23 de maio de 2025
Joseph Agamol

O Brasil é meu ex-amor

– oi… e aí, como ‘cê tá?

Olha, a gente precisa mesmo conversar… então, sabe o que é?

Você é uma maravilha, mas não dá mais, viu? O problema não é você – o problema sou eu! Você merece alguém melhor do que eu!

Pronto, é isso!

Atire a primeira pedra quem nunca quis terminar um relacionamento e, sem coragem para mandar a real – o sentimento acabou – usou dessa fórmula canhestra e desonesta para tentar evitar que a outra parte sofresse.

É mais ou menos assim que me sinto em relação ao Brasil.

A cada traulitada simbólica, a cada nova falcatrua, a cada ato que comprova que falhamos no processo de criar uma nação no lado de baixo do Equador, eu me sinto desse jeito: o amor acabou!

Pode ser mais uma ramificação corrupta encontrada, mais um político descoberto com a boca na botija, mais um professor ignorante – no sentido lato da palavra – mais um militante tacanho, mais um artista/intelectual que não faz arte nem intelecta, mais um jornalista desinformado, mais um religioso que desconhece Deus, enfim, o amor que nutria por esse país foi sucumbindo diante de tantos golpes.

Mais ou menos como relações entre gentes de carne e osso, onde brigas e traições vão solapando o sentimento até que – voilà! – ele termina.

Quando eu não sabia nada, que nem o Jon Snow, eu ficava intrigado com isso – com essa instantaneidade do fim de algo que parecia que duraria para sempre. Esse acordar de manhã e perguntar: ué, cadê o amor?

Depois, um pouco menos bobo, eu descobri que amor nenhum termina de repente.

O amor vai esmorecendo aos cadinhos, a cada dia, vai se economizando no deslumbre.

O que acontece de repente é a percepção de que esmaeceu. Descorou. Perdeu o tom, o lume, a cor.

Hoje eu acordei de manhã e percebi que não amo mais o Brasil.

Ele merece alguém melhor do que eu.

Joseph Agamol

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

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Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

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