25 de abril de 2024
Vera Vaia

Casos de Família!

Aos domingos costumo trazer minha mãe pro almoço e aqui ela fica até o fim da tarde da segunda.
Nesses dois dias televisivos junto dela, tenho a oportunidade de enriquecer meu cabedal de conhecimentos com os edificantes programas do Faustão e o do Silvio Santos.
Ambos proporcionando um alto grau de cultura para o povo.
Já vi o Faustão fazendo propaganda do livro do seu “grande amigo”, Carlos Heitor “Cone” ou mandando abraços para o Ariano Suassuna,  um ano após sua morte. Vi também ele convidando o público para o lançamento do livro da Helô Pinheiro, “A Eterna Garota de Pro…de Ipanema”.
Já vi o Silvio reclamando com sua mulher Iris, que estava na plateia, que ela só faz novela para criança: “Porque você não faz “O FANTASMA de Notre Dame”, dirigida aos adultos?
Quando não é isso, ele está provocando as meninas pedindo rimas improvisadas para a Gravadora Cometa, e sempre na esperança de que alguém dê uma resposta que vá de encontro aos seus pensamentos libidinosos.
Às segundas, quando penso em modorrar um pouco no sofá, depois de cuidar dos afazeres da casa, ela, minha mãe, pede pra eu ligar a TV no SBT que “já vai começar o Casos de Família”.
Para quem tem a felicidade de nunca ter visto esse programa apresentado por Christina Rocha, eu explico: pessoas discretas e bem educadas, usam as cadeiras do estúdio como se fossem divãs de psicanalista e vão vomitando tudo o que lhes vem na cabeça. São casais que brigam entre si, marido que briga com a sogra, mulher que dá pro sogro, o tio que rouba o cofrinho do sobrinho, o primo drogado que traça a prima, a vizinha que varre o lixo pra frente do portão da outra, a cunhada que tá tendo um “causo” com o cachorreiro-quente, o vizinho de cima que ouve música clássica no último volume (Betôve, ninguém merece”!) e por aí afora.
E o programa segue nessa balada:
-“você não é homem! Você bate na sua mulher” grita a apresentadora.
-“sou sim e ela vai continuar apanhando pelo resto da vida”
Aproveito esse momento para tirar alguma vantagem. Assim que o programa  começa, me esqueço rápido da preguiça,  corro para o supermercado e assim adianto mais uma tarefa diária.
No fim de semana passado, tive a oportunidade de acrescentar um pouco mais de conhecimento ao meu vasto currículo cultural, assistindo ao debate Trump X Hillary!
Teria sido hilário, se não fosse protagonizado por dois candidatos que pretendem presidir o país que é o epicentro das grandes decisões mundiais.
Cadê estabilidade emocional dos dois? Cadê ética? Cadê requinte? Cadê nível? Cadê um pouco de barakobamismo?
Se o debate não fosse falado em inglês, dava pra pensar que a TV tinha mudado o horário do Casos de Família.
Os dois lavaram em público, cestos e mais cestos de roupa suja, numa série de acusações que seguem, mais ou menos, essa linha.
-um cara que pega a mulher pela “pussy” não  pode ser presidente!
-ah, é? O seu marido é que fica assediando mulheres e se deixando monicalevinskar por debaixo da mesa e eu é que não presto?
-você não paga imposto!
-e você que usa o e-mail da Casa Branca  e mistura receita de bolo com assuntos top secrets do governo?
-você não gosta de negros, de latinos, de muçulmanos, de gente com defeito físico, etecetera e tal.
-e você que finge ser a avó do século e nem gosta de criança.
E assim, entre tapas e nenhum beijo, o debate, ou o combate seguiu nesse nível até o fim.
Bom, pelo menos, isso serviu pra gente saber que barraco não é exclusivo do terceiro mundo.

Vera Vaia

Mãe de filha única, de quatro gatos e avó de uma lindeza. Professora de formação e jornalista de coração. Casada com jornalista, trabalhou em vários jornais de Jundiaí, cidade onde mora.

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Mãe de filha única, de quatro gatos e avó de uma lindeza. Professora de formação e jornalista de coração. Casada com jornalista, trabalhou em vários jornais de Jundiaí, cidade onde mora.

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