2 de maio de 2024
Colunistas Ligia Cruz

“Faz o Elon”

Bastou um movimento e o brasileiro reagiu. E Elon Musk, o cara esquisito dos satélites, caiu nas graças do povo. Mas, isso é bom e ruim e explico porquê.

Bom porque o mundo precisava saber das atrocidades que estão sendo cometidas no país, por uma ordem jurídica tirânica e bandida, que se apoderou do mando do estado brasileiro e do destino das pessoas. Como o magnata é alvo da mídia, até quando pisca para passarinho, o Brasil saiu do ostracismo para as primeiras páginas. Agora todo mundo sabe o que se passa aqui.

Ruim porque o fato em si denota que o brasileiro ainda precisa da tutela personificada em um sujeito de poder para se expressar. Do tipo: vá na frente que nós seguimos atrás.

Bolsonaro tem essa liderança, que outrora foi de Lula – quando ele mentia melhor e fazia o gênero “coitadão que deu certo e virou patrão”. Mas o ex-presidente falhou em sua estratégia e baixou a cabeça quando não deveria. Bateu boca com a imprensa militante o tempo todo, desnecessariamente, e naquele 7 de setembro de 2021, na Paulista, impulsionado pela marcante presença popular, se inflamou, chamou Moraes de canalha e disse que não cumpriria as determinações do STF. Quando voltou à Brasília, recuou. Ficou parecendo que blefou e voltou atrás.

Erros que um líder não pode cometer.

Não basta a indignação para robustecer uma ação, se esta não estiver apoiada em uma estratégia risível e bem arquitetada. Com isso perdeu o moral diante da tropa e assanhou os militares de galardão contra si.

Como em tudo, há lados opostos. O bom disso foi a revelação dos traidores dentro das Forças Armadas. Hoje sabemos quem são. E quem subverte as leis e as regras sabe que há consequências. E elas virão, mais dia, menos dia.

Os grandes líderes estudam os perfis sociais e sabem o que esperar de cada um deles. Essa é a lição dos grandes generais da história. Entre perder e ganhar há profundas reflexões.

O lado “Darth Vader” da força, como Musk batizou Moraes, foi selecionado e instruído por quem lhe garante, obviamente, e não é o presidente, nem o vice, mas porque tem o perfil de ditador. Leis e livros que escreveu não importam mais porque ele encarnou o papel de todo poderoso e passou a acreditar nisso.

Para ele, qualquer reação, fora dos padrões esperados, deve ser rechaçada com mão de ferro.

É o que justifica as prisões arbitrárias, a asfixia financeira de jornalistas e políticos e o silêncio sepulcral dos que foram cooptados e comprados pelo poder. Não esperem nada deles porque, além de tudo, estão amordaçados pelas falta de escrúpulos e covardia.

Por isso, a reação veio de fora.

O “X” da questão foi a tromba d’água que despencou sobre o staff da ditadura que a civilização jamais viu. Para Musk peitar um juiz brasileiro não é nada, porque ele está amparado pelas leis de liberdades civis de seu país, que não se submete a nenhuma outra.

Quando ele abriu a confidencialidade das mensagens de sua rede social, o X (ex Twitter), ficou chocado com o plano macabro do golpe contra as liberdades democráticas do Brasil e toda a trama engendrada. Claro que ele não está de brincadeira e nem vai se curvar diante de qualquer opressor, seja do Brasil ou de outro país. Não tem nada a perder. Ao contrário, cada vez que ele abre a boca ganha milhões de dólares.

Mas o brasileiro se sentiu de alma lavada diante das atitudes de seu mais novo herói, Elon Musk. E ele dobra a aposta a cada ameaça do seu oponente. Disse que pode dar internet, escola e moradias gratuitas aos brasileiros. E pode mesmo. Pinuts para ele.

O fato é que Elon Musk pôs a nu as entranhas do projeto de derrubada da democracia brasileira, arquitetado com requintes de crueldade. É o que dá escolher o lado obscuro da força e se meter com o cara errado.

O “alienígena”, como a trupe palaciana decadente de Brasília diz, não vai se dobrar. O homem mais rico do mundo não precisa do dinheiro sujo dos políticos brasileiros. E deve estar rindo muito de vê-los felizes com as migalhas que o Open Society lhes dá em reais.

Nos embates de poder não há tolos. Há interesses bastante sólidos de como se pode ganhar muito mais. Musk sabe disso. E se ele embirrar, torçam para que não, aí sim vamos ter um grande apagão.

Estamos entre a cruz e a caldeirinha. Façamos “o Elon”.

Ligia Maria Cruz

Jornalista, editora e assessora de imprensa. Especializada em transporte, logística e administração de crises na comunicação.

Jornalista, editora e assessora de imprensa. Especializada em transporte, logística e administração de crises na comunicação.

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