O país tem assistido nesses dias um duelo de mediocridades entre o ministro da saúde, Eduardo Pazuello, e João Dória, governador de São Paulo. Falta ética, sobra desrespeito de parte a parte. Um porque tem um ego estratosférico e o outro porque não demonstra sensibilidade, classe e postura como servidor público top que é.
Por trás disso tudo, a disputa da próxima batalha eleitoral. Isso prova que não importa o quanto esteja sofrendo o povo nesse dramático embate com o maldito vírus, que está tombando gente no mundo todo, mas quem vai levar o pleito em 2022. O próximo ano será apenas uma lacuna na agenda política nacional. E a convid-19 será apenas o samba enredo para quem sobrar na arquibancada.
Não dá para dizer que o discurso recorrente sobre a saúde pública é artefato retórico de um e outro. Jair Bolsonaro sabe o que está fazendo e peca ao desdenhar o potencial perigo dessa versão de gripe, mais mortal que a anterior Sars. Dória, porque é governador do mais populoso e rico estado do país, quer o protagonismo nessa guerra de perdigoto. É bate-estaca reverberando, dia após dia, que já começou a enfastiar. E a mídia, por sua vez, cobrindo até mesmo os espirros.
O pior desse espetáculo jocoso é a falta de informação, que deveria embasar o público com explicações, serviços e, porque não, dados científicos. Por exemplo, entre tantas vacinas surgindo aqui e ali, quais as diferenças entre elas, quando e como estarão disponíveis para uso, pode-se tomar mais de uma?
Seja qual for a primeira a ser aplicada, quais são as prováveis reações adversas, quantas doses serão necessárias para a imunização, se será gratuita ou paga pela população entre outras dúvidas. Informações básicas que precisam ser de conhecimento público, destrinchadas em detalhes para quem até o momento está sob tempestade de areia no meio do deserto.
Na contramão, a população está sendo arrastada para essa queda-de-braço ridícula, vendo-se obrigada a fazer a escolha baseada em futrica, boato e simpatia.
O mais patético foi ver, nessa semana, a cobertura jornalística, aqui no Brasil, da primeira pessoa a tomar a vacina da Pfizer, no Reino Unido. Parecia narração de chegada de carro campeão em GP da Fórmula 1.
Enquanto Pazuello continua com seu argumento pífio sobre a aprovação das vacinas pelo órgão regulador braseiro, a Anvisa, o governador paulista ameaça atropelar, anunciando o início da vacinação para as próximas semanas. Parece que a única concordância é a de pular fases de testes, pegando carona na aprovação das vacinas por outros países.
Nesse barulho todo, resta saber se cada um terá que levar sua própria seringa para tomar vacina, seja ela qual for.
Jornalista, editora e assessora de imprensa. Especializada em transporte, logística e administração de crises na comunicação.