19 de abril de 2024
Sylvia Belinky

O que está acontecendo?


Ontem, durante o dia, subi e desci toda a extensão da Avenida Rebouças de ônibus – 3,3 quilômetros – e também andei a pé por um bom pedaço dela.
Fiquei absolutamente embasbacada: de cima a baixo, de ambos os lados, a cada duas casas –que eram chiques, nos idos de 1950 – uma demolição em andamento e um “empreendimento” anunciado, daqueles com um mínimo de 30 andares para bem aproveitar um terreno tão caro e raro de escritórios, de apartamentos de todos os tamanhos para todos os bolsos… Todos?
A Avenida Rebouças está numa zona nobre da cidade e, ainda hoje, representa status para quem tenha um endereço por ali. Andei por quarteirões inteiros demolidos e com tapumes de alumínio e cheiro de tinta recém-aplicada.
Estamos vivendo uma crise que já se estende por três anos; ninguém tem dinheiro para as coisas mais banais, o número de desempregados permanece em cerca de 13 milhões, o de pessoas dormindo nas ruas, “acampadas” precariamente é imenso, bem como o número alarmante de suicídios, que são ocultados para não configurar uma epidemia sem precedentes.
Os jornais da TV flagram um desespero todos os dias: um anúncio de emprego que pague pouco mais do que um salário mínimo movimenta milhares de pessoas que se sujeitam a ficar por um dia inteiro na fila para ter a chance de colocar seu “currículo” ou seu nome na lista…
Voltando à Avenida Rebouças; se, ao longo desses quase 3,5 quilômetros, cada obra dessas empregue direta ou indiretamente 1.000 pessoas (em sua maioria, mão de obra não especializada), mas, também pedreiros, encanadores, eletricistas, corretores, fornecedores de todos os tipos de materiais para construção, só nessa extensão teríamos algo em torno de 30.000 empregados, grosseiramente falando e sem ajuda de estatísticas.
Minha certeza: não estamos “em obras” apenas na avenida citada. Os juros estão caindo muito e aqueles que dispõem de dinheiro para investimento precisam direcioná-lo para um setor rentável. Mas, a dúvida que me assalta é: quem irá comprar todos esses apartamentos e escritórios de luxo?
Sabe-se que construtoras não se arriscam a ter seus empreendimentos “encalhados” e, certamente, dispõem de informações “privilegiadas” que lhes garanta embolsar um lucro palpável.
O que será que elas sabem que mais ninguém da assim chamada “classe média”, hoje achatada, com dificuldade de comprar até mesmo no supermercado e com dívidas impagáveis (latu sensu) sabe, nem sequer de ouvir dizer, mesmo que esteja bem informada?
E o noticiário nos mostra um presidente que vive se enredando em suas próprias mentiras e fofocas, cujos filhos se acreditam membros da “família real” e semeiam a discórdia e a cisão até mesmo entre seus aliados sem que mais ninguém precise se mexer para isso, tanto dentro do Brasil, como fora…
Muitos de seus ministros trabalham seriamente para tentar viabilizar esse nosso pobre rico país; gente que, quando entrevistada, se diz com “carta branca” do Sr. Presidente da República, até que, num repente, deixa de tê-la – e seja informado disso através da imprensa…

Sylvia Marcia Belinky

Tradutora do inglês, do francês (juramentada), do italiano e do espanhol. Pelas origens, deveria ser também do russo e do alemão. Sou conciliadora no fórum de Pinheiros há mais de 12 anos e ajudo as pessoas a "falarem a mesma língua", traduzindo o que querem dizer: estranhamente, depois de se separarem ou brigarem, deixam de falar o mesmo idioma... Adoro essa atividade, que me transformou em uma pessoa muito melhor! Curto muito escrever: acho que isso é herança familiar... De resto, para mim, as pessoas sempre valem a pena - só não tenho a menor contemplação com a burrice!

Tradutora do inglês, do francês (juramentada), do italiano e do espanhol. Pelas origens, deveria ser também do russo e do alemão. Sou conciliadora no fórum de Pinheiros há mais de 12 anos e ajudo as pessoas a "falarem a mesma língua", traduzindo o que querem dizer: estranhamente, depois de se separarem ou brigarem, deixam de falar o mesmo idioma... Adoro essa atividade, que me transformou em uma pessoa muito melhor! Curto muito escrever: acho que isso é herança familiar... De resto, para mim, as pessoas sempre valem a pena - só não tenho a menor contemplação com a burrice!

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