5 de maio de 2024
Adriano de Aquino Colunistas

O Ovo da Serpente

O The New York Times publicou recentemente uma matéria revelando o grande investimento do politiburo chinês em veículos de mídia impressa e virtual do Ocidente.
O jornal informa quais são esses veículos de mídia e os países onde operam.

A matéria deixa claro que esses veículos usam a liberdade de expressão,uma garantia constitucional (hoje em risco no Brasil) de países democráticos do Ocidente, para difundir ostensiva propaganda sobre as virtudes do regime chinês.

Todo mundo sabe que o regime chinês é comunista, assim como todo mundo sabe que nesse regime, a liberdade de expressão não é tolerada. Quem lá pisar fora da linha permitida pelo regime vai em cana. NYT acha que todo mundo sabe disso, então, é desnecessário dizer.

Todo mundo sabe também que a hipótese de uma matéria ou propaganda de viés democrático, em prol da liberdade de expressão, enquanto o regime comunista perdurar, jamais será publicada na China.

A famosa contrapartida, muito comum nas pautas das trocas entre nações, no caso da livre manifestação do pensamento, é impensável, impossível de acontecer na China.

Todavia, a massiva propaganda do regime chinês em veículos da imprensa ocidental rola livremente. Ora, a propaganda tem sempre objetivos claros. No caso em pauta não se trata de vender produtos de linha comercial, turística, industrial etc . Essa propaganda midiática ostensiva sobre as virtudes igualitárias do regime não é subliminar é direta e objetiva.

Ela visa vender ideia. Uma ideia que influencie a mentalidade dos cidadãos que vivem em sociedades livres, de que a vida dos pobres e oprimidos é mais justa, igualitária e feliz no regime comunista chinês do que em nações democráticas do Ocidente.

Digitei tudo isso por uma simples razão.

Na minha leitura, a matéria do The New York Times tem uma pegadinha que vale destacar.

Ao esclarecer o leitor sobre a rede de comunicação do regime comunista chinês no Ocidente, o jornal insinua,apenas insinua, que a ostensiva propaganda tem objetivos claros. Porém, adverte os leitores a não caírem na tentação de supor que tal investimento, em parceria ostensiva com agentes públicos (alguns eleitos) e privados, que vivem nas democracias dessa banda do mundo, estejam, na prática, colocando em ação mais uma Teoria da Conspiração.

O que, na verdade, há tempos deixou de ser apenas mais uma exótica teoria, com espiões da capa preta infiltrados na Coca-Cola ou na Disney e jogando golfe nos clubes privados de Nova York.

Adriano de Aquino

Artista visual. Participou da exposição Opinião 65 MAM/RJ. Propostas 66 São Paulo, sala especial "Em Busca da Essência" Bienal de São Paulo e diversas exposições individuais no Brasil e no exterior. Foi diretor dos Museus da FUNARJ, Secretário de Estado de Cultura do Rio de Janeiro, diretor do Instituto Nacional de Artes Plásticas /FUNARTE e outras atividades de gestão pública em política cultural.

Artista visual. Participou da exposição Opinião 65 MAM/RJ. Propostas 66 São Paulo, sala especial "Em Busca da Essência" Bienal de São Paulo e diversas exposições individuais no Brasil e no exterior. Foi diretor dos Museus da FUNARJ, Secretário de Estado de Cultura do Rio de Janeiro, diretor do Instituto Nacional de Artes Plásticas /FUNARTE e outras atividades de gestão pública em política cultural.

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