28 de março de 2024
Editorial

Tentando explicar o inexplicável

Foto: Arquivo Google

Merece registro a imagem do presidente Temer acompanhado por um punhado de parlamentares na primeira página dos jornais. A foto nos remete ao filme “Todos os homens do presidente”, sobre o escândalo Watergate que culminou com a renúncia do presidente Richard Nixon, em 1974. Nos EUA, o gatilho foi a descoberta de microfones ocultos na sede do Partido Democrata, meses antes da reeleição do republicano Nixon. Aqui, é uma gravação oculta que revela uma conversa comprometedora entre o presidente e um empresário. Em comum, ambos os presidentes em pleno exercício dos mandatos.
Em pronunciamento, Temer se disse vítima e alegou que faltam provas consistentes que possam incriminá-lo. Usou e abusou de subterfúgios, prática adotada por todos os políticos acuados, falando o tempo todo de “ilações”. Um pronunciamento fraco, esfacelado e dissimulado pela tentativa semântica de seu convencimento. Ao que parece, Lula fez escola. Não é à toa que o nome completo de Temer é: Michel Miguel Elias Temer Lulia. Assim, Temer vai dando uma de Migué (Miguel), como Lula (Lulia).
Temer perdeu a chance de ficar calado. É caso típico de quanto mais se explica mais se enrola no mesmo novelo. “Não sei como Deus me colocou aqui”, disse. Haveria Deus tramado acusações contra Dilma, com suas pedaladas? Deus combinou com ele de colocar um presidente da Câmara enfiado nas mesmas falcatruas para produzir uma peça de ficção e conseguir tirar a presidente? Deus colocou um empresário no Jaburu para jogar conversa fora? Deus colocou R$ 500 mil na mala para incriminar o presidente? Outras evidências de crimes são fartamente identificadas, mas lamentável mesmo é uma parcela considerável da população que tanta panela bateu não se manifestar.
A PGR, finalmente, apresentou a primeira denúncia contra o presidente Temer ao STF. Os garotos “Freeboys” afirmaram ter comprado 1.829 políticos. Temer precisa só de 172, com um poder de barganha muito maior que o dos garotos. Nos próximos dias, vamos acompanhar mais um espetáculo circense dos três poderes, para regozijo de muitos, e o povo que se dane. Mas como o povo precisa de pão e circo, continua só faltando o pão.
Sem entrar no mérito da denúncia de Janot contra Temer, por que não foram feitas as três de uma vez: corrupção passiva, obstrução da Justiça e organização criminosa? Se a Câmara não aprovar a denúncia, virão mais duas? Outra anomalia, ainda na PGR, foi a escolha do substituto de Janot. Por que insistir nesta história de lista tríplice, com o Executivo, mais uma vez, imiscuindo-se nas coisas do Poder Judiciário. Já indicam os ministros do STF e do STJ, o que já lhes dá um bom handicap nas eventuais ações a serem julgadas pelos ministros indicados. Não escolhendo da lista de 3, o mais votado, o Executivo demonstra mais uma vez a tendência a se proteger e se resguardar para o futuro. Espero que a Dra. Raquel Dodge cumpra seu dever, isentando-se de olhar, com olhos diferentes, quem a indicou.
O país ficou estarrecido com o pronunciamento do atual presidente da República: ou ele está agindo com leviandade, ou é necessário pedir ao Supremo Tribunal Federal que o submeta a uma junta de psiquiatras forenses. Pois, seguramente, Temer está descolado da realidade, e somos 200 milhões de habitantes em risco de sermos chamados de imbecis.

Valter Bernat

Advogado, analista de TI e editor do site.

Advogado, analista de TI e editor do site.

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