11 de setembro de 2025
Paulo Polzonoff Jr

Qual a música mais triste do cancioneiro brasileiro?

A música mais triste é “Leilão”: E quando veio de Isabé as alforria/ Percurei mais quinze dias/ Mas a vista me fartô. (Foto: ChatGPT)

Hoje vou dar um tempo na política para reproduzir uma pergunta que vi sendo feita no Twitter: qual a música mais triste do cancioneiro brasileiro? Aquela que, não importa o compositor nem o intérprete, faz até ministro do STF chorar? E antes que você responda “O Hino Nacional”… Bom, confesso que houve uma época em que o Hino me emocionava, principalmente antes dos jogos da Seleção. Mas acho que era menos por patriotismo e mais por nostalgia do pátio do colégio Madalena Sofia.

À lista, porém. E quero desde já avisar que, para escrever este texto, contarei apenas e tão-somente com minha péssima memória. Aviso também que provavelmente há por aí um ranking, feito por musicólogos, das músicas mais tristes do cancioneiro brasileiro. Mas, se tem, não conheço nem procurei. O que significa dizer que minha lista é só um bate-papo e não se pretende a definitiva, muito menos a científica. Tente se divertir. Ou chorar um pouco. E um último aviso: a lista não inclui “Evidências”.

Pirajá Ferreira e o som da manhã!

Mas, justamente porque me lembrei dessa praga chamada “Evidências”, a primeira música triste, triste demais, que me vem à cabeça é “Fogão de Lenha”, do Chitãozinho & Xororó. Por quê? Porque é a história do Filho Pródigo, ora! Quem nunca se arrependeu de sair de casa para ser alguém na vida e acabar se tornando “apenas mais um que se perdeu” que atire a primeira pedra. Ai, doeu.

Pausa para me lembrar do tempo em que a empregada lá de casa passava as manhãs ouvindo “Pirajá Ferreira e o som da manhã”. E, no embalo, permita-me evocar outra música triste e que, adaptada à tela, conseguiu ficar ainda mais triste: “Menino da Porteira”. Essa é do tempo em que não havia nada de mais na amizade entre um boiadeiro e um menino. E antes que eu me esqueça: a versão do filme com o cantor Daniel é bem razoável.
De somenos

Em se tratando de tristeza, de fato a música sertaneja é a melhor fonte. Ou será que existe um rock nacional triste? “Faroeste Caboclo” é triste? “Teatro dos Vampiros” é triste? Até que são. Mas é outro tipo de tristeza. Uma tristeza mais elaborada e intelectualizada, quando não psicanalizada. Quando penso em música triste penso em outra coisa que não dilemas existenciais. Penso no coração partido, nas tragédias cotidianas, no arrependimento, na morte.

O que nos traz a mais uma música triste e que descobri há pouco tempo, coisa de dois ou três anos, por causa do Ruy Castro: “Por Causa de Você”, na voz de Dolores Duran. Meu amigo!… Aqui a letra é de somenos. (De somenos? Eu escrevi isso?!). Os arranjos e a voz insuportavelmente triste de Dolores Duran nos transportam a um tempo de amores sofriiiiiiidos e de quando não havia nada mais trágico do que uma casa desfeita.
Negarei até a morte!

Mas falar de tristeza é também falar de pieguice. Por isso não posso deixar de mencionar “Pequitita” (ou “Piquitita”), da dupla Duduca & Dalvan. A música não tem muito valor artístico e meu pai nunca foi caminhoneiro, mas, sei lá!, o adeus e a ideia de uma criança cuidando da mãe na ausência necessária do pai me pega. Procurando bem, é capaz de alguém encontrar até referência à “Ilíada” aí. Dor ancestral, sabe como é.

Música triste na MPB? No momento me ocorre apenas “Beatriz”, de Chico Buarque e Edu Lobo, naquele interpretação absurda de Milton Nascimento. E agora eu vou falar um negócio bem baixinho. Que não nos ouçam: o chato do Oswaldo Montenegro tem uma música muito triste e bonita, “Bandolins”. Mas, se me perguntarem se ouço esse tipo de coisa, negarei até a morte!
Suando pelos olhos

Por falar em morte, e voltando à música sertaneja, temos “Tristeza do Jeca”, “Chico Mineiro” e “Estrada da Vida”. Me ocorre agora que “O Mar”, de Dorival Caymmi, é bem triste também. Se tem música triste do Roberto Carlos? Ah, tem. A depender do clima, do dia, do uísque e da dor-de-cotovelo, aquela flautinha no começo de “Detalhes” basta para marejar os olhos do ouvinte mais sensível. E pode tirar sarro, mas eu choro com “O Portão” – por sinal, outra representação musical da parábola do Filho Pródigo.

Mas nenhuma, absolutamente nenhuma das músicas aqui mencionadas supera uma canção que acabei de conhecer, apresentada pelo meu amigo César Miranda, e que deu origem a este texto assumidamente inútil, para ser lido enquanto você aguarda o início do julgamento do Bolsonaro: “Leilão”, de Heckel Tavares e Joracy Camargo, na voz de Inezita Barroso. Estou suando pelos olhos até agora.

Fonte: Gazeta do Povo

Paulo Polzonoff Jr

Jornalista, tradutor e escritor.

Jornalista, tradutor e escritor.

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