7 de maio de 2024
Ricardo Noblat

Negócios do filho reduzem chances de Lira no Ministério da Saúde

Assim é, se lhe parece.

Em dezembro último, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), atrapalhou o anúncio que Lula faria do nome de Nísia Trindade Lima, então presidente da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), para ministra da Saúde do seu governo.

Em troca do comando do ministério, Lira garantia o voto do que chamou de “consórcio” de 150 deputados para aprovar a PEC 32/22, que permitiria ao novo governo aumentar em R$ 145 bilhões o teto de gastos no Orçamento de 2023.

Uma vez aprovada a PEC, Lula confirmou Nísia como ministra da Saúde, e Lira ficou na dele. Há poucas semanas, vendo as dificuldades do governo em contar com uma base que o sustente na Câmara, Lira voltou a cobiçar o lugar de Nísia.

O Orçamento do Ministério da Saúde é um dos maiores da República. E Lira até teria um nome do seu partido para administrá-lo: o médico e deputado pelo Rio, Luiz Antonio Teixeira Junior, conhecido pelo nome de Doutor Luizinho.

Ocorre que um ex-assessor e aliado político de Lira, Luciano Cavalcante, foi alvo de operação da Polícia Federal sobre a venda superfaturada de kits de robótica a prefeituras de Alagoas. E um filho de Lira e uma filha de Cavalcante são sócios.

Arthur Lira Filho, 23 anos, e Maria Cavalcante, 25, são sócios da Omnia 360, empresa que negocia com agências de publicidade contratadas pelo governo federal a distribuição de campanhas para veículos de mídia —por exemplo, outdoors ou internet.

E, segundo a Folha de S. Paulo, as empresas de mídia que a Omnia representa receberam cerca de R$ 6,5 milhões em campanhas publicitárias do Ministério da Saúde. Lira diz que nada tem a ver com os negócios do filho nem com os de Cavalcante. Sim, mas…

Os clientes da Omnia receberam R$ 3,09 milhões por campanhas publicitárias da Saúde em 2021 e mais R$ 3,24 milhões no ano seguinte. Os mesmos veículos ganharam R$ 235 mil em 2023, primeiro ano da gestão Lula.

Lira tem buscado se desvincular tanto de alvos de suspeitas da Polícia Federal no caso da venda de kits de robótica quanto de interferências no governo. Chegou a afirmar no começo deste mês que cada um é “responsável pelo seu CPF nesta terra e neste país”.

Em nota enviada à Folha, Lira disse que “não há nada de errado no desenvolvimento funcional da empresa do meu filho, e muito menos ingerência minha na sua atividade empresarial”. E negou ter pedido a Lula a substituição de qualquer ministro. Ameaçou:

“Esta Folha querer fazer associação sobre fato político inverídico, no caso solicitar ao Ministério da Saúde, com interesses pessoais, é especulativa, descabida, irresponsável e criminosa. E assim será tratada nas instâncias jurídicas”.

Na opinião de Lira, as “ilações feitas pelo jornal não são jornalismo. Aliás, isso é o antijornalismo”. Este blog não entende assim. A Folha limitou-se a publicar fatos, alinhando-os. Nenhum deles foi desmentido por Lira nem por ninguém.

Fonte: Blog do Noblat

Ricardo Noblat

Jornalista, atualmente colunista de O Globo e do Estadão.

Jornalista, atualmente colunista de O Globo e do Estadão.

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