Como você reagiria à acusação pública de que acertou em sua própria casa o pagamento regular de propina a membros de um tribunal? E que nomeou dois representantes para que no futuro cuidassem diretamente do assunto em seu nome?
Por inocente, eu ficaria indignado. Desmentiria meu acusador, exigiria ser acareado com ele e o processaria depois. Não se brinca com a honra alheia. É o bem mais caro.
Luiz Fernando Pezão não deve pensar assim. À Lava Jato, Jonas Lopes de Carvalho Júnior, ex-presidente do Tribunal de Contas do Estado (TCE), contou que Pezão, quando vice-governador de Sérgio Cabral, foi responsável pela montagem do esquema que garantiu o pagamento a conselheiros do tribunal de 1% do valor de cada contrato assinado pelo governo acima de R$ 5 milhões.
Os conselheiros passaram a receber também 15% sobre a verba destinada à compra de comida para presos. Além de R$ 300 mil de mesada fixa.
Cada um, mais tarde, ainda embolsou R$ 75 mil mensais para defender os interesses de empresários de transporte público. Obra de Jorge Picciani, cacique do PMDB e todo poderoso presidente pela sexta vez da Assembleia Legislativa.
Naturalmente, Picciani soltou uma nota negando tudo. Pezão limitou-se a afirmar que desconhece o conteúdo integral da delação de Jonas Lopes, e que por isso nada comentaria.
Seria preciso conhecer a delação em todos os seus detalhes para só então repelir com veemência o ataque à sua honra? Ou não faz diferença para Pezão ser citado pela imprensa como peça importante da sofisticada organização criminosa que assaltou o Rio?
Jonas Lopes revelou a identidade dos dois representantes de Pezão que passaram a falar por ele junto à presidência do TCE: Afonso Henrique Monnerat, atual secretário de Governo, e Marcelo Amorim, subsecretário de Comunicação, casado com uma sobrinha de Pezão.
A Marcelo Amorim, segundo Jonas Lopes, coube 1% do volume de dinheiro destinado aos conselheiros do tribunal.
Sempre se dirá que o delator está obrigado a provar o que disse sob pena de perder o prêmio negociado, quase sempre menos anos de cadeia. Mas é justamente por isso que o delator evita mentir. No máximo, não diz toda a verdade.
O que revelou Jonas Lopes foi corroborado pelo filho dele, encarregado de receber o dinheiro em espécie. E também por fartas provas e indícios colhidos pela Polícia Federal.
Vem aí a delação de Cabral que promete entregar deputados estaduais corruptos – e eles existem aos montes na apodrecida assembleia comandada por Picciani – e juízes e desembargadores igualmente corruptos.
É provável que sobre para autoridades e ex-autoridades federais. Se, com justa razão, deu-se o nome de “delação do fim do mundo” à da Odebrecht, a de Cabral poderá ser a versão carioca dela.
Na semana passada, em meu blog, perguntei: “Quem salvará o Rio dos seus políticos?” Um leitor respondeu: “A pergunta deveria ser: quem salvará o Rio de sua população? Foi ela que colocou os políticos no poder.”
Outro observou: “O que identifica o eleitor é seu desleixo moral com direitos que são gostosamente barganhados pelo Carioca Way of Life”. E mais um: “Não existe sociedade mais permissiva do que a nossa”.
O futuro do Rio depende dos que aqui vivem. Ou aproveitamos as eleições de 2018 para promover um gigantesco expurgo político capaz de entrar para a História do Estado e, por tabela, do país, ou não haverá salvação à vista.
Fonte: Blog do Noblat
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