7 de dezembro de 2024
Colunistas Erika Bento

Aprendendo com a geração Z

As coisas que já aprendi com a minha filha de quinze anos, temo que sejam mais significativas do que as lições que já transmiti a ela.
Certamente sou mais vivida e madura e, por isso, aprendi que minha contribuição deve se ater ao âmbito emocional. Não posso lhe ensinar sobre o mundo porque o desconheço. Poderia lhe ensinar sobre o mundo em que vivi, mas de que adiantaria? Aquele mundo sofreu uma transformação que, às vezes, custo a entender. Já não sei mais o que é admissível, o que é ofensivo, o que é inapropriado. É apreensivo e cansativo.
Busco, então, interpretar o mundo através dos olhos de quem nasceu nele. Mãe e filha invertem os papeis e é a minha vez de questionar e contestar até fazer sentido, mas inevitavelmente, minhas próprias crenças e valores se chocam com os dela. Sou de duas gerações passadas. Como não ser difícil entender?
Mas nada é impossível quando se quer realmente escutar.
Esta nova geração nasceu durante a evolução digital, com smartphones nas mãos, e nunca ouviu falar em internet discada. É tudo muito veloz e acessível. Efêmero até. Ansiedade é um dominador comum entre a geração Z, como era ser fumante na geração X.
Eles vivem à beira de um colapso nervoso diante da competição social gerada pelo mundo digital, mas não só. A geração Z é mais focada no futuro próprio, do planeta e da sociedade. Eles prezam por justiça social, igualdade de gênero e raça porque, desde a tenra idade, convivem com diferentes culturas, sejam no seu cotidiano ou pela internet. Para eles, não há um padrão. O ser humano é individual e, através da sua individualidade, constitui uma sociedade mista. Em raça e gênero.
Em sua visão do mundo e da sociedade, não há lugar para a sátira daquilo que fere o outro. Foi assim que me explicou a minha filha.
“Não é legal fazer piada usando estereótipos porque estereótipos são em geral ofensivos, caricatos.
Não é legal fazer piada daquilo que pessoas sofrem bullying. Ser gordo, careca, negro, gay, etc.
Não tem nada demais, por exemplo, rir do modo como um gay posou em uma foto se ficou engraçado, porque a graça não está no fato de ele ser gay, mas em algo que poderia acontecer com qualquer um: uma pose ruim.”
Simples, mas ainda não totalmente entendido, por isso eles estão em constante alerta. É responsabilidade deles ditarem as regras do novo mundo, e isso é exaustivo!
Por serem muito mais conscientes, são também mais exigentes politicamente e, em geral, defendem a tolerância e o respeito às diversidade.
Quando olhamos para os nossos pais e avós, entendemos a dificuldade deles em aceitar muitas coisas porque sabemos que, na geração deles, as regras eram outras. Temos paciência em lhes mostrar e ensinar sobre as mudanças porque fazemos parte dessa mudança. Pois hoje, os nossos filhos (ou netos, dependendo de quem na sua vida nasceu entre 1996 e 2010), fazem parte de uma geração à frente da nossa portanto, é uma perda de tempo tentar moldá-los aos valores de um passado. Aquele mundo não existe mais.
Ou tentamos entender o que está à nossa volta, ou faremos parte daquela grupos que vão passar o resto de suas vidas em nostalgia de um tempo que não volta mais, enquanto perde a oportunidade de fazer parte de um mundo totalmente novo. Um mundo que pode não ser perfeito, mas é por onde vai caminhar os seus descendentes.
A minha infância foi maravilhosa, cheia de imaginação, ar puro e convívio social.
Hoje, minha filha, assim como milhões de outros adolescentes, estão impedidos de ir às escola, de encontrar com os amigos, de ir ao cinema ou até mesmo viajar ou ver a família. Mas eles têm internet, felizmente, que os mantém conectados com um mundo onde não podem ir e pessoas que não podem ver.
Ainda há de ser ver o resultado desta situação atual no futuro destes jovens, mas certamente será um influenciador na transformação da nova geração Alfa que vai herdar um mundo muito mais humano e igualitário.
Esboço um sorriso. Apesar de toda a confusão lá fora, eu sei que o mundo vai estar em boas mãos no futuro próximo.
Admin

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