1 de maio de 2024
Editorial

As inúmeras gafes de Lula

Foto> Google Imagens – Revista Oeste

Completados seis meses desde que retornou ao comando do Palácio do Planalto para o seu terceiro mandato, Lula coleciona uma série de gafes e falas polêmicas sobre os mais variados assuntos. As declarações do mandatário vão, desde comentários controversos sobre minorias e ditaduras, a declarações que envolvem a política externa de outros países.

As derrapadas de Lula, em seus discursos improvisados, têm abalado a imagem do governo, que já não era boa, salvo para seus seguidores, ávidos por programas populistas e no melhor “tudo pra mim e dane-se o Estado”. Além do que, essas declarações incendeiam ainda mais a polarização e alertam para a necessidade de Lula conter suas falas não programadas.

Em alguns casos, ele reconheceu o erro e pediu desculpas, mas estas situações causam um enorme desgaste na sua já tão desgastada figura. A oposição fica, obviamente, reverberando nas redes sociais esses tipos de ‘equívocos’, que não são somente retóricos, ou causados por um orador que não está na melhor forma (nem sua voz), mas que muitas vezes decorrem da falta de uma melhor definição sobre determinadas políticas.

Certamente chegou a hora de Lula eliminar o improviso. Seguir o roteiro, para ele deve ser um mantra. Ele precisa entender que uma coisa é ser um agitador como líder sindical ou candidato em cima de um caminhão, outra coisa é ser um agitador como presidente. Há consequências!

Lula não pode mais ser espontâneo e intuitivo. Se ele quiser fazer um um governo compatível com as expectativas que ele próprio criou, vai ter que realizar um esforço de discrição, consistência e precisão, sobretudo no que se refere ao que ele, verborragicamente, fala.

Uma das prioridades do governo Lula é, como foi dito por ele, “pôr a política externa nos eixos”. Ele considera que a política externa tem que ser feita “olho no olho”, o que não é bem assim. As suas viagens geram um custo enorme para o país, principalmente hospedando-se em suítes reais ou presidenciais a cada viagem, como foi nesta última, onde gastou mais de R$500mil. E já se foram 22 viagens desde o início de seu governo. Quase 20% do tempo de seu governo ele passou viajando. O custo total destas viagens foi de R$ 2,6 milhões, somente nos 5 primeiros meses de 2023.

Nem vou falar das derrapadas da campanha, porque ali vale tudo, como se diz. Vamos relembrar algumas escorregadas presidenciais.

Sobre a guerra Rússia x Ucrânia: ele disse: “o presidente Zelensky, quis a guerra. A quem interessa essa guerra? A razão dessa guerra, por tudo o que eu compreendo, que eu leio e que eu escuto, seria resolvida aqui no Brasil em uma mesa tomando cerveja. Teria resolvido aqui, senão na primeira cerveja, na segunda; se não desse na segunda, na terceira; se não desse na terceira, até acabarem as garrafas a gente ia fazer um acordo de paz. É preciso que os Estados Unidos parem de incentivar a guerra e comecem a falar em paz. É preciso que a União Europeia pare de incentivar a guerra e comece a falar em paz”. Evidentemente, a Casa Branca reagiu. Um porta-voz do governo americano chegou a dizer que a posição brasileira é profundamente problemática e que o país estaria espalhando propaganda russa e chinesa sobre a guerra. A União Europeia também se manifestou. “Não é verdade que os Estados Unidos e a União Europeia estão ajudando a prolongar o conflito. Nós oferecemos inúmeras possibilidade à Rússia de um acordo de negociação em termos civilizados”, disse Peter Sano, porta-voz para Assuntos Externos da União Europeia. Depois, em Portugal, Lula tentou corrigir rumos ao enfatizar que o Brasil condena as ações da Rússia na Ucrânia, mas já era tarde.

Venezuela: No fim de junho, em entrevista a uma rádio do Rio Grande do Sul, outro deslize foi mal visto pela comunidade internacional. Lula afirmou: “a Venezuela tem mais eleições do que o Brasil. O conceito de democracia é relativo para você e para mim. É uma narrativa! O conceito de democracia é relativo para você e para mim”. Isso foi um vexame internacional que rasgou de vez a fantasia da ‘frente ampla democrática’. Depois de estender o tapete vermelho para Nicolás Maduro – pária mundial por razões óbvias – o petista declarou que o tirano venezuelano é um governante legitimamente eleito e que a Venezuela, portanto, é uma democracia exemplar. Lamentável!

Gordofobia: Em duas situações, desde o começo da gestão, o presidente fez piada com a obesidade do ministro da Justiça Flávio Dino. “A obesidade causa tanto mal quanto a fome. É por isso que Flávio Dino está andando de bicicleta”, disse o presidente na ocasião. Lula repetiu o gesto durante uma reunião ministerial: “Essa reunião vai demorar pelo menos umas seis horas ou um pouco mais. Não teremos almoço. O almoço será uma comida leve servida aqui na mesa, ninguém precisa se levantar. Enquanto um fala, os outros comem e assim a gente vai revezando a nossa degustação na hora do almoço. O Flávio Dino também, mas nós vamos trazer pouca comida para ele”, disse o presidente durante a abertura da reunião. Será que o ministro aceitou bem a “brincadeira”?

Sérgio Moro: Lula concedeu uma entrevista na qual relembrou o período em que esteve preso. O presidente disse que, sempre que alguém lhe perguntava se estava bem, ele respondia “Só vou ficar bem quando eu foder com o Moro”. Dias depois, quando veio à tona um plano do PCC para sequestrar Sérgio Moro e seus familiares, Lula desacreditou o episódio. O petista disse que o plano era uma armação do seu antigo algoz da Lava-Jato. “Quero ser cauteloso. Vou descobrir o que aconteceu. É visível que é uma armação do Moro”, disse o presidente. Rixa à parte, não pode o presidente incitar este tipo de conflito.

Ataque a uma creche em Blumenau-SC: Lula também cometeu uma gafe ao comentar o ataque a uma creche em Blumenau, em Santa Catarina, onde 4 crianças morreram. Ele falou que “pessoas que sofrem com deficiência intelectual têm problema de desequilíbrio de parafuso”. A OMS sempre afirmou que, na humanidade, há 15% de pessoas com algum problema de deficiência mental. Se esse número é verdadeiro, e você pega o Brasil com 220 milhões de habitantes, significa que temos quase 30 milhões de pessoas têm problema de desequilíbrio de parafuso”, disse. “Pode uma hora acontecer uma desgraça”, completou. Putz!

Escravidão: Por exemplo, ao visitar em Roraima, a reserva indígena Raposa Serra do Sol, Lula falou que a escravidão, apesar de terrível, teria trazido algo de bom, a miscigenação no Brasil.“Toda desgraça que isso causou ao país, causou uma coisa boa, que foi a mistura, a miscigenação entre indígenas, negros e europeus, que permitiu que nascesse essa gente bonita aqui, que gosta de música, que gosta de dança, que gosta de festa, que gosta de respeito, mas que gosta de trabalhar para sustentar a sua família e não viver de favor de quem quer que seja”, afirmou – mas têm o Bolsa Família. Ativistas e historiadores usaram as redes sociais para explicar que a miscigenação no Brasil, na verdade, é fruto da violência e do estupro de mulheres negras e indígenas — não de um processo harmônico e pacífico. Também reforçaram que não há saldo positivo na escravidão. Isso a história conta, presidente!

Em Portugal: Ao lado de um sorridente António Costa, primeiro-ministro de Portugal, Lula cometeu uma série de gafes, recorrendo a estereótipos para descrever as relações entre o país europeu e o Brasil. Começou dizendo que “nenhum brasileiro conseguiria comer pão se não fossem os portugueses padeiros”. Depois, recorreu à miscigenação, falando dos africanos que foram levados para o Brasil por Portugal como escravos. Meu Deus!

Violência contra a mulher: Lula cometeu uma gafe em discurso no último sábado, em São Paulo, ao condenar a violência contra as mulheres. “Quer bater em mulher? Vá bater em outro lugar, mas não dentro da sua casa ou no Brasil, porque nós não podemos aceitar mais isso”. Foi uma nova visita ao “Estupra mas não mata?” do Maluf, lembram?

Sobre os deficientes: Lula disse: “Deficiente intelectual é quem tem desequilíbrio de parafuso”. O apresentador Marcos Mion usou as redes sociais para criticar a fala do Presidente Lula sobre o assunto. O apresentador, que tem um filho autista, não gostou nada de ver o governante do país usando termos pejorativos para classificar deficientes intelectuais. Mion publicou um vídeo condenando a atitude do Presidente.

O presidente reforçou sua equipe responsável pelos textos, com a contratação da jornalista Cristina Charão, que era a responsável pela comunicação da primeira-dama, mas os textos nunca foram problemáticos. O que apresenta problema são os improvisos, dos quais Lula não consegue se desligar.

Após o episódio, alguns interlocutores do Planalto afirmaram que Lula já vinha se queixando por não estar preparado pela quantidade de assuntos a serem tratados em diferentes agendas.

Enfim, ele precisa realmente ajustar seus discursos; parar com os improvisos, e seguir o roteiro, sob pena de suas declarações caírem no descrédito.

Presidente, siga o roteiro e elimine seus improvisos!

Valter Bernat

Advogado, analista de TI e editor do site.

Advogado, analista de TI e editor do site.

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