3 de maio de 2024
Carlos Eduardo Leão Colunistas

Dia do Professor, o herói esquecido

Uma exaltação à saga dos professores, publicada há 63 anos, que continua atualíssima. Até quando?

Nesse 15 de outubro, Dia do Professor, transcrevo aqui novamente o poema “Canoeiros” do meu saudoso avô, Kosciuszko Barbosa Leão, professor, jurista, filósofo, escritor, Membro Emérito da Academia Espírito-santense de Letras, publicado neste dia, há exatos 63 anos no Jornal Correio da Manhã, em homenagem aos professores brasileiros. Pra mim, a obra prima do meu avô.

CANOEIROS

Ó canoeiro, que vais e que vens nesse rio, / Ou de dia ou de noite, ao sol, à chuva, ao frio / De margem para margem! / Canoeiro da passagem, / Em teu rio, que corta / O caminho e interrompe o passo aos peregrinos, / És no destino, igual à chave de uma porta. / És a chave, que abre a porta dos destinos.

Sem os teus remos, sem / Tua brava canoa / E o teu braço valente a tua mão tão boa, / Impossível passar destas margens além. / É um abismo esse rio, em que o viajor trasladas. / Há tantos rios sempre, assim, pelas estradas! …

E, por isso, canoeiro, eu muitas vezes cismo / No infortúnio dos que, na estrada caminhando, / Não te encontraram mais, para a passagem, quando / Chegados, afinal, à margem desse abismo.

És, pois, a condição da marcha e, todavia, / Os passageiros teus / Mal te dizem adeus, / Depois da travessia.

E, se és tu, que a buscar mais passageiros, dizes / Adeus aos que se vão, mal ouves as respostas. / Jogam no meu chapéu uns níqueis e, felizes, / De novo a caminhar, voltam-te logo as costas.

Mas que importam, canoeiro, esses males que arrostas? / A tua glória está nessas margens, que ligas, / Duas margens opostas, / De que teu braço faz duas margens amigas.

Que te importa que fiques, / Por teu árduo labor, apenas com uns níqueis?

O teu pequeno mundo encerra o mundo inteiro. / Olha, eu sei de um canoeiro…

Ele é também, coitado, / Um pêndulo a oscilar, de lado para lado, / Entre as margens de um rio – uma espécie de ponte / Na estrada interrompida, / Para os que querem ir aos longos do horizonte, / Na jornada da vida.

Ama também, como amas. / Mas não tem, para amar, teus lindos panoramas. / E diferem, no mais, a sorte dele e a tua. / Basta-te a vil migalha, / Que o passageiro atira ao teu chapéu de palha. / Tua camisa é livre e tens a espádua nua.

Mas nesse remador, teu traje humilde espanta. / É preciso mentir. / E ele usa uma gravata, / Que a garganta escraviza e é como um nó que o mata. / É um nó na garganta.

Tu tens a cabana / E aí tu és senhor, / Uma voz soberana. / Mas esse outro canoeiro é um simples remador, / Que mora na cidade e, em meio a tantas casas, / Muitas vezes não tem onde pousar as asas/ – Os seus remos, que são os remígios das almas, / Para os voos triunfais, que fazem toda a glória / Dos homens e, afinal, das pátrias, sob palmas, / Na universal e eterna aclamação da História.

Ó Pátria! Meu Brasil! Teu máximo operário/ É esse remador. / Bem vês, um proletário, / Ó Pátria, o professor.

Dedico “Canoeiros” à D. Zulmira Ferreira, minha 1ª professora, e aos meus mestres médicos Olívio Louro Costa, Evaldo D’Assumpção e Ivo Pitanguy.

Carlos Eduardo Leão

Cirurgião Plástico em BH e Cronista do Blog do Leão

Cirurgião Plástico em BH e Cronista do Blog do Leão

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