

Hoje perdi o sol e creio que uma frente fria chuvosa está a caminho.
No entanto ganhei algo, lendo a história de William Faar um homem que decifrou uma epidemia de cólera em Londres, em 1866.
Faar é um pesquisador que chegou à origem da epidemia como um detetive e com o tempo especializou-se em trabalhar com os dados de um surto epidêmico, elaborando alguns dos pilares da epidemiologia.
A leitura sobre a importância dos dados como arma me estimulou a ir adiante nas pequenas intervenções que faço desde o início do surto do novo coronavírus.
Minha presunção também é esta: quando não temos nem remédio nem vacina, os dados passam ser o instrumento mais poderoso no combate a uma epidemia.
Quando surgiram os primeiros casos em Wuhan e foram se expandindo pelo mundo, lembrei que este era um vírus da era digital. Os mecanismos de coleta e processamento de dados disponíveis hoje são muito poderosos que no passado.
A verdade é que ao terminar o artigo, acabei me animando a formular uma proposta de um serviço de previsão de epidemiologia, sugerida no artigo de Steven Johnson.
Era exatamente o que procurava para apresentar como elemento de uma política de segurança biológica.
Um serviço de previsão desse tipo funcionaria como a previsão do tempo, mas trabalharia, é claro, com outras variáveis.
Já havia mencionado aqui a importância das empresas que fornecem termômetros pela internet como Kinsa, nos Estados Unidos. Isso poderia ser feito até pelo SUS pois faz parte de uma política de prevenção.
Essa empresa detetou com antecedência uma presença maior de febre em algumas áreas de Nova York, antes dos hospitais se encherem com doentes de Covid-19. Isso sem falar também na possibilidade futura de oxímetros pelo mesmo método à distância.
Outro fator preventivo importante é o monitoramento dos esgotos. O trabalho que se faz hoje em Belo Horizonte detetou a presença do coronavírus em 100 por cento das amostras. Mas ele pode indicar muito mais, certas áreas podem conter cargas maiores, podem, as vezes, serem banhadas por córregos que passam a céu aberto em certos lugares. Enfim, foi a leitura do esgoto que levou William Faar a detetar o ponto de partida da epidemia de cólera num ponto do rio Lea em Londres.
No caso de epidemias também é importante monitorar doenças em animais. Onde aparecer morte maciça de galinhas, peixes ou mesmo gado, uma luz vermelha tem de ser acesa.
Vou seguir estudando o tema porque há ainda a possibilidade de ajuda dos sistemas de consultas, tipo Google. Às vezes, em colaboração com eles, é possível detetar por exemplo que em certas regiões há grande consulta sobre certos sintomas, como febre, manchas no corpo, enfim.
Quando falo nessas coisas, talvez por ingenuidade não sei, sinto um entusiasmo juvenil porque sei que o Brasil tem supercomputadores e eles são subutilizados. São os computadores do sistema de vigilância da Amazônia, o SIVAM.
Sua capacidade ociosa, num primeiro momento, poderia ser deslocada para esse tema. O fato de estar no norte do país não importa, muito menos importa ter outra tarefa importante: o que importa mesmo é a capacidade ociosa.
Talvez não consigamos avançar tanto nessa epidemia de coronavírus. Mas as perdas humanas deveriam nos estimular a trabalhar as próximas.
Mesmo essa epidemia, não sei se será controlada tão cedo. Há tempo ainda para construir um sistema de coleta e processamento de dados à altura do desafio.
O único obstáculo é mental. De um lado, Bolsonaro acha que isso é bobagem, apenas uma gripezinha. E o general Pozuello, Ministro da Saúde, está buscando um método para reduzir artificialmente o número de mortos.
De qualquer forma, continuarei levantando o tema, quem sabe para animar os conhecidos na política a fazerem alguma coisa.
Gente para contribuir não falta. O porto de digital de Recife, com várias empresas na incubadora, já experimentou usar a inteligência artificial para solucionar alguns problemas da flexibilização da quarentena. Poderia ajudar também na construção de um sistema de previsão para nos proteger no futuro.
Fonte: Blog do Gabeira