27 de abril de 2024
Colunistas Walter Navarro

E sem querer gritei Gooooooooooooooool

Ano passado foi, literalmente, ímpar. Havia a expectativa de 2022, ainda melhor, mas… como no final do filme “O Falcão Maltês”, descobrimos que sonhos são feitos; não em ouro, mas em chumbo, ouro de tolo.

Por exemplo, o dia que você compreender por que as pizzas são redondas, embaladas em caixas quadradas e depois, consumidas em triângulos; talvez entenda o que aconteceu com o Atlético Mineiro em 2022, depois de ganhar quase tudo em 2021, inclusive o Brasileirão, após 50 anos.

Gritávamos gol do Hulk e completávamos com “E o Galo? O Galo ganhou”.

Aí veio 2022 e o Galo voltou às raízes. Vexame na Copa do Brasil, na Copa Libertadores e no Brasileirão.

Mas nem tudo estava perdido. Tínhamos pela frente uma Copa do Mundo esquisitona, no deserto; no fim do mundo e do ano.

A pandemia e o medo estavam passando e, na contramão do planeta, o Brasil nadava em mar de almirante, voava em céu de brigadeiro e corria em terra de general. Talvez esteja resumido aí o papel das Forças Armadas: ilustrar expressões e clichês.

No mato sem Galo e esperando nada da Seleção Brasileira, que tinha tudo para repetir o papelão de 2018 na Rússia, foquei no Brasil e nas eleições para presidente.

Finalmente, País do Futuro à vista. Ou a prazo, em mais quatro anos a perder de vista.

Não choverei no molhado. Até os marcianos da Rita Lee sabem o que está acontecendo. 2022 está goleando 1984. O Brasil está tão absurdo que inverteu a natureza. Um pesadelo sem dormir.

Foi onde entrou a Copa do Mundo, como “um pouquinho de saúde, um descanso na loucura”.

Realidade e certezas, no Brasil, só no Catar. E olhe lá! Na Imprensa, só no Esporte. O resto é novela e circo. Ilha da Fantasia.

Pensando bem, nem no Esporte. Não vi, nem li que, brasileiros de bem, na Fórmula 1 em São Paulo e na Copa do Catar, gritaram para o mundo: “Ladrão, teu lugar é na prisão”.

Com não canso de repetir, a honestidade persegue o presidiário, mas ele é mais rápido.

Sempre disseram que a Copa de 1970 foi uma anestesia, ópio para o povo esquecer a “Ditadura Militar”. Quem diria! A Copa de 2022 é uma anestesia contra a “democracia em forma de fraude”.

Os quartéis viraram miragem, ilusão de vodca. E aí, mais uma dose! É claro que eu tô afim.

E agora, Mané? A festa acabou; a luz apagou, o povo sumiu na multidão, o verão esfriou. E agora, Mané?

O riso não veio. Não veio a utopia. E tudo acabou. E tudo fugiu E tudo mofou. E agora, Mané? Com a chave na mão, quer abrir a porta, não existe porta na casa engraçada, que não tem teto, tem nada, ainda que feita com muito esmero, na Rua dos Bobos, número zero.

Aí, você lembra que tem Copa do Mundo. Vê todos os jogos, um atrás do outro. Até vibra com as goleadas, ri da Argentina e a Alemanha.

Mas é tudo automático, o dia acaba; a noite continua sem fim. Constelações de alfabeto. Noites escritas a giz. Pastilhas de aniversário. Domingos de futebol.

Domingo que vira quinta feira. Jogo do Brasil, gol do Richarlison e o grito. Acordei! Vencemos! Vai dar certo! Agora vai! Acabou o pesadelo. Viva o Brasil! Viva la vida! Mas era só um jogo e o jogo acabou. E agora, Mané?

Mané, e agora? Se você gritasse, se você gemesse, se você tocasse piano. Mas é preciso ter mãos pálidas!

Ops! Para tudo! Segunda feira está chegando, tem Brasil e Suíça, às 13h. Lá vem mais felicidade. Lá vem a Walter Egotrip: eu te amo, eu me adoro, eu não consigo viver sem mim.

Assim, ninguém entendeu, quando o dia amanheceu. Os dois pelados na Praça da Bandeira, que jamais será vermelha, cantando o samba da Mangueira.

Quando chegaram os camburões, saíram assoviando o hino da República dos Camarões, dia 2 de dezembro, deste ano dourado. Mas raspa não, que no fundo é chumbo.

Se pelo menos você dormisse, Mané! Se você sonhasse, veria que, depois do Guimarães Rosa, Cazuza, Drummond, Vinicius, Ferreira Gullar; chegam o Jorge Ben, os alquimistas e os generais. Ou não!

PS: Se você morresse! Mas você não morre. Você é mole, Mané! Sem parede ou mulher nua, para se encostar, sem cavalo preto, que fuja a galope, você marcha, Mané! Mané, para onde? Para Brasília ou para o exílio, uai.

Walter Navarro, com Malícia, no País das Maravilhas, 25 de Novembro de 2022.

Walter Navarro

Jornalista, escritor, escreveu no Jornal O Tempo e já publicou dois livros.

Jornalista, escritor, escreveu no Jornal O Tempo e já publicou dois livros.

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