20 de abril de 2024
Walter Navarro

O Chuveiro do Cupido


Hoje, hospedei-me no “Memory Hotel”.
Até tentei acompanhar o “Freak Show” do STF, mas comecei a me achar mais um palhaço naquele Carnaval. Mentira! Foi ânsia de vômito mesmo.
Então, com saudades da Albânia, fui ouvir músicas italianas.
Comecei por “Crapa Pelada”, que conheci ontem, na viciante série “Breaking Bad”. Passei para Paolo Conte que adoro e, como um Youtube puxa outro, acabei num clipe em P&B, com uma Sophia Loren em forma de cantora, Mina, rebolando “Tintarella di Luna”, de 1959.
“Tintarella di Luna” é, nada mais nada menos que a nossa “Banho de Lua”, sucesso em 1960, com Celly Campello.
Para não me alongar, chamo o amigo Google: “Para tristeza de toda uma geração Celly abandonou a carreira no auge, aos 20 anos, para se casar e morar em Campinas. Foi em 1962, com José Eduardo Gomes Chacon, o namorado desde a adolescência e passou a se chamar Célia Campello Gomes Chacon”.
Pausa para juntar nossos destinos.
No ano em que Celly casou-se, em Campinas, nasci em Barbacena.
O que nem o Google sabe, conto agora. Por que Campinas?
Porque o marido dela, trabalhava na refinaria de Paulínia, ao lado de Campinas…
Meu pai também… Logo, os dois eram colegas, amigos.
Durante muito tempo, eu e meus irmãos, crianças, frequentamos a casa do Dr. Chacon, como o chamávamos.
Eu nem imaginava que a D. Celly era a Celly Campello.
Tia Celly é coisa de paulista, para nós era D. Celly.
O Ferreira Gullar tem um verso lindo assim: “…Pastilhas de aniversário, domingos de futebol…”.
E era exatamente isso que acontecia, sempre aos domingos. Domingos de bolo e Coca-Cola.
Crianças, ao todo, éramos sete, cinco lá de casa, dois na casa dos Chacon.
Até aí tudo bem. Era apenas mais uma família em nosso convívio banal. A Coca-Cola gelada e a TV eram bem mais interessantes.
Isso até 1976, quando aconteceu a novela “Estúpido Cupido”, cujo tema principal era outro sucesso de……. Isso mesmo, Celly Campello.
Novela em P&B, muito boa. O Ney Latorraca era o galã, Mederequis, numa lambreta… Historinha bobinha e deliciosa de Cupido.
E eu era apaixonado (tarado) pelas “mocinhas”, Françoise Forton e Djanane Machado. Lindas, suculentas!
E a novela, de Mário Prata, era engraçada, muito boa. Isso a Globo não mostra, nem no Canal Viva!
Era muito engraçado, mesmo aos 14 anos, descobrir que D. Celly era uma grande artista. Ou tinha sido um “Broto Legal”.
Atrás de “Estúpido Cupido” ressuscitaram outros sucessos, como o já citado “Banho de Lua”.
D. Celly até tentou trocar de chuveiro, de banheira para Jacuzzi; mas o tempo mostrou-se mais estúpido que o Cupido.
A novela acabou, o sonho também. Só ficaram o milho, a pipoca e a Coca-Cola.
Vida, tempo e espaço nos separaram e só de vez em quando, ouvindo as músicas ou em conversas de domingo, agora regadas a vinho, lembrávamos da doce D. Celly, como estou fazendo neste exato instante.
Deixamos tudo isso e Campinas para trás.
Só tivemos notícia dela, mil anos depois, e foi a pior de todas.
Please, Mr. Google: “Vítima de um câncer de mama, Celly faleceu em 4 de março de 2003, no Hospital Samaritano, sendo sepultada no dia seguinte no Cemitério Parque Flamboyant, ambos localizados em Campinas”.
O hospital não conheço. O cemitério até demais.
ps: Não sou chegado em banho de lua, prefiro água. Mas, enquanto Cupido continuar estúpido, bêbado e um canalha, sempre me lembrarei de D. Celly, com Coca-Cola Zero e afeto.
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Walter Navarro

Jornalista, escritor, escreveu no Jornal O Tempo e já publicou dois livros.

Jornalista, escritor, escreveu no Jornal O Tempo e já publicou dois livros.

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