21 de maio de 2024
Colunistas Ricardo Noblat

Jairzinho paz e amor completa amanhã uma semana em cartaz

Até quando ele resistirá, até quando?

A levar-se em conta a natureza do personagem que ela esconde, a fantasia do Jairzinho paz e amor tem resistido mais ou menos intacta às desventuras recentes sofridas pelo presidente Jair Bolsonaro. Ele pode até não tê-las digerido bem, mas disfarçou.

Até quando será assim, sabe-se lá! Somente ontem, ele engoliu mais duas derrotas – uma no Congresso, que Bolsonaro diz fazer parte de um só corpo junto com o governo; a outra no Supremo Tribunal Federal, que ele cansou de esmurrar nos últimos meses.

Rodrigo Pacheco (DEM-MG), presidente do Senado, devolveu a Bolsonaro a Medida Provisória assinada por ele que alterava o Marco Civil da Internet para dificultar a remoção de conteúdos nas redes sociais que disseminam notícias falsas e discurso de ódio.

Sim, em nome da liberdade de expressão, ele queria que tais coisas continuassem sendo permitidas. Tinha fortes razões para isso. De notícias falsas e manifestações de ódio, ele e seus filhos parlamentares sempre se beneficiaram. Por que abrir mão?

Não é comum que o Congresso recuse-se a votar uma medida provisória que entra em vigor de imediato. Na história das Medidas, é a quinta vez que acontece. A mesma medida foi também barrada pela ministra Rosa Weber, do Supremo.

Mais derrotas estão por vir e testarão a resiliência de Jairzinho paz e amor. A partir desta sexta-feira, o Supremo começa a julgar quatro decretos de Bolsonaro que afrouxaram a posse e o porte de armas. Essa, para ele, é uma espécie de cláusula pétrea, imexível.

Nos decretos, Bolsonaro retira do Exército o controle sobre munições, permite a compra de até seis armas de fogo por civis, autoriza o porte de duas armas por cidadão, dispensa atiradores amadores de credenciamento na polícia, e outras cositas mais.

O número de armas de fogo registradas dobrou desde que Bolsonaro chegou ao poder – de 638 mil em 2017 para 1,3 milhão em 2020. O número de mortes violentas em igual período cresceu 4%. O Supremo não aprovará os decretos do jeito que eles estão.

No futuro próximo, que ninguém se surpreenda se o presidente disser algo do tipo: “Vocês viram. Fiz tudo que estava ao meu alcance para me entender com o Supremo, mas não deu”. Tal ocasião marcará o retorno de Bolsonaro e a morte de Jairzinho.

Fonte: Blog do Noblat

Ricardo Noblat

Jornalista, atualmente colunista de O Globo e do Estadão.

Jornalista, atualmente colunista de O Globo e do Estadão.

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