Fui atrás da pesquisa que deu origem ao tal movimento dos 70%, que afirma ser esse o percentual da população brasileira que desaprova o governo Bolsonaro.
Vamos imaginar que a pesquisa Datafolha seja representativa e digna de crédito – vamos imaginar. Foram ouvidas cerca de 3 mil pessoas e o resultado foi:
– 43% consideram o governo Bolsonaro ruim ou péssimo;
– 33% consideram-no como ótimo ou bom;
– 22% acham regular e 2% não sabem avaliar.
Pronto. Aí está a mágica da transformação de 43% em 70%: os 22% que avaliam o governo Bolseiro como “regular”.
Se me perguntarem o que acho do governo Bolsonaro, eu vou dizer que acho regular também. E digo exatamente o que está faltando para eu considerar bom ou ótimo:
Faltou um programa mais ousado de privatizações. Faltou mais determinação para fazer as reformas administrativa e tributária, talvez. Faltou pensar um pouco mais antes de falar. Faltou falar menos. Faltou conduzir melhor crises desnecessárias. Faltou convicção ao escolher um ministro da Saúde e mantê-lo.
O fato de considerar tudo isso não me torna um apoiador de um eventual impeachment do presidente – como parece óbvio que desejam atrelar ao tal número dos 70%. Me torna apenas um eleitor que apoia o que deve ser apoiado, critica o que acha que deve ser criticado e torce sempre para que dê tudo certo.
No fim das contas, os tais 43% que, em 2020, avaliam o governo Bolsonaro como ruim ou péssimo, são quase exatamente os 44,87% que votaram no outro candidato em 2018.
Somando-se os 33% que atribuem ao governo as avaliações “bom” ou “ótimo” com os 22% de “regular”, temos 55%: os mesmos 55% que elegeram o Bolseiro em 2018.
Trocando em miúdos? Nada mudou.
A narrativa dos 70% é só mais um entre muitos tiros n’água.
Próxima, por favor.
(Mas eu adoraria que o governo trouxesse uma fatia desses 22% de “regular” para o lado do “bom” ou “ótimo”: continuo torcendo. A favor, claro.)
Professor e historiador como profissão – mas um cara que escreve com (o) paixão.
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