29 de abril de 2024
Colunistas Ricardo Noblat

Dar mais quatro anos de mandato a Bolsonaro para quê?

Se nada disso o incomoda é porque você sempre foi como ele é e não sabia

Jair Bolsonaro sobe a rampa – Silhueta Orlando Brito

Você já se perguntou por que Bolsonaro quer mais quatro anos de mandato? Para fazer o quê, e por quem? Lembra-se se ele já disse por que quer mais quatro anos?

Não vale responder com o que você suponha que ele queira fazer, mas com o que ele tem dito ou já disse. Não vale citar frases vagas, do tipo fazer o país crescer e todos os brasileiros serem felizes.

Você pode não gostar de Lula, Ciro Gomes, Simone Tebet, mas faz ideia do que eles desejariam fazer se fossem eleitos. Lula, pelo que já fez em dois governos; Ciro e Simone pelo que prometem.

E Bolsonaro? Ao se eleger há quatro anos, ele dizia que, primeiro, era preciso “destruir o sistema” para depois reconstruí-lo. Nunca deixou claro o que era o “sistema”, nem o que poria no lugar dele.

Se por “sistema” entenda-se o modo como a economia era conduzida, nada mudou. As reformas que ele prometeu fazer não fez. A da Previdência foi deixada pronta por Michel Temer.

Se por “sistema” entenda-se o modo como a política em geral era conduzida antes dele, nada também mudou, a não ser para pior. Hoje, o Congresso dispõe do Orçamento Secreto, uma aberração.

Os militares, antes recolhidos aos quartéis, entraram no governo e voltaram a se meter com o que não deveriam. São mais de 6 mil. A democracia chega mais fraca e ameaçada ao cabo de quatro anos.

E a vida das pessoas melhorou? Como melhorou se a Educação foi desmontada, a Saúde também, a inflação cresceu, e 60 milhões de brasileiros acordam todos os dias sem saber o que vão comer?

Que novos programas sociais foram criados? Ou que programas sociais existentes foram ampliados ou reformados? Esmola para comprar a reeleição não é programa social, é só esmola.

Pense bem: mais quatro anos de Bolsonaro para quê? Para ele corrigir os erros que cometeu? Ou, por não reconhecer, cometer outros? Ou para tentar avançar na obra de destruição do país?

A reconstrução do “sistema” – quem sabe? – ficaria para um terceiro mandato, se não dele se a Constituição não fosse emendada, de um dos filhos ou de um seguidor fanático.

O Brasil, hoje, é menos ou mais respeitado pelos demais países? Seu presidente é menos ou mais ouvido pelos líderes mundiais? E suas sugestões são menos ou mais acatadas?

Em que parte do mundo um chefe de governo convoca embaixadores estrangeiros para dizer que o sistema eleitoral do seu país não é confiável? Um sistema pelo qual ele foi eleito?

Sem convocar embaixadores, Donald Trump foi além: recusou-se a aceitar a derrota e tentou dar um golpe, estimulando a invasão do Congresso. Bolsonaro é uma cópia mal feita de Trump.

Se isso nada disso envergonha você, é porque você sempre foi bolsonarista, e não sabia. E agora que sabe, não se incomoda. Passe bem enquanto puder.

Fonte: Blog do Noblat

Ricardo Noblat

Jornalista, atualmente colunista de O Globo e do Estadão.

Jornalista, atualmente colunista de O Globo e do Estadão.

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