26 de abril de 2024
Colunistas Marco Angeli

Por amor à arte

O Brasil é reconhecidamente um país de desperdícios.

Desperdícios de talentos, de recursos, de capacidade produtiva.

Na área da cultura, especialmente, isso é uma evidência claríssima que todos os que conhecem o potencial criativo e a riqueza da produção cultural dos artistas brasileiros, conhecidos ou não, enxergam.

Em contrapartida, outra evidência cristalina é a decadência crescente da cultura brasileira a partir de 1985 -fim do regime militar- e seu uso como ferramenta política pelos governos que se seguiram.

Toda e qualquer consideração democrática -necessária à cultura de toda nação- foi deixada de lado nessa estratégia de condicionar a arte em geral a objetivos políticos.

Isso se observou especialmente nos governos de Fernando Henrique Cardoso -quando a famigerada Lei Rouanet, criada em 1991, foi consolidada, e nos oito anos de governo do semianalfabeto Lula da Silva.

Não à toa Lula se orgulhava de jamais ter lido um livro em toda a sua existência.

FHC, por outro lado, uma esperta raposa socialista e intelectual dedicado de corpo e alma à conquista do poder, sabia muito bem da importância da cultura na formação – e manipulação- de um país.

E foi exatamente com ele que o enorme aparelhamento comunista de escolas e entidades culturais começou e se fortaleceu.

O resultado lamentável dessa estratégia é o que se vê hoje no Brasil.

Os grandes incentivos financeiros, canalizados sempre para amigos do rei, ou artistas subservientes ao socialismo, quase sempre sem capacitação ou potencial de produção de qualidade -vagabundos, sim- gerou aberrações como a ‘peça teatral’ Os Macaquinhos ou a exposição do Queer Museu, que todos conhecemos.

Ou milhares de shows, eventos e exposições espalhados pelo Brasil devidamente azeitados pela grana da Lei Rouanet e seu programa de incentivos, com direito à performances em capitais como a da senhorita agonizando com baratas na vagina em plena Avenida Paulista, São Paulo.

Dos projetos ou iniciativas desses governos, como o MinC, Conselho Federal de Cultura, Conselho Nacional de Direito Autoral, Conselho Nacional de Cinema, Embrafilme, Funarte, Fundação nacional Pró-Memória, Fundação Casa de Rui Barbosa ou Fundação Joaquim Nabuco, pouco ou quase nada restou que fosse de alguma utilidade para o país.

Ou, como se vê, questiona-se hoje a própria existência e atuação do Ministério da Cultura, criado em 1985 e que estiveram sob o comando da deprimente figura de Gilberto Gil (2003-2008) e Juca Ferreira ( 2008-2010).

Comentar a era socialista pós-Lula sob a ótica cultural. -com a desmiolada Dilma Roussef- nem vale a pena.

Basta registrar que, para o mundo, pintura brasileira é a de Romero Britto, literatura é a de Paulo Coelho e música a de Ivete Sangalo.

Longe vão os tempos da Semana de 22, de Anita Malfatti ou DiCavalcanti.

Ou de compositores como Tom Jobim, Villa Lobos…

E de escritores como Machado de Assis, Monteiro Lobato, mestres em seu ofício e labor.

A consequência direta dessa decadência cultural controlada por socialistas ávidos por poder foi o afastamento compulsório de milhares de artistas não alinhados do cenário cultural.

Desprezados continuamente e substituídos por ‘artistas comunistas’ de qualidade duvidosa – no mínimo- sobreviveram como puderam nos 35 anos dessa escuridão cultural.

A maioria se calou, sufocada por um regime opressor e burro.

Outros, como eu, na ativa desde 1970, vivendo diretamente de arte, acreditavam que ela transcendia -e muito- a questões meramente políticas.

E lutaram teimosamente, até hoje

Finalmente, para desmontar todas as narrativas socialistas a respeito, os períodos de maior incentivo à Cultura foram os regimes autoritários, de Getúlio Vargas e do Regime Militar.

Está nos livros de história, é estatística.

No governo do criminoso Lula da Silva, por exemplo, a pasta da cultura jamais chegou perto de míseros 1% do orçamento do país.

Sobre a pintura e os retratos.

Como sempre gostei de acreditar, artistas plásticos -os pintores- são uma espécie de jornalistas pictóricos de sua época.

Registram e interpretam, seja como for, o momento histórico em que vivem.

Foi assim, por exemplo, com Picasso, ao pintar Guernica, em 1937, retratando os horrores do bombardeio à cidade do mesmo nome, durante a Guerra Civil espanhola (1936-1939).

Ouvindo o comentário de que se tratava de uma pintura horrível e deprimente, ao apresentar Guernica, Picasso comentou que era exatamente o que pretendia: mostrar o horror da guerra.

Todo pintor, de Leonardo da Vinci à Andy Warhol registrou, à sua maneira, a época em que vivia.

Os retratos são um gênero importante na história da arte, utilizados desde sempre nas escolas e academias como forma de desenvolver habilidades e técnicas artísticas, por força da precisão exigida.

Já na China de 1000 AC existem os registros de retratos, ou no Egito, com representações de governantes ou divindades, gravados sobre pedra, argila ou gesso.

O gênero ganhou força por volta de 1300, registrando personagens bíblicos, em obras como as de Giotto e, no século XV, o pintor flamengo Jan Van Eyck finalmente desenvolve a técnica de pintar retratos com tinta a óleo, substituindo a têmpera usada até então.

No Renascimento os retratos se projetaram através de encomendas feitas por famílias da nobreza ou alto escalão social como forma de eternizar ou presentear os retratados e se transformaram em objeto de status.

Na Itália, surgiram retratistas como Lorenzo Lotto e Botticelli.

Outros, como Leonardo da Vinci, Michelangelo e Rafael se dedicaram também ao retrato.

A Mona Lisa, de Leonardo, talvez seja o mais célebre retrato do mundo.

Mas foi só o início, e a arte do retrato evoluiu, e com ela as técnicas e os movimentos estéticos.

Artistas do renascimento foram ambiciosos, e esperavam conseguir captar a essência do retratado em suas pinturas.

Ticiano, um mestre, propõe o retrato psicológico, ampliando suas possibilidades.

Nos séculos XVI e XVII, período Barroco e Rococó, surgem grandes retratistas como Rubens e Van Dick e mais tarde destacam-se os franceses Jacques-Louis David e Jean Auguste Dominique Ingres.

Os impressionistas como Renoir, Degas e Monet dão novas cores aos retratos, e logo após surgem os trabalhos de Gauguin e Van Gogh.

No século XX, o surgimento da fotografia ajuda enormemente os artistas na composição de seus retratos, principalmente na obtenção de mais fidelidade em relação à figura retratada.

Depois de um certo declínio nos anos 40 e 50, a arte dos retratos ressurgiu com força nas produções dos ingleses Lucien Freud e Francis Bacon, nos anos 60 e 70.

Finalmente, artistas contemporâneos como Andy Warhol, Alex Katz e Chuck Close inseriram uma visão mais criativa na velha arte do retrato.

Menino ainda, eu observava meu pai desenhar e pintar suas aquarelas, seus retratos…

Ele jamais exerceu a arte como profissão, mas trouxe de seus antepassados a paixão pelo desenho e a pintura, e isso estava presente em suas pinturas a óleo.

Muitos retratos, que adorava fazer.

Numa mesa entre amigos, estava sempre com um caderninho onde desenhava, a lápis, um ou outro.

Ele me ensinou, naqueles tempos, a aquarela e regras importantes para retratar uma pessoa, às vezes um enorme desafio.

Quando se retrata uma paisagem, erros ou distorções passam despercebidos, mas num retrato qualquer pequeno erro pode ser fatal e se perde a essência do retratado.

As pessoas e paisagens urbanas em minhas pinturas são, acredito, um espelho de minha época.

Diferente da fotografia -o instantâneo- que capta a realidade crua, a pintura passa pelo filtro não de uma lente, mas da alma de quem a executa.

E esse registro perdura pelos anos afora, não cede jamais ao tempo.

Por isso, acredito, a arte dos retratos será eterna, durará enquanto existir o homem e sua alma ambicionar a elevação, algo mais do que um simples espelho ou a reprodução de uma imagem vazia.

Uma observação: algumas tribos de índios, no mundo, acreditam que se fotografados ou retratados, suas almas são roubadas. Existe aí uma sabedoria pouco compreendida por nós, ocidentais civilizados. Mas quem afinal explica a expressão de Mona Lisa, séculos depois?

Fonte: marcoangeli.com.br

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