25 de abril de 2024
Ricardo Noblat

O risco calculado de Trump

Míssil americano lançado contra a Síri (Foto: AFP)

Está na cartilha dos presidentes dos Estados Unidos desde pelo menos meados do século passado: sempre que enfrentar dificuldades internas, faça a guerra em alguma parte do mundo. Ou ameace fazer. Quase todos fizeram.
O lançamento, ontem à noite, de 50 mísseis de cruzeiro sobre instalações militares do governo sírio ainda está longe de significar que o presidente Donald Trump já tem sua guerra. Mas as guerras sempre começam com o primeiro ataque.
Trump atacou bases de onde partirem os aviões que se valeram de armas químicas para matar, esta semana, cerca de 80 pessoas, a maioria civil, entre elas muitas crianças. O mundo em peso condenou a crueldade do regime do ditador Bashar al Assad.
A Síria vive em guerra civil há seis anos. O governo de Assad é apoiado pela Rússia. Os Estados Unidos têm por lá pouco mais de 900 soldados que combatem a organização terrorista Estado Islâmico, empenhada em derrubar Assad.
O uso de armas químicas contra civis na Síria aconteceu pela primeira vez em 2013, matando cerca de 1.400 pessoas. Obama, na época, pensou em bombardear posições do regime sírio. Recuou quando a Rússia garantiu que ações como aquela não se repetiriam.
Repetiu-se, e Trump viu aí sua oportunidade de marcar pontos no exterior e dentro de casa onde segue sendo mal avaliado. Justificou o ataque dizendo que ele responde ao “interesse vital de segurança nacional dos Estados Unidos”. A justificativa nada tem de original.
Como sempre ocorre em tais ocasiões, líderes republicanos e democratas no Congresso se uniram no apoio ao presidente. Pesquisas deverão mostrar que o povo americano também apoia a decisão de Trump – desde que ela não inaugure uma nova guerra.
Os Estados Unidos não deverão ir muito longe em sua escalada atual contra o regime de Assad. Não porque gostem dele, não gostam. Mas porque ainda não surgiu na Síria uma alternativa realista ao ditador. A queda dele fortaleceria o Estado Islâmico e o terror em geral.
Fonte: Blog do Noblat

Ricardo Noblat

Jornalista, atualmente colunista de O Globo e do Estadão.

Jornalista, atualmente colunista de O Globo e do Estadão.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *