10 de setembro de 2025
Adriano de Aquino

Há muitos erros e distorções no discurso de Lula durante o 7 de setembro

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em seu pronunciamento oficial. (Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República)

Hoje recomeçou o julgamento de Bolsonaro e dos demais acusados de uma suposta conspiração para um golpe. Mas o que se vê são apenas narrativas no inquérito. Não há materialidade, não há fatos concretos. Não houve golpe, ninguém sequer tinha armas para isso. Confundiu-se uma manifestação – que foi, na verdade, a explosão da paciência de quem estava há muito tempo inconformado com a derrota de Bolsonaro nas eleições – com uma tentativa de ruptura institucional.

Ao rever um recorte de um artigo meu, publicado nos jornais em 19 de agosto de 2020, intitulado “Preconceitos”, lembro que o então vice-presidente do TSE, ministro Edson Fachin, declarou que a eleição de 2022 poderia trazer um “cavalo de troia do autoritarismo” e que seria bom para a democracia se Lula tivesse podido ser candidato em 2018.

Ou seja, um ministro do Supremo já deixava claro seu posicionamento político. Naquele artigo, destaquei também que o único voto contrário às constantes fustigações movidas por PSOL, Rede e PT, que recorriam ao Supremo para tentar atrapalhar o governo Bolsonaro, foi o do ministro Marco Aurélio. Ele foi voto vencido, isolado, em uma decisão de 9 a 1. Tratava-se de um pedido do Partido Socialista e da Rede para impedir que a Abin compartilhasse informações com outros órgãos públicos. Marco Aurélio disse, com clareza: “Recuso-me a julgar com base em preconceitos”.

Pouco depois, negou uma liminar que pedia o afastamento de Paulo Guedes, solicitado pelo PDT. Na sequência, PSOL e PSB ingressaram contra a reforma da Previdência, e o ministro Alexandre de Moraes afirmou ver nisso uma “tirania da maioria”. Uma falácia. Porque quem governa é a maioria. Democracia é a vontade da maioria — não é, jamais, a tirania da maioria.

7 de Setembro

Nunca vi alguém, na grande imprensa, fazer qualquer ressalva ao discurso de Lula em rede nacional na véspera do 7 de Setembro. Todos aceitaram, de cabeça baixa, como se fosse a mais pura verdade. Quero, então, pontuar algumas distorções. Lula disse: “O 7 de setembro representa o momento em que deixamos de ser colônia”. Não. O Brasil deixou de ser colônia no dia 2 de setembro, quando a princesa regente Leopoldina assinou a separação de Portugal. O 7 de setembro foi apenas o grito, simbólico, dado quando D. Pedro recebeu a comunicação da decisão tomada por sua esposa, como regente, perante o Conselho de Estado.

Em outro trecho, afirmou: “Na época da colonização, nosso ouro, nossas madeiras, nossas pedras preciosas, nada disso pertencia ao povo brasileiro”. Ora, ainda hoje não pertencem. O ouro é do Estado brasileiro, as pedras preciosas também, e as madeiras, muitas, são contrabandeadas.

Lula declarou ainda: “Somos capazes de governar e de cuidar da nossa terra e da nossa gente, sem interferência de nenhum governo estrangeiro”. Mas a realidade é outra. Estamos sendo incapazes de cuidar da nossa terra e da nossa gente. Chineses compram minas, contrabandistas atravessam fronteiras, drogas entram livremente — não produzimos cocaína no Brasil, mas ela chega de fora, junto com grupos guerrilheiros, e isso não é de hoje. E nosso povo segue desassistido, amedrontado pela insegurança pública.

Outra frase: “Foram eleitos para trabalhar pelo povo brasileiro, mas defendem apenas seus interesses pessoais”. Felizmente, nesse ponto, parece ter feito um ato de contrição em nome dos políticos egoístas — porque isso, de fato, temos visto.

“Soberania está no dia a dia da gente”, disse. Sim, está. E podemos notar que o crime organizado exerce soberania sobre territórios do Rio de Janeiro, da Amazônia, sobre rios da Amazônia. Lula também declarou: “Soberania é apoio aos jovens para que tenham um futuro melhor”. Mas qual apoio? É um ensino de qualidade, que ensina matemática, português, capacita para bons empregos e para vencer na vida? Ou é um ensino reduzido à catequese ideológica, que pouco ou nada ensina — e, quando ensina, ensina errado?

Quando entrei no primeiro ano primário, não era governo militar, e eu já estava alfabetizado no pré-primário. Hoje, crianças chegam ao segundo, ao terceiro ano, e ainda não estão alfabetizadas.

Lula disse ainda: “Tivemos coragem de fazer a maior operação contra o crime organizado da história”. Se foi a maior, como deixou o crime crescer tanto? Por que deixou? Porque, sabemos, o crime já está infiltrado no Estado. “Defender nossa soberania, defender o Brasil” — ótima frase. Mas é preciso explicar o que é soberania, para que o povo saiba do que se trata.

Sobre as redes digitais, afirmou: não podem continuar sendo usadas para espalhar fake news e discurso de ódio. Não é preciso censura para isso. O Estatuto da Criança e do Adolescente e o Código Penal já existem. Basta aplicá-los. Não há necessidade de criar novas leis para impor censura política nas redes sociais.

Queria apenas fazer essas observações. E, para concluir: “Zelamos pelo cumprimento da nossa Constituição”, disse o presidente. Mas cabe lembrar que ele jurou, perante o Congresso Nacional, defender a Constituição. Resta a pergunta: está, de fato, defendendo?

Fonte: Gazeta do Povo

Alexandre Garcia

Jornalista, apresentador e colunista de política.

Jornalista, apresentador e colunista de política.

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