26 de abril de 2024
Colunistas Ligia Cruz

Cuba libre


O povo cubano está farto de ditadores. O aumento da pandemia, a crise sanitária, a falta de comida e de itens de necessidade básica estão sacudindo a ilha.

Cuba está mergulhada num caos socioeconômico que, desta vez, não dá para esconder. A população resolveu gritar e exigir liberdade. A felicidade insular cantada desde os anos 40 no Buena Vista Social Club ficou no passado e nos cedês.

O atual ditador, Miguel Dias Canel, nomeado por Raul Castro, não está conseguindo segurar o descontentamento do povo, que tem saído às ruas pedindo a queda do regime. A demanda é pela liberdade e democracia, mais do que todo o resto.

Ainda que pelo mundo haja defensores míopes do castrismo, em especial no Brasil, onde partidos de esquerda tratam Fidel Castro e Che Guevara como figuras sagradas, os anos de “la revolución” estão expondo as vísceras sociais.

E nem tudo é pelo legado de luta dos irmãos Castro, que lideraram a revolução pela derrubada do ditador Fulgencio Batista, em 1959. Mas porque o país trocou seis por meia-dúzia, desde os anos 1930. Deixaram de cumprir o básico: “libertad al pueblo”.

Os Castro e seus guerrilheiros fizeram o ditador golpista fugir com o rabo entre as pernas depois deste dominar a política do país por quase 30 anos. Só que o heroísmo foi até a página dois. Gostaram tanto da coisa, que a partir daí formou-se nova ditadura com outras cores e a ideologia comunista.

O que será que acontece em Cuba, que todos os que chegam ao poder querem assenhorar-se de tudo e governar com pulso de ferro?

Fulgencio Batista, o capitalista sujo e traidor de Cuba, como diz a história, foi o personagem original da ditadura no país de fato. O resto é cópia, aprimorada e esticada.

Batista era militar e chegou ao poder através do movimento conhecido como “A revolta dos sargentos”, que derrubou o regime autoritário de Gerardo Machado, em 1933. Nomeou a si mesmo como chefe das Forças Armadas, com a patente de coronel, e criou “la pentarquía”, formada por cinco membros para se revezarem no governo, que ele mantinha sob seu controle. Isso até 1940 quando foi eleito presidente, através de uma coligação partidária, entre democratas e marxistas-leninistas.

Batista era um populista, que se mantinha sob os holofotes para o bem e para o mal. Durante os primeiros quatro anos de governo instalou a constituição, fez importantes reformas sociais e incentivou o sindicalismo. Mas concentrou os poderes, interferindo em todas as decisões.

O coronel cubano era mais ardiloso do que se supunha. Terminado o mandato, mudou-se para a Flórida e deixou para trás o país numa situação econômica catastrófica, tamanho foram os sucessivos roubos ao tesouro do país. Tudo parte de seu plano para retornar ao poder.

Em 1952, voltou para candidatar-se, mas com a credibilidade em baixa devido ao caos econômico que deixou tinha poucas chances. A saída foi liderar um golpe militar.

Após instalado na base da força, revogou as liberdades políticas, o direito à greve, impôs a pena de morte e instituiu para si um salário quase cinco vezes maior ao que tinha. Não bastasse tudo isso, criou um poder uníssono com os latifundiários, aliou-se à máfia americana para introduzir drogas, jogos e rede de prostituição no país.

Por todos esses crimes, Fulgencio deu asas à Revolução Cubana e foi deposto em 1959. Portanto, 26 anos no poder. Pouco diante dos 62 que os irmãos Castro estão lá, com políticas retrógradas e equivocadas. Ninguém vai jogar mais um tostão lá. Treinar guerrilheiros para difundir o comunismo na América Latina, não cabe mais no atual momento histórico.

As gerações dos anos 1950 e 1960 se lembram bem da revolução liderada por Fidel Castro, Raul e Che Guevara, em Cuba. Foram interrompidas as relações diplomáticas e comerciais com os Estados Unidos e as empresas de bandeira americana foram estatizadas. O antiamericanismo cubano acendeu ódios e paixões. A Ilha conseguiu expulsar os amigos do Batista e todos os que não representavam suas ideologias.

Esse foi um capítulo adicional à Guerra Fria, que opôs de um lado o presidente americano Johnn Kennedy e Nikita Krushchev, líder do partido comunista soviético, sucessor de Josef Stalin. Cuba está logo ali, no calcanhar de Aquiles. Mas Fidel morreu sem ver a terceira Guerra Mundial.

Todas essas figuras icônicas e controversas da história latino-americana, foram transformadas em mitos e símbolos da luta contra a opressão, mas perderam-se entre a auto-idolatria e o ideal libertário do seu povo. Aliás, sempre esqueceram do povo.

Esse ranço contra os americanos continua como um mantra, com a acusação de bloqueio econômico. Principalmente após 1992, quando a União Soviética se desfez e Cuba ficou órfã de patrocínio. Com o enfraquecimento do apoio da Venezuela também, por conta de sua própria crise, a dependência do país da monocultura da cana e da indústria do turismo, que estancou por causa do covid, o oxigênio do país acabou.

Os americanos não compram mais cana de Cuba, mas não é verdade que lidera o bloqueio contra o país. O país continua enviando comida e medicamentos. A própria constituição dos Estados Unidos proíbe interromper ajuda humanitária, mesmo para adversários de guerra. Já, fazer negócios são outros quinhentos. O que há é um embargo do próprio país.

Os ditadores cubanos foram mal acostumados às facilidades proporcionadas pela Guerra Fria, que alimentou suas burras e o seu discurso durante todos esses anos.

Países também pequenos, como Singapura, saíram da extrema pobreza porque se abriram. Cuba precisa deixar de copiar regimes fechados e de exceção. Sem isso vai continuar figurando no elenco de pobreza, em que pese sua excelência em algumas áreas médicas.

Quem vai enviar empresas para investir lá seriamente? Ninguém confia, nem mesmo o povo, que está farto de populismo, pobreza e opressão. Por isso e por tudo isso o cubano pede o fim da ditadura.

Ligia Maria Cruz

Jornalista, editora e assessora de imprensa. Especializada em transporte, logística e administração de crises na comunicação.

Jornalista, editora e assessora de imprensa. Especializada em transporte, logística e administração de crises na comunicação.

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