2 de maio de 2024
Adriano de Aquino Colunistas

Franz Weissmann: ritmo e movimento

No próximo sábado 18, às 16:00, estarei na Casa França-Brasil para falar sobre “Franz Weissmann: ritmo e movimento“, exposição em curso nesta instituição, com curadoria de Marcus de Lontra Costa e Rafael Fortes Peixoto.

Falar sobre Weissmann é um prazer, sobretudo por ser ele senhor de uma obra sensível e inteligente, que fixou seu legado no patrimônio da escultura brasileira contemporânea e, também, a minha admiração pelo amigo com quem compartilhei fatos e momentos nas últimas décadas.

A foto que ilustra esse post, em que estou na companhia dele, de Oscar Niemeyer e Darcy Ribeiro no Teatro Municipal, por ocasião da entrega do Golfinho de Ouro, prêmio concedido pelo Conselho de Cultura do Estado do Rio de Janeiro, é um registro da nossa parceria.

Darcy, então vice-governador e Secretário de Estado da Cultura, antropólogo, escritor e homem público apaixonado pelo Brasil, na sua gestão abriu as portas para modificações significativas nas instituições culturais/educativas do Estado.

Hugo Carvana, Antônio Pedro e eu, convidados por ele, assumimos funções executivas na Fundação de Artes do Rio de Janeiro-FUNARJ. Foi um grande desafio.

Três artistas autônomos, avessos à tradicional burocracia da ‘coisa oficial’, se viram diante da grande oportunidade de sair do âmbito restrito das nossas atividades específicas para atuar diretamente na formulação de políticas públicas para o setor cultural.

Ampliar o investimento e estimular o acesso público para a produção contemporânea de qualidade que vicejava nas atividades artísticas ‘extra muros’ do oficialato estatal, foi uma meta que cumprimos do começo ao fim dessa gestão.

A história por trás dessa foto é um dos episódios emblemáticos desse tempo.

As escolhas, bem como as solenidades e formato do Prêmio Golfinho de Ouro, foram herdadas dos governos anteriores.

O troféu, então uma réplica 3D do golfinho representado no brasão bem como na bandeira e demais itens heráldicos do Estado, como credencial básica, me levou a sugerir ao Darcy que agregasse valor artístico aos prêmios concedidos pelo governo para as pessoas que naquele ano contribuíram para a cultura do Estado.

Sugeri o nome do Weissmann para conceber uma estatueta para esse fim. Darcy aceitou de imediato e assim foi feito.

A escolha do troféu também tinha um motivo inspirador.

Em 1954, Weissmann venceu uma concorrência pública para criar o ‘Monumento à Liberdade de Expressão’, erguido na Quinta da Boa Vista e lamentavelmente destruído em 1962,sob a esdrúxula justificativa “para fins de reformas urbanísticas”.

Nesta edição, os premiados receberam uma peça datada e assinada, redimensionada por Weissmann e fundida em bronze.

Um pequeno episódio sobre as mudanças promovidas na nossa gestão cultural, se junta à noite dessa solenidade.

Logo que me afastei do momento dessa foto, caminhando no foyer do teatro, fui abordado por um amante do canto lírico que gentilmente perguntou o que me levou a sugerir ao Darcy e ele aprovar, o convite para Tomie Ohtake criar os cenários e figurinos para Madame Butterfly, programada para a nova temporada de ópera do Teatro Municipal.

Educadamente, respondi que tanto Puccini quanto os autores do libreto me deram permissão para isso. Como assim? Indagou ele.

Ora, na medida em que o libreto da ópera é inspirado em uma história escrita pelo advogado norte-americano John Luther Long, sobre o drama amoroso de uma gueixa por quem um tenente da marinha dos EUA se apaixona perdidamente, convidarmos uma artista paulista de origem japonesa para pôr a casa em ordem, me parecia uma medida correta.

Ou melhor, convidar Tomie para dar visibilidade à estética japonesa como o ‘local da ação’ do drama, é uma metáfora do cruzamento harmonioso e produtivo entre tradição e modernidade através da beleza, que se contrapõem ao paradigma desconstrutivo de que toda ruptura é pautada na destruição da tradição e na negação do belo. Além de confirmar que por sua história e a vocação do povo que aqui se juntou, o Rio é a capital mais cosmopolita do país.

E disse mais; acho que Puccini iria gostar! Ele fez cara de quem não gostou. Mas a ópera foi um sucesso.

A exposição do Weissmann acontecer agora onde acontece, me traz à lembrança a alegria do Darcy no dia da inauguração da Casa França Brasil, um projeto seu, além da Casa Laura Alvim, em Ipanema, onde pousa uma escultura do Weissmann.

Adriano de Aquino

Artista visual. Participou da exposição Opinião 65 MAM/RJ. Propostas 66 São Paulo, sala especial "Em Busca da Essência" Bienal de São Paulo e diversas exposições individuais no Brasil e no exterior. Foi diretor dos Museus da FUNARJ, Secretário de Estado de Cultura do Rio de Janeiro, diretor do Instituto Nacional de Artes Plásticas /FUNARTE e outras atividades de gestão pública em política cultural.

Artista visual. Participou da exposição Opinião 65 MAM/RJ. Propostas 66 São Paulo, sala especial "Em Busca da Essência" Bienal de São Paulo e diversas exposições individuais no Brasil e no exterior. Foi diretor dos Museus da FUNARJ, Secretário de Estado de Cultura do Rio de Janeiro, diretor do Instituto Nacional de Artes Plásticas /FUNARTE e outras atividades de gestão pública em política cultural.

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