25 de abril de 2024
Colunistas Joseph Agamol

Ontem roubaram um texto meu

Imagem: Arquivo Google – vpEventos

E eu me senti como se alguém pegasse minha alma emprestada.

Como se alguém usasse meu coração.
Ontem roubaram um texto meu.
Ao usar ideias que não lhe pertencem, sem dar a autoria, você pode até se sentir mais culto, inteligente, cool…
Mas isso é tanta ilusão! Uma frase que não lhe pertence é como uma cinta para modelar o corpo – uma hora você vai ter que tirar.
E se verá nu consigo mesmo.
“Ah, para, é só um texto!”, dirão os ladrões (sim, porque é isto o que são), “todo mundo usa textos da internet…”
Peraê. Todo mundo os colarinhos. Todo mundo, VÍRGULA. Todo mundo QUEM, cara-pálida?
O degas aqui, por exemplo, não copia nem textos que já se sabe que a autoria é desconhecida – ou, se o faço, esclareço sua natureza apócrifa. Até fotos só uso se tiverem autoria comprovada – e eu atribuo.
Quem rouba textos pode achar que ama a leitura – mas, na verdade, a odeia. Porque a desvaloriza, objetifica, reduz a algo que, se pode ser roubado sem constrangimentos, é porque é coisa de menor importância, que ninguém vai ligar. Que ninguém vai dar falta.
Ontem roubaram um texto meu.
Você, que entra em residências virtuais à noite, e escolhe o texto que vai levar, como um ladrão físico escolheria uma joia, um casaco, uma bebida fina, já parou para pensar que, ao roubar um texto, você pode estar roubando de quem escreve:
Algumas horas do sono.
Alguns momentos em companhia dos filhos. Ou dos pais. Ou de quem se ama.
Uma caminhada na praia, os dedos afundando na areia, a água e o sal mordiscando os pés.
Quem rouba um texto, em última instância, rouba um pouquinho da alma de quem escreve.
Então, sinto lhe dizer, mas você não passa de um vampiro.
Ontem roubaram um texto meu.

Joseph Agamol

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

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