18 de maio de 2024
Colunistas Ricardo Noblat

A realidade para Bolsonaro só vale se ele estiver de acordo com ela

Presidente volta a condicionar sua retirada do poder à realização de “eleições limpas”

Entrevista candidato eleições 2022 Jair Bolsonaro na Rede Globo – TV Jornal Nacional 3
Reprodução/TV Globo

Vai longe, muito longe, o tempo em que Bolsonaro dizia uma coisa e meses depois o contrário. A 18 dias das eleições, atrás de Lula nas pesquisas de intenção de voto, o que ele disse ontem, ou o que acabou de dizer, pode já não valer mais nada em instantes.

A um podcast cristão, na segunda-feira (12), ele disse:

“Se for a vontade de Deus, continuo. Se não for, a gente passa a faixa, e vou me recolher, porque com a minha idade eu não tenho mais nada a fazer aqui na Terra se acabar essa minha passagem pela política em 31 de dezembro do corrente ano”.

Em entrevista ao programa do Ratinho no SBT (Sistema Bolsonarista de Televisão), Bolsonaro disse menos de 24 horas mais tarde:

“Eleições limpas você não tem o que discutir. O que não consigo entender é que em qualquer lugar que eu vou no Brasil a gente é recebido com muito carinho”.

Voltou, portanto, a condicionar sua retirada do poder à realização de “eleições limpas”. Ora, quem atesta a limpeza das eleições é a Justiça. Se ela proclamar que foram limpas é porque foram e não cabe discussão. Bolsonaro que vá reclamar aos pastores.

O ministro Fábio Faria, das Comunicações, casado com a principal herdeira do SBT, afirmou que Bolsonaro só acredita em pesquisas feitas para consumo interno de sua campanha, e no que vê. A ordem é inversa: ele acredita, primeiro, no que vê.

E se pesquisas encomendadas para seu uso não coincidirem com o que ele vê, ou imagina que vê, danem-se as pesquisas. Daí a perplexidade de Bolsonaro com os resultados de pesquisas que apontam o favoritismo de Lula.

Depois de uma certa idade, para o bem ou para o mal, as pessoas não mudam. Outro dia, forçaram Bolsonaro a admitir que cometeu erros no enfrentamento da pandemia da Covid-19. O máximo que ele conseguiu dizer é que foram erros de liberdade de expressão.

Com Ratinho, retomou o assunto:

“É falar alguns palavrões aí de vez em quando, e o pessoal leva para um lado completamente diferente. No resto, tudo entendo que fizemos corretamente.”

Mentir, por exemplo, Bolsonaro não reconhece que mente. Por isso, sente-se à vontade para seguir mentindo. Mentiu ao dizer a Ratinho que Lula “vai legalizar aborto, drogas no Brasil e manter política que é terrível conhecida como ideologia de gênero.”

Mas o que há a se fazer? Bolsonaro é um caso perdido. Não é o único.

Ricardo Noblat

Jornalista, atualmente colunista de O Globo e do Estadão.

Jornalista, atualmente colunista de O Globo e do Estadão.

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