28 de abril de 2024
Colunistas Walter Navarro

Uma Fábula Cabulosa e Fabulosa

Era uma vez uma casa linda, grande, abençoada por Deus e cercada por babilônicos jardins. Claro, tinha alguns defeitos; problemas seculares de estrutura e construção: umas telhas quebradas, infiltrações; pedia pintura, manutenção na parte elétrica e hidráulica.
Os jardins, com árvores gigantes e frondosas também tinha um pouco de mato, onde um jardineiro seria bem vindo. A piscina só precisava de uma limpeza e algum cloro. Mesmo assim, a casa continuava grande, linda e cercada por jardins de Cecil B. DeMille.
Um dia, o dono da casa, cansado de cuidar de tudo e gastando muito na manutenção, alugou a casa para um inquilino, sem fiador, nem avalista, que prometeu cuidar do conjunto: “Vou mudar tudo, recuperar tudo, como nunca antes na História desta casa. Uma reforma geral, da estrutura, até uma limpeza radical e uma decoração completamente nova, inédita”. E assim foi.
Nos primeiros meses, só festa e muito movimento na casa, um entra e sai danado. Parecia realmente que o cara ia cumprir o prometido mais que combinado.
Tanto que o primeiro contrato acabou e rapidamente foi renovado. Mesmo com os vizinhos reclamando do barulho e do mau cheiro que exalava da linda casa, aconteceu nada. O segundo contrato terminou e o estranho inquilino resolveu tirar férias, deixando uma companheira tomando conta. Aí começaram os problemas. A fedentina aumentou, o barulho ficou insuportável, a piscina virou pirão e as árvores foram cortadas como Pau Brasil.
Os vizinhos reclamaram tanto que o dono da casa, muito distraído, finalmente, atendeu suas súplicas, chamou a polícia e despejou a inquilina terceirizada da casa, por justa causa. No lugar dela, ficou um gerente soturno, para cumprir contrato. Dois anos depois, o gerente saiu pelo portão dos fundos e só então o proprietário foi visitar sua vivenda. Lá chegando, ficou horrorizado com o que viu depois de sua propriedade passar 16 anos nas mãos dos três elementos.
Ao adentrar o espaço, o dono começou a cantar: “Era uma casa muito engraçada. Não tinha teto, não tinha nada. Ninguém podia entrar nela não porque na casa não tinha chão. Ninguém podia dormir na rede porque na casa não tinha parede. Ninguém podia fazer pipi, porque penico não tinha ali”. E concluiu: minha casa até parece ter mudado de endereço, da Avenida Brasil para a Rua dos Bobos, número Zero.
O estrago foi tanto que o proprietário denunciou o responsável, o primeiro locatário, que foi preso. Pegou 12 anos de cadeia. A casa, mesmo em estado deplorável, conseguiu ser alugada por um inquilino completamente diferente dos três primeiros. Um homem que, há muito, amava aquela casa sobre todas as coisas. Assim, prometeu fazer tudo, refazer tudo, reformar tudo, recuperar tudo, desde a base.
Este “louco”, nas palavras dos vizinhos, instalou-se na Terra Arrasada: tudo quebrado; paredes caindo, sujas de sangue, urina e fezes. Ratos, baratas, escorpiões e outros “bichos escrotos”; mofo e goteiras por todos os lados. Portas, janelas, lustres e até tijolos roubados.
O jardim estava devastado e povoado por ervas daninhas e flores carnívoras. O novo morador achou até sacos de dinheiro enterrados e podres pela umidade. Parecia o quintal do Pablo Escobar. Na piscina, lama e uma criação de crocodilos insaciáveis, guapervas famintas e piranhas assassinas.
Às próprias custas, o novo inquilino, com equipe de profissionais, limpou e consertou o espaço. A casa voltou a ser linda e elegante. Plantou novas árvores e a piscina parecia coisa de filme de James Bond. Foi tudo muito difícil porque a destruição e o saque foram totais. Depois de gastar todo seu capital na casa, enfrentar uma Brumadinho, uma pandemia e uma guerra, faltou dinheiro para o aluguel de R$ 22. Incompreensivelmente; esbanjando ingratidão, burrice e desonestidade, o proprietário não pensou duas vezes e resolveu alugar a casa de novo.
Com a casa, literalmente arrumada, limpa, pronta; muitos interessados apareceram; inclusive o primeiro locatário, quando fugiu da prisão. O proprietário avaliou os candidatos e dispensou vários, mas estranha e absurdamente reteve as propostas do primeiro e do último locatários. Ficou de decidir até dia 30. E vocês leitores, quem escolheriam? O que destruiu ou o que reconstruiu?
Moral da fábula: Vocês querem Pátria Amada ou Pátria Mamada? Desordem ou Progresso? Queridos indecisos, idolatradas indecisas! Amados correligionários da Abstenção! Prestem atenção. Estamos num mar de almirante com céu de brigadeiro. Vocês querem o Brasil como o Titanic e o dirigível Hindenburg?
Falem sério! Prestem atenção! Não estamos elegendo um poeta, mas um general contra o Mal! Cuba, Venezuela e Argentina já foram lindas. Pensar não dói. O Brasil tinha morrido, mas hoje passa bem. Saiu dos aparelhos.
Falar a verdade com palavrão ou mentir com toda gozação e cachaça em garrafinha de água? Pensem! Relembrem! Comparem e votem! Força! Otimismo! Coragem! Liberdade ainda que tarde! Beijos, abraços e carinhos sem ter fim.

PS: O Brasil não tem seguro, mas pode ter futuro.

Walter Navarro

Jornalista, escritor, escreveu no Jornal O Tempo e já publicou dois livros.

Jornalista, escritor, escreveu no Jornal O Tempo e já publicou dois livros.

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