Foto: Joseph Agamol
Tempo que não fazia isso, sabiam?
Sentei no chão, no tapete, peguei um lápis e papel, o violão.
Um café.
Lógico.
Testei acordes e sons, escalas e solfejos.
Usei palhetas. Dedos.
Voz.
Entreteci a letra com as filigranas da sonoridade que urdi.
Pintei um quadro em minha mente, entre sóis e sis.
E fiquei matutando no tanto de coisas de significância e relevo que prescindem cemporcentamente de tecnologias e que abandonamos aos cadinhos, em favor de atos que não acrescentam luz ao nosso dia.
Hoje eu parei para compor uma canção.
Como podia ter parado para, lá sei eu, compor um bolo?
Assar um pão?
Lançar as fundações de uma casa.
De uma criança.
Oferecer a mão,
O peito aberto,
Um momento de si
Consertar o que carecia de cuidados,
Cuidar, em si
O ombro por perto.
Ser alguém bom para se ter rente.
Hoje eu parei para escrever uma música
E compus um tecido, real e intangível,
entrelaçado por notas e gestos,
letras, obras, cores,
sons e atos,
memórias e presentes,
O tudo que se toca de todas as formas com as mãos
e o que só pode ser tangido com a alma e o coração.
Professor e historiador como profissão – mas um cara que escreve com (o) paixão.