3 de maio de 2024
Colunistas Joseph Agamol

Eu me sinto tolo como um viajante

É curioso como uma simples canção destrava um portal de lembranças, que vem de aluvião, tomando tudo, trazendo tudo em seu bojo, coisas de vinte, trinta, quarenta anos, quando muita vez se padece para recordar o que se jantou ou almoçou ontem.

Lembro de canções de 1980, 1981, 1982, quando a onda da disco music já tinha se encerrado e a onda do rock New Wave ainda não se havia estabelecido, e nesse limbo tanta música bonita se fez, se tocou e cantou.

E é curioso também que essa penca de canções límbicas e old fashioned sejam por mim sempre associadas ao outono, que começou ontem, aqui pelas bandas sul hemisféricas, sei explicar não, algo a ver com timbres e tons, que me sugerem a luz dourada outonal e matizes terrosos e ocre de folhas e chão.

De roldão, de supetão, alinho, enfileiro, esses tais portais que se abriram e me tragaram, por alguns minutos me metamorfoseando de novo no guri que ouvia música no radinho de pilha grudado no ouvido, enquanto se embrulhava mais na única colcha de chenile ou cheline, eu nunca sei, contra o vento que teimava em se esgueirar pelas rótulas das antigas janelas de madeira do apartamento assobradado suburbano.

Eram rua ramalhete, classic, clarear, ebony and ivory, clube da esquina número 2, o sal da terra, nova manhã, jeito de amar, veveco, panelas e canelas, toada, maria solidária, viajante, paixão, time, Luiza, eu me rendo, canção de verão, vira virou, magia, canção da América, tanto amar, wave…

Eu me sinto é tolo como um viajante.
Joseph Agamol

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

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