28 de março de 2024
Walter Navarro

Se você quer ser minha namorada


Que linda namorada você poderia ser. Se quiser ser somente minha, exatamente essa coisinha, essa coisa toda minha, que ninguém mais pode ser.
Quer dizer, isso era coisa do Vinicius. Muito possessivo. Mesmo porque, adianta nada. O que a gente segura apertado, vaza entre os dedos.
Você tem que me fazer um juramento, de só ter um pensamento, ser só minha até morrer.
Outro exagero do Vinicius, “sorry”. A gente nem sabe quem vai morrer primeiro… A não ser que façamos um pacto de morte, como aquele do The Smiths, em “There is a light that never goes out”, onde o Morrissey viaja na batatinha: “And if a double-decker bus crashes into us, to die by your side is such a heavenly way to die. And if a ten-ton truck kills the both of us, to die by your side, well, the pleasure – the privilege is mine”.
Quanto drama, Batman!
Voltemos à parte boa do Vinicius: Você tem que me fazer um juramento, de não perder esse jeitinho de falar devagarinho essas histórias de você. E de repente me fazer muito carinho e chorar bem de mansinho, sem ninguém saber por quê.
Este Vinicius… Canalha! Valia nada! Posso ser canalha, sem te fazer chorar.
Prometo te tratar como você é, única! E claro, te dar orgasmos de Exorcista…
Prometo nunca gritar. Principalmente “Lula Livre”, “Fora Temer” e, muito menos, “Fora Bolsonaro”…
Mas, Michelle ma Belle, pode me chamar de Jair às margens plácidas…
Prometo invadir teus latifúndios róseos e produtivos, sem a ira do Irã ou a fúria do MST. E só tomar posse, só te possuir, por vontade tua, um quilo de sorvete ou usucapião.
Prometo te chamar de Petrobras e só roubar beijos, “Cadê Petróleo?”.
Beijos roubados e, em vez de furtos, muitos frutos do mar, minha Garoupa de Ipanema.
E por falar em Copacabana, caso forças ocultas me obriguem a roubar, no lugar de um tríplex barango em Atibaia, te prometo um duplex em Paris, com vista pro mar do Leblon.
Prometo não te mentir, nem enganar. Curitiba, só pra fazer turismo, OK?
E respeitar, venerar tua urna. Votar sempre. Violar apenas meus desejos e respeitar os teus, atender os teus, com um escravo de Jó, um remador de Ben Hur.
Prometo não clonar teu celular, gravar tuas conversas com o Moro e nem deturpar. Confio em vocês dois.
Impeachment? Só de sair da banheira e da cama. Do tapete, atrás do tanque, no mato.
Prometo sobretudo não fazer promessas de campanha. Já chego cumprindo todas e beijando a nuca.
Você acima de todas, de tudo e em cima de mim.
Quando eu cansar, a gente troca de posição e volta ao Vinicius: Porém, se mais do que minha namorada, você quer ser minha amada, mas amada pra valer, aquela amada pelo amor predestinada, sem a qual a vida é nada, sem a qual se quer morrer, você tem que vir comigo em meu caminho e talvez o meu caminho seja triste pra você.
Mas com muito mais risadas.
Os seus olhos têm que ser só dos meus olhos, os seus braços o meu ninho, no silêncio de depois. E você tem que ser a estrela derradeira, minha amiga e companheira, no infinito (enquanto dure) de nós dois.
My linda little girl blues. Conta teus medos e pode contar, juntos, temos 20 dedos.
PS: Se você quer ser minha namorada, eu também sempre “kiss”.

Walter Navarro

Jornalista, escritor, escreveu no Jornal O Tempo e já publicou dois livros.

Jornalista, escritor, escreveu no Jornal O Tempo e já publicou dois livros.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *