29 de março de 2024
Colunistas Fernando Gabeira

Diário da crise CDLIII

O depoimento da ex-diretora do Plano Nacional de Imunização, Franciele Francinato, acabou revelando todas as dificuldades políticas da vacinação do Brasil.
A primeira delas e mais visível é a atitude do presidente Bolsonaro criticando as vacinas e, em muitos momentos, lançando suspeitas sobre elas. Isto repercute na população, um mandatário que aconselha exatamente o oposto do necessário para salvar vidas.

Outra lacuna também decorrente da visão de Bolsonaro foi a falta de uma campanha nacional pela vacinação. Como ele era contra, não permitiu que se usassem recursos para um grande trabalho publicitário.

A estupidez complementar foi retirar os presidiários dos grupos prioritários para vacinas. Do ponto de vista de política sanitária é um equívoco. A suposição da extrema direita de que é possível matar alguns com esta medida, não leva em conta o fato de que há guardas no presídio, advogados que visitam os presos .

Isto vai fortalecer o relatório que mostra os erros do governo. Aliás, o Ministério Público já classificou a gestão de Pazuello de antiética e incompetente.

Enquanto tudo isso acontece, as Forças Armadas lançaram uma nota intimidando o Congresso. A resposta deveria ser à altura: uma lei que proíbe militares de participar da administração civil.

É a única maneira de evitar que as Forças Armadas degenerem em partido político.

Os deputados e senadores não devem ter medo. É pouco razoável pedir nosso voto se o parlamentar tem medo de ameaças.

Por outro lado, é importante ter equilíbrio nas acusações. Não existe, segundo as evidências, um lado corrupto das Forças Armadas. Existem indivíduos isolados que se tornaram suspeitos com as denúncias na venda de vacinas.

Hoje consegui ver o depoimento e nos intervalos tomar um pouco de sol e mergulhar. Para mim, a semana começou.

Acabo de ler um interessante livro: As três fugas de Hannah Arendt, uma singular biografia da pensadora política.

Os leitores devem perguntar como consegui ler outro livro tão rapidamente, uma vez que tenho comentado aqui O Sonho do Celta.

Acontece que a biografia de Hannah Arendt é uma história em quadrinho desenhada e escrita por Ken Krimstein. Assim fica mais rápido.

O grande acontecimento na vida sentimental de Hannah Arandt foi o romance com seu professor, Martin Heiddeger. As trajetórias foram distintas. Ele colaborou com o nazismo, ela, judia, fugiu para os Estados Unidos. No final, depois da guerra, ela o perdoou. O mais interessante acho eu eram suas personalidades. Heiddeger achava que a morte faz o homem, cria sentido na sua vida; Hannah achava  que a vida é um fluxo constante de renascimento.

Qualquer dia, volto ao tema.

Fonte: Blog do Gabeira

Fernando Gabeira

Jornalista e escritor. Escreve atualmente para O Globo e para o Estadão.

Jornalista e escritor. Escreve atualmente para O Globo e para o Estadão.

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