24 de abril de 2024
Walter Navarro

Mamãe eu quero ir a Cuba quero ver a vida lá


Este título é do Caetano, mas, hoje, quando escrevo, é 30 de abril, aniversário de minha mãe, então, tenho meus direitos.
Vocês querem que eu fale de quê? Do novo ministro do Trabalho, Brizola Neto; do sexo selvagem entre Dilma e Fernando Pimentel; da queda dos juros e da dentadura; daqueles fazendeiros degolados em Goiás; do filho do Leonardo que está em estado grave, mas estável; da CPI do mensalão; da CPI do Cachoeira, das eleições na França e nos EUA; da influência da maconha no pacote de austeridade da Holanda; do campeonato mineiro; do 1º de maio; do novo código florestal, do meu feriado em Barbacena; da minha vida amorosa ou da viagem a Cuba?
OK, vocês venceram. Vou falar da inesquecível primeira vez em Havana.
Deixei vocês a ver navios no Canal do Panamá, lembram? Pois é. Da Cidade do Panamá à Havana são duas horas de avião, no caso, da Copa Airlines. Gostei muito do serviço. Tem almoço e jantar de verdade. Antes de comer eu pedia, nessa ordem: um uísque para abrir o apetite, um vinho para a refeição e uma água pra lavar a garganta, já que a alma não tem jeito que dê jeito.
Aterrissei cheio de euros e solidariedade pra dar. Euros porque o dólar lá é desvalorizado. E eles têm duas moedas, uma que vale nada, para os cubanos e o convertível CUC, para turistas, que equivale ao dólar. Então já podem imaginar que, os preços em Cuba têm nada de bloqueio.
Tomei uma dura no aeroporto porque, como adoro catar lixo (souvenir), detectaram uma pedra verde que peguei na Cidade do Panamá. Acharam que era droga. Mas depois de minuciosa inspeção dos funcionários e até da supervisora chefe, concluíram que a pedra era mesmo apenas uma “piedra” no meio do meu caminho. Confesso que pintou um desespero na fila.
O turismo na Turquia ficou, durante anos, prejudicado pelo filme “O Expresso da Meia-Noite”. O de Cuba também, por causa da propaganda americana. Achei que iam me mandar para o “paredón”, sem direito a advogado. À minha frente, uns sete cubanos, cada um com três ou quatro malas gigantescas. Os dois primeiros ficaram quase duas horas abrindo malas e dando explicações inúteis porque confiscaram toda a bagulhada deles. A mulher, com a filhinha, tinha duas caixas enooooooormes de papelão cheias de brinquedos. O segundo sacoleiro tinha malas repletas de colares, pulseiras e outras bugigangas. A mulher chorava e brigava, o cara tentava levar os controladores no bico. Não deu certo. Pensei que fosse sair de lá seis horas depois ou mais e à noite. E sairia, não fosse o bom senso de um dos funcionários que percebeu minha pinta de turista, a mala solitária e normal; tirando-me da fila.
Mesmo assim, fiquei lá quase duas horas. Quando saí, troquei 200 euros e dividi um táxi com casal de El Salvador, até Havana. Fazia calor e ainda era dia claro. A estrada, melhor que as do Brasil, é repleta de outdoors defendendo a Revolução; com frases de efeito, palavras de ordem e culto à personalidade de Fidel e Che Guevara. Mas em Havana, se vê muito mais fotos e referências a Che Guevara do que a Fidel, provando que comunista bom é comunista morto.
O motorista do táxi, coitado, caiu na besteira de perguntar de onde eu vinha. Ao saber, começou a perguntar sobre Lula… Contei tudo! Acabei com Lula! Fiz a minha parte. Faço isso em toda viagem ao exterior. No mínimo alguém agora sabe que Lula e bando não são unanimidade no Brasil. O casal salvadorenho ria atrás de mim e perguntou sobre Fidel… O motorista disfarçou, pigarreou, tossiu, ficou quieto e nos depositou nos devidos hotéis.
Cheguei achando a cidade linda como sempre imaginei. Velha, mas ainda dá um caldo. Repito. Cuba é o paraíso para turistas e o inferno para os cubanos. O hotel, Habana Libre, uma maravilha. Meu quarto, com duas camas de casal, é do tamanho do meu apartamento em BH. A piscina, um deleite, um convite ao ócio, à cerveja e ao sol inclemente e biquínis. Confesso ter ficado emocionado ao ouvir, entre um mergulho e outro, aquele hino de Che Guevara, “Hasta siempre comandante”.  Hotel dos mais capitalistas. Cheio de lojas, bares e restaurantes. Um lobby imponente, cheio de pilastras e jardins. As meninas da recepção e as garçonetes são lindas e gostosas, louras de olhos verdes ou azuis. Não resisti. Depositei minhas tralhas no quarto e fui para o bar onde devorei dois mojitos e quatro cervejas. Ops! Estou apenas nas primeiras horas em Havana e o espaço acabou.
PS: Semana que vem conto como comer uma cubana sem fazer esforço. Se eu quiser, claro.

Walter Navarro

Jornalista, escritor, escreveu no Jornal O Tempo e já publicou dois livros.

Jornalista, escritor, escreveu no Jornal O Tempo e já publicou dois livros.

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