Não sou e jamais fui, devo reconhecer, uma pessoa disciplinada… Eu era a vergonha de minha mãe (alemã de nascimento!…) quando eu ainda estava no então chamado primário, e a professora me mandava “ir para a diretoria”.
Era mais forte do que eu: filha única de pais separados eu me lembro de brincar dias inteiros sozinha, sem sofrimento. Entretanto, e com companhia? Meu estro se manifestava: eu fazia, inventava e topava todas as molecagens do mundo!!
Ah! E conversava muito – para desgosto dos professores e não vou fazer de conta que era uma criança muito estudiosa e dedicada porque não é verdade. Inteligente e curiosa, eu podia passar dias e dias ao lado do meu pai que era uma enciclopédia ambulante! Desse convívio veio o fato de eu adorar ferramentas, consertar coisas, adorar animais, fazer experiências que ele me propunha, como quando me apresentou o rádio de galena, uma pedra brilhante e uma anteninha e… a gente sintonizava qualquer rádio do mundo!
Mas, comecei essa história porque tenho ouvido, de muita gente, “que tédio ficar em casa, sem nada que fazer! Já fiz tudo: arrumei, limpei, guardei, está tudo em ordem”… Gente! Será minha grande surpresa quando eu julgar que, na minha casa, está tudo em ordem e no lugar!!! Têm um monte de coisas que eu sequer achei para poder por em ordem e olha que muitas delas eu já procurei bastante… Mas, sempre surge uma outra que estava escondida e que eu nunca imaginei que eu tivesse, quanto mais guardada: UAU, QUE JOIA!!!
Acho que sua casa deve ser sempre seu porto seguro, seu “piques” – que era quando a gente se livrava de quem estava nos procurando e batia a mão no lugar combinado, o único onde não poderíamos ser pegos, o “piques”!
Acredito haver pessoas só ficam felizes com tudo no lugar, arrumadinho, como fazia o marido psicopata da Julia Roberts num filme de suspense MARAVILHOSO, “Dormindo com o inimigo”. Pois é, esse cara punha todos os rótulos de três ou quatro coisas iguais em sua despensa todos virados para frente,tudo milimetricamente certinho – vejam só, longe de mim a ideia de chamar de psicopata todos os que gostam de tudo arrumadinho, nada disso, JURO!
Então, o que eu dizia é que sua casa também tem que reservar surpresas pra você: uma cadeira de balanço em que você nunca mais tinha sentado – e que delícia ler um livro sentada ali – ou uma janela que tem uma vista linda mas que você nunca mais olhou por ela: que belíssimo pôr do sol e nem sequer foi notado quando começou e terminou…
Você nunca sentou num lugar diferente no sofá e, de repente, achou lá… um lápis? Um brinquedinho do seu cachorro? Um Bis ainda enrolado em papel, ou umas pipocas..? Já pegou sua caixa de costura e achou lá uns enfeites de lantejoulas que você pensou que poderia usar em outro lugar? E numa calça jeans que fazia um tempão que não era usada, você nunca encontrou lá uma nota de R$ 20,00? E não ficou morta de alegria como se tivesse encontrado um tesouro?!
Ou mexeu numa caixa de fotos muito antigas e lá descobriu pessoas que eram amadas e que já se foram, outras que eram amigas, se mudaram e você nunca mais soube delas… Caramba! Vá atrás, escreva para aquele endereço antigo; vai que a carta chega e a pessoa não mora mais lá, mas vai buscá-la e te responde…
Vamos nos dar pequenos prazeres, alegrar-nos com coisa pouca que nem é tão pouca… É a sua casa, tire prazer de, não mais que de repente, poder ficar nela, fuçar seus cantinhos e descobrir que há sonhos que não se colocam em ordem…
Tradutora do inglês, do francês (juramentada), do italiano e do espanhol. Pelas origens, deveria ser também do russo e do alemão. Sou conciliadora no fórum de Pinheiros há mais de 12 anos e ajudo as pessoas a “falarem a mesma língua”, traduzindo o que querem dizer: estranhamente, depois de se separarem ou brigarem, deixam de falar o mesmo idioma… Adoro essa atividade, que me transformou em uma pessoa muito melhor! Curto muito escrever: acho que isso é herança familiar… De resto, para mim, as pessoas sempre valem a pena – só não tenho a menor contemplação com a burrice!