27 de julho de 2024
Ricardo Noblat

Há vinte anos – Suspensa a expulsão do jornalista americano

Lula dirá, ou alguém dirá por ele, que se não fosse sua atitude corajosa, altiva e afoita de expulsar o correspondente do NYT, ele não teria escrito a carta onde disse que jamais pretendeu ofender o presidente ou o país com sua reportagem.

Mas o que ficará é que Lula criou uma crise a partir do nada – ou de pouca coisa. Uma crise que desgastou a imagem dele e a do país lá fora – e pouco importa que o desgaste possa agora ser menor.

Contra a opinião dos ministros mais poderosos do seu governo (Palocci, José Dirceu, Márcio Thomaz Bastos, Luiz Dulci), o presidente mandou expedir o decreto de expulsão.

Contra a Constituição que assegura o direito de livre expressão do pensamento, até mesmo para o estrangeiro que viva entre nós, o presidente teimou em fazer valer sua vontade.

Novamente contra a Constituição que impede a expulsão de estrangeiro casado com brasileira e pai de dois filhos dela, o presidente esmurrou a mesa e impôs o que quis.

Esse é um típico comportamento de líder autoritário – não do líder democrático que Lula sempre quis ser. O jornal não deverá retirar uma vírgula do que publicou. Publicado foi, publicado ficará.

À falta de uma retratação verdadeira, o que ocorreu foi a tentativa de se aplicar uma meia-sola para salvar a face de um presidente que fez tolice. (Para dizer o mínimo.)

02:39

Não faltou aconselhamento jurídico a Lula. Faltou juízo. Faltou racionalidade. Faltou sangue frio. Tudo que um presidente precisa ter. Sobrou emoção. Sobrou cólera. Sobrou descontrole.

Sobre Fernando Henrique Cardoso, se disse durante mais de dois anos, que tinha conta em paraíso fiscal. De um filho dele e de uma filha, se disse ou se insinuou coisas que jamais foram provadas. Nem por isso ele ameaçou jornalistas com processos. Sarney, quando presidente, também não.

Uma vez, no Jornal do Brasil, escrevi na Coluna do Castelo que “o mar de lama que ameaçou na década de 50 afogar o governo de Getúlio Vargas não passava de um tímido brejal se comparado com o que ameaçava levar de roldão o governo Sarney.”

Furioso, Sarney chamou o Procurador Geral da República, o hoje ministro Sepúlveda Pertence, e deu ordens para me processar. Dias depois, mandou Pertence esquecer o assunto.

Não defendo impunidade para jornalistas – nem para ninguém. Mas a lei não autoriza Lula a expulsar o correspondente do NYT. Processe-o, se quiser.

01:41

Pronto, está virando deboche. Neste exato momento, tem um grupo de funcionários do Congresso reunido no restaurante mais petista de Brasília – O Feitiço Mineiro. Era frequentado por Lula antes de se eleger. E ainda é frequentado por muitos dos seus ministros.

O grupo ali reunido acaba de fazer uma vaquinha para mandar produzir adesivos para carros com a seguinte frase:

“Se você dirigir, não beba. Se beber, não seja presidente da República”.

Ou muito me engano ou uma frase parecida com essa foi escrita por alguém neste blog.

E segue o bonde de Lula – cada vez mais animado e emocionante.

Fonte: Blog do Noblat

Ricardo Noblat

Jornalista, atualmente colunista de O Globo e do Estadão.

Jornalista, atualmente colunista de O Globo e do Estadão.

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