Tenho pensado nele, no antigo compositor baiano, do qual falava Belchior naquela canção, “Apenas um Rapaz Latino Americano”.
E ontem o antigo compositor baiano fez mais uma aparição.
Defendendo a indicação de um documentário ao Oscar.
Um documentário que, apesar de recente, já nasceu velho em seu proselitismo de ideias antigas, tão antigas quanto o compositor baiano.
O que me fez pensar nele de novo.
Fina estampa.
Seus cabelos brancos na fronte do artista (e não “na fonte” como tanta gente canta, assim como não é “trocando de biquíni sem parar” nem “abajur cor de carmim”).
Sua face emaciada como um eremita dos tempos d’antanho, sua irrefrável compulsão a opinar desenfreadamente sobre tudo, desde a fraca campanha do Bahêa e do Fluzim no Brasileirão até o bóson de Higgs.
Vai passar.
Tenho a impressão de que o antigo compositor baiano e seus pares, igualmente antigos compositores, não sabem bem o que fazer com a liberdade de que desfrutam.
E, sendo assim, disparam a falar contra tudo e todos, como Pelés verbalmente anabolizados, como Dom Quixote em busca de um moinho, QUALQUER UM, o Bolseiro, a sociedade reagindo contra a “arte” lacradora…
Tenho a impressão de que o antigo compositor baiano sente falta de algo que justifique sua existência.
Pode parecer incrível, mas caras como esses antigos compositores, baianos ou cariocas, já foram significativos, tanto na música quanto na atuação política.
Hoje são cadáveres insepultos do regime militar: tanto lutaram contra o mesmo – e não, ao contrário do que acreditam tantas pessoas, pela democracia – que ficaram aprisionados nos anos 60 e 70.
Sofreram um dos piores castigos que um artista pode receber: tornaram-se datados, anacrônicos, ultrapassados como as calças boca de sino e as golas rolê.
Eclipses ocultos.
Sua ideologia, assim como sua música, teve o mesmo fim: defensores de Castros, Maduros e Inácios, tudo que dizem e fazem é relevante apenas para as claques de zumbis que os aplaudem, os acólitos de sua mediocridade atual, os saudosos dos tempos que não voltam mais.
Podres poderes.
A cada vez que vejo o rosto do antigo compositor baiano, vejo em seus olhos a nostalgia da relevância que nunca mais terá.
Bruta flor.
Tenho a impressão de que o antigo compositor baiano, no fundo, no fundo, sente uma falta imensa e uma nostalgia profunda de uma ditadura.
Mais do que isso.
Tenho a impressão de que o antigo compositor baiano e seus pares, corações vagabundos, sentem uma gigantesca alegria alegria e um infinito desejo e fetiche por ditaduras.
Perderam o trem das cores da História, meus caros amigos.
O que será, que será.
Professor e historiador como profissão – mas um cara que escreve com (o) paixão.
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