3 de maio de 2024
Colunistas Erika Bento

E a conta vai só aumentando

Ainda nem nos livramos da tempestade Aiden e dos resquícios do furacão Zeta e lá vem outra tormenta para afogar o país ainda mais. Tio Boris foi vencido pela pressão da comunidade científica e mandou a população ficar de castigo em casa – de novo – por um mês. A medida visa conter o contágio do Coronavírus que já registrou um milhão de casos de COVID-19 e 46 mil mortes, na Inglaterra.

Particularmente, o ‘lockdown’ não me afeta em quase nada. Tenho a sorte de poder trabalhar de casa. Sou acostumada e estar longe da família e dos amigos, no Brasil, moro com minhas filhas e meu genro (além de um cachorro e uma gatinha), faço compras de supermercado pela internet, recebo tudo na porta de casa e não preciso ir ao médico com frequência. A única coisa que não abro mão é da minha corrida (quase) diária, mas isso é permitido.

O que o confinamento doméstico me preocupa, além do efeito psicológico àqueles mais vulneráveis, é o choque na economia que já tem andado de muletas.

Desde que a pandemia se instalou por aqui, o governo tomou medidas para garantir a segurança da população, incluído uma ajuda de custo às empresas para evitar o desemprego em massa e a queda brusca na renda, principalmente, dos empregados do varejo.

Aqui, funcionários do comércio,  em geral, têm contrato de trabalho por hora. Se não trabalha, não recebe. Por isso, desde final março, o governo passou a pagar 80% do salário destes funcionários para que eles pudessem ficar em casa, sem trabalhar, mas recebendo o salário (as empresas se encarregaram de pagar os 30% restantes). Desde então, já se foram 40 bilhões de libras dos cofres públicos para este programa (cerca de R$280 bilhões). Somando a isso, as despesas com a saúde e outros setores igualmente afetados pela pandemia, já custaram £200 bilhões (R$1.4 trilhão) ao governo inglês.

A economia do país caiu em 25% durante o primeiro lockdown arrastando consigo cerca de 174.000 empregos além das 500.000 demissões voluntárias ainda a ser concluídas pelas grandes empresas, o maior índice dos últimos 25 anos.

Nos últimos meses, vimos a curva no gráfico subir novamente chegando a recuperar mais da metade da queda, gerando euforia no mercado. Porém, a nova medida do governo certamente vai desacelerar esta recuperação econômica.

Quem sou eu para duvidar da comunidade científica, mas a pergunta que fica é se o sacrifício imposto ao governo e às empresas vai realmente proteger vidas e o sistema de saúde.

Assim como Boris, eu não quero carregar nas costas o peso da morte de ninguém, portanto, façamos o que os doutores recomendam. Portas fechadas para quase todo mundo.  Os estudantes podem se expor ao risco do contágio porque eles são jovens e fortes o suficiente para superar a COVID-19. Mas, espera… isso não faz deles os agentes transmissores do vírus para dentro das portas fechadas?

Seria como ligar o ar condicionado ao ar livre. Uma estupidez, mas que o governo defende alegando que o futuro das nossas crianças não pode ser afetado ainda mais do que já foi.

Este seria um tema para outro papo, mas vamos lá.

Tendo uma adolescente em casa, acompanhei de perto os efeitos do primeiro confinamento nos jovens estudantes. Minha filha passou da euforia das ‘ferias forçadas’ à apatia, angústia e quase depressão.

Apesar de toda a tecnologia disponível aqui, as escolas não estavam preparadas para o ensino à distância. O suporte ao aluno foi fraquíssimo (pelo menos na escola dela). Não houve aula virtual, nem papo com os professores. Houve sim uma enxurrada de dever de casa semanal com pouca ou nenhuma orientação didática. Poucos professores tiveram a criatividade de gravar vídeo-aulas (várias semanas após o lockdown ter começado) e os estudantes ficaram perdidos diante da necessidade de fazer um planejamento de estudo em casa.

Quando as escolas reabriram, seis meses depois, apesar da alegria de reencontrar os amigos, vieram à tona, a ansiedade e a insegurança causadas pela constatação do atraso educacional causado pelo lockdown, principalmente para aqueles em idade de prestar o vestibular.

Neste ano, as provas equivalentes ao vestibular  foram canceladas, na Inglaterra, e os alunos receberam uma nota equivalente à média das notas recebidas durante o ano letivo, o que gerou uma grande confusão.

O que o governo está tentando evitar é ter que lidar com o mesmo problema novamente no ano que vem, apesar dos protestos de professores que exigem quatro semanas de fechamento para as escolas também.

Para mim, não faz muito sentido manter as escolas abertas. Já que há este risco tão iminente de uma segunda onda de COVID-19 causar milhares de mortes (como a comunidade científica garante), por que então as nossas crianças seriam expostas a isso?

Pela certeza da eficiência do seu sistema imunológico? Isso não seria como apostar na loteria? Aliás, uma loteria que os próprios cientistas acusam ser o movimento anti-lockdown ‘A Declaração Great Barrington’. Para quem não conhece, este movimento que conta com o apoio de vários médicos e cientistas americanos e europeus, defende o isolamento somente daqueles mais vulneráveis (idosos e pessoas com certas condições físicas), por isso tem sido duramente criticado de antiético de cientificamente problemático, já que os efeitos da doença, mesmo em pessoas sadias, podem ser duradouros e incertos. Ora, isso também não se aplica aos jovens?

Faria muito mais sentido fechar as escolas e adotar um ensaio à distância de qualidade, afinal, se os professores estão protestando tanto, eles devem ter um plano de ação para garantir a educação dos jovens, certo? Já os estudantes, que também se dizem discriminados e expostos ao contágio, que mostrem resiliência e maturidade para manter os estudos em dia do conforto do lar.

Parece que todos querem receber o benefício sem pagar a conta que, aliás, é paga pelo próprio povo que vai sofrer as consequências da dívida pública que tem só aumentado, exatamente, para manter as pessoas em casa, inclusive os professores, se eles ganharem esta batalha.

O amanhã dirá.

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