11 de setembro de 2025
Adriano de Aquino

Niall Ferguson

Ler os artigos de Niall Ferguson é se expor aos efeitos de um pensamento indagador e estimulante.

Nesse artigo – trecho ao final – Ferguson coloca em check os roteiros das produções cinematográficas/seriados que, impondo a fórceps o método ‘politicamente correto’ da inserção social, objetivam doutrinar o público no caminho da tolerância e do bem, alterando grosseiramente características históricas.

O seriado da HBO ‘A Era dourada’ é mais um reincidente do modelo.

Como as alterações piegas da produção, ao desvirtuar as rígidas características do convívio social entre classes econômicas, gêneros e etnias de uma época, podem ‘despertar’ acordar (woke) a consciência do espectador da atualidade para uma visão crítica sobre o complexo e difícil percurso histórico?

Na ponta de consumo desses produtos ilusórios, o que se constata é um ultrajante pouco caso pela dor e sofrimento, fracassos e sucessos dos reais protagonistas das lutas históricas em prol da inserção e afirmação social de categorias e etnias outrora violentamente discriminadas.

Assim como Ferguson, muitas pessoas, independentemente de raça, sexo ou categoria social, identificam esses simulacros históricos como um deboche, um desprezo nojento contra a verdade.

Diz Niall: “Eu adoraria acreditar na amizade entre a personagem central branca, Marian Brook (Louisa Jacobson), e a aspirante a escritora negra Peggy Scott (Denée Benton), mas é uma tarefa árdua”.

Fato!

Tem que ser muito cretino para fazer alusão a uma amável relação interpessoal entre uma moça branca e rica com uma moça negra, aspirante a escritora, como ‘mensagem’ subliminar de força e reconhecimento afetivo(sic) dos brancos ‘sensíveis’ como OK para o sucesso da longa e duríssima luta dos negros norte americanos no correr da história.

Nesse contexto demagógico e pueril, imagino o que diria Malcolm X aos bacanas da Era Dourada dos streaming e de Hollywood.

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Niall Ferguson: Nossa Própria Era Dourada
O final do século XIX testemunhou dinamismo econômico e desigualdade, além de controvérsias sobre tarifas, imigração e política monetária. Parece 2025. Mas nem tudo que reluz é ouro.
A Era Dourada serve como um espelho no qual podemos reconhecer muitos aspectos da nossa própria época, escreve Niall Ferguson
“A história nunca se repete, mas as combinações caleidoscópicas do presente retratado muitas vezes parecem ser construídas a partir de fragmentos fragmentados de lendas antigas.”
A citação, com frequência erroneamente interpretada como “A história nunca se repete, mas rima”, vem do capítulo 47 de A Era Dourada , de Mark Twain e Charles Dudley Warner.
Publicado em 1873, este romance raramente lido deu nome a uma época da história americana. A popularidade atual da série de televisão homônima da HBO levanta a seguinte questão: estamos vivendo em uma nova Era Dourada?
Como observou a colunista Peggy Noonan na semana passada no The Wall Street Journal , a série da HBO ressoou. Não se trata apenas de capturar “o clamor, o choque e o fogo do nascimento da América industrial e da invenção da alta sociedade”. É também o fato de oferecer uma visão de uma elite americana aparentemente livre das nossas neuroses modernas.
Em vez do “glamour bizarro do Met Gala”, observou Noonan, o criador do programa, Julian Fellowes, oferece aos espectadores um desfile de fantasias “seguro nos valores que afirma e confiante em suas definições”. O elenco talentoso — Christine Baranski como a esnobe Agnes van Rhijn e Carrie Coon como a intrigante Bertha Russell — tira o melhor proveito de roteiros que às vezes parecem episódios de Downton Abbey traduzidos para o inglês americano pelo ChatGPT.
O que Noonan negligenciou, porém, foi que A Era Dourada também serve como um espelho no qual podemos reconhecer muitos aspectos da nossa época. Essa é, obviamente, a intenção de Fellowes, e é por isso que a série está repleta de anacronismos — especialmente no tratamento de questões raciais. Eu adoraria acreditar na amizade entre a personagem central branca, Marian Brook (Louisa Jacobson), e a aspirante a escritora negra Peggy Scott (Denée Benton), mas é uma tarefa árdua.
É por isso que, se você estiver realmente interessado no que acontece com uma sociedade quando ela passa por uma transformação econômica selvagem comparável à nossa hoje, é mais esclarecedor ler Twain e Warner do que assistir ao drama de época da HBO.”

Adriano de Aquino

Artista visual. Participou da exposição Opinião 65 MAM/RJ. Propostas 66 São Paulo, sala especial "Em Busca da Essência" Bienal de São Paulo e diversas exposições individuais no Brasil e no exterior. Foi diretor dos Museus da FUNARJ, Secretário de Estado de Cultura do Rio de Janeiro, diretor do Instituto Nacional de Artes Plásticas /FUNARTE e outras atividades de gestão pública em política cultural.

Artista visual. Participou da exposição Opinião 65 MAM/RJ. Propostas 66 São Paulo, sala especial "Em Busca da Essência" Bienal de São Paulo e diversas exposições individuais no Brasil e no exterior. Foi diretor dos Museus da FUNARJ, Secretário de Estado de Cultura do Rio de Janeiro, diretor do Instituto Nacional de Artes Plásticas /FUNARTE e outras atividades de gestão pública em política cultural.

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