Todo dia era Dia de Índio.
Aí chegou uma turma trocando tudo por espelho e uns badulaques.
Uns e outros tentaram aportar pelas mesmas bandas. Não se deram muito bem. Mas alguns deles, franceses e holandeses, deram um jeitinho de ficar lá pelo Nordeste, se espelhando nos outros.
Depois, chegaram outros, da África… vendidos e comprados.
Chegaram escravos. Até que foram feitos libertos.
Vieram mais… tempos depois, da Europa, do Oriente Médio, da Ásia… todos querendo um espelho para recuperar a imagem destruída pela guerra, pela miséria,
recomeçar a vida…
Era um povo só em muitas raças e cores e crenças sob a cultura judaico cristã. Povo feliz, multicultural.
Sem peste, sem fome, sem guerra.
Mas devem ter enterrado uma cabeça de burro em algum lugar, diria o pessoal da roça…
Apareceram uns investidores e afastaram o poder do povo. Criaram Brasília, acabaram com trens, construíram estradas, pedágios e divisões entre uns e outros.
A propaganda ganhou anunciante vendendo outra imagem no espelho.
Não era a baiana, o gaúcho, a praia carioca, os negócios e a noite paulistana, as cidades históricas, a boa comida e o café das Minas Gerais, o Carnaval de Olinda, as festas tradicionais do Pará, o Padim Padre Cícero do Ceará, e a Amazônia intacta onde se marcava encontro antes ou depois da chuva na região da grande floresta tropical.
E começou tudo de novo… mas o espelho era enfeitiçado…
Espelho, espelho me, existe alguém mais rico do que eu?
E assim começaram as negociatas, a vender a alma ao diabo, a enganar e trapacear. Aumentar a miséria para ganhar em cima. E pisar em todos pra ficar por cima.
E os índios que restaram viraram peças figurativas para o discurso dos que querem o controle “sustentável” de toda a Humanidade.
No “Dia do Índio”, 19 de Abril, cá estamos nós, indiada, correndo um sério risco de perder nossa terra e a nossa própria identidade neste país de todas as tribos.
Que todos os dias sejam nossos, plenos de Liberdade.
Jornalista internacional, diretora de TV, atualmente atuando no exterior.