Eu atravesso um deserto a pé onde só há terras calcinadas até onde minha vista alcança! Eu tenho sede, eu tenho fome – e me sinto mais só do que nunca estive em minha vida. Eu estou de joelhos: minha cabeça se abaixa e sinto minhas lágrimas escorrerem pelo meu rosto. Eu estou entregue. Sim, entregue.
É quando sinto tua mão enluvada em aço tocar meu rosto. Erguer meu queixo. Meus ombros. Meu olhar. E eu mal consigo conter o coração no peito e minhas lágrimas voltam, diante de tua imagem e presença.
Pois o que vejo, ao levantar os olhos para o alto, é a Senhora, em cota de malha e espada à cinta. Sua armadura é de ouro sólido, e seu manto, azul, céu, com diamantes. Ela segura um elmo de prata pura à cintura, e seus cabelos são mares profundos e vivos.
Um par de asas de águia dourada desdobra-se às suas costas.
Ela me olha e seu olhar, ao mesmo tempo altivo e determinado e sereno, dissipa todo o medo e toda a treva.
Há um dragão a seus pés – derrotado.
Ela me cobre com o seu manto – e minhas lágrimas tornam-se pontas de setas para o seu arco. Sem dizer uma só palavra, ela me aponta uma espada incrustada em rocha sólida, com cabo de ágata vermelha e lâmina fria e azul.
Eu sei o que ela espera, eu adivinho sua ordem silenciosa e desincrusto a espada, e ela me indica o horizonte, de onde escuto o clamor da luta.
Eu não sinto mais temor.
Porque ela é a doce pomba, a virgem compadecida, mas é também a líder, a comandante em chefe, a Imperatriz conquistadora, e vê-la assim, o vento nos cabelos e o tinir de suas armas, terrível como um exército em batalha, me faz compreender que não preciso mais ter medo.
Ela é a Rainha Guerreira. A Mãe do Poder.
E eu a sigo – e, como tal, não posso ser derrotado.
Professor e historiador como profissão – mas um cara que escreve com (o) paixão.