do rush, na estação Sé, em São Paulo, para ver como a galera capricha, onde não há espaço nem para um pensamento sequer. Pior que gás pimenta, porque mata toda a chance dos demais de respirarem livremente. Aí é um tal de empurra e olhares feios para tentar fugir, sem sucesso.

Mas olhando pelo lado bom das excrescências gasosas, a preocupação do nobre senhor ganhou certo refino depois que ficou bilionário. Etiqueta digna de um genuíno cavalheiro, até o segundo parágrafo. Daí em diante solte o boi para a boiada passar e seguir para o pasto.

O povo pobre mesmo, de marré deci, que não tem tempo para fru-fru quer mais é um espaço nas casas para colocar mais um berço e camas para crianças, uma sala que não seja cozinha e quarto ao mesmo tempo e, quem sabe, um puxadinho para poder espiar as estrelas. Mas que não tenha que pagar mais por isso, porque as ideias mirabolantes não saem de graça.

A esquerda não é generosa, nunca foi em tempo algum e jamais será. É só visitar a história e conhecer a biografia de seus ícones. Para um comunista raiz se fartar é preciso gente escravizada que não discuta, só obedeça e envelheça pedindo saneamento básico e água encanada.

Deixando a troça de lado e as verdades também, o eleitor brasileiro quer ser respeitado e não ser feito de besta com essa conversinha mole, como têm sido com as decisões sendo aprovadas sem a sua participação, nem de seus representantes legais eleitos. A palavra democracia caiu em desuso de uns tempos para cá.

Se ao menos esse direito for respeitado, teremos “manés” mais felizes, que não “amolem” os déspotas da república e que possam escolher os locais onde soltar flatos livremente.

Ligia Maria Cruz

Jornalista, editora e assessora de imprensa. Especializada em transporte, logística e administração de crises na comunicação.

Jornalista, editora e assessora de imprensa. Especializada em transporte, logística e administração de crises na comunicação.

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