6 de outubro de 2024
Colunistas Ricardo Noblat

É dia de dizer de uma só vez: Chega! Basta! Fora!

Mesmo que se reeleja Bolsonaro perdeu e teria que recomeçar.

Montagem de Lula (esquerda) discutindo com Bolsonaro (direita) em debate com arte em forma de “X” atrás – Metrópoles Arte/Metrópoles

Em jantar na embaixada do Brasil em Washington, durante sua primeira viagem aos Estados Unidos na condição de presidente, Jair Bolsonaro animou os convidados, entre eles o autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho e o estrategista da Casa Branca de Donald Trump, Steve Banon, ao proclamar em discurso:

“Vou destruir o sistema”.

Não definiu o que era o sistema, mas todos ali entenderam o que ele queria dizer: o conjunto de forças políticas e econômicas que ditavam os rumos do Brasil desde o fim da ditadura 64. Olavo e Banon sorriram satisfeitos. Bolsonaro seria mais um a pautar-se pelas ideias da extrema-direita que avançavam pelo mundo.

Na última sexta-feira, no belicoso debate com Lula na TV Globo, Bolsonaro queixou-se em certo momento:

“Todo o sistema está contra mim”.

E citou como expoentes do sistema a própria Globo, a imprensa em geral e os tribunais superiores de justiça. Não citou o Congresso, que depois das eleições de 2 de outubro virou um ninho de seus apoiadores mais radicais; nem o empresariado e o agronegócio que injetaram muito dinheiro na reta final de sua campanha.

Dir-se-á que apenas estava se vitimando para atrair mais votos. Mas, não: talvez estivesse sendo sincero. Se não todo o sistema, boa parte dele uniu-se não só para sobreviver como para derrotar a pretensão de Bolsonaro de subverter as regras estabelecidas pela Constituição de 1988, implantando no país um regime autoritário.

O plano original de Bolsonaro era usar seu primeiro mandato para virar o país pelo avesso, e o segundo, que viria com a reeleição, para começar a construir o país dos seus sonhos. A não ser possível um terceiro mandato consecutivo (mas quem disse que não seria?), indicaria seu sucessor. A construção de um novo país demora.

Se for reeleito hoje, Bolsonaro terá que recomeçar sua obra. E só os ingênuos são capazes de acreditar que ele desistirá dela. Bolsonaro é e sempre será o que foi até aqui: um nostálgico da ditadura, um complexado por ter sido afastado do Exército, um administrador despreparado, e um homem ordinário e preguiçoso.

Sua carta aos brasileiros, divulgada às pressas, vale tanto quanto uma nota de três reais. Um dos seus 22 itens, para contrapor-se aos 13 itens da nova carta de Lula, diz que Bolsonaro respeitará a independência entre os Poderes da República; outro, que não proporá a reforma do Supremo Tribunal Federal.

É falso. O respeito aos Poderes contraria a natureza de um aspirante a ditador. Ele não precisa propor a reforma do Supremo, outros o farão e Bolsonaro dirá que a iniciativa e a decisão a respeito couberam ao Congresso; na linha do que diz sobre o Orçamento Secreto. A mentira é seu apanágio.

A resistência ao assassino da liberdade, a serviço da morte da democracia, começará no dia seguinte se Deus não nos poupar de tamanha desventura. Deus, não, que ele não se mete nessas coisas; se a maioria de nós não se levantar para dar um chega, basta, fora, tudo de uma só vez, repondo o país nos trilhos.

Fonte: Blog do Noblat

Ricardo Noblat

Jornalista, atualmente colunista de O Globo e do Estadão.

Jornalista, atualmente colunista de O Globo e do Estadão.

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