2 de maio de 2024
Colunistas Ricardo Noblat

A raiva que borbulha no mundo contra Israel e os Estados Unidos

É genocídio ou não? – pergunta Lula.

Com receio de não se reeleger, Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, antecipou, enquanto tomava um sorvete em Nova Iorque, que a guerra Israel x Hamas poderá ser suspensa até o início da próxima semana.

Horas depois, Israel e o Hamas anunciaram que não é bem assim. Disseram a mesma coisa o governo do Catar, mediador de qualquer tipo de acordo, e um porta-voz da Casa Branca.

Biden vive a ser corrigido pelos que o cercam. A idade produz estragos na sua imagem. Outro dia, chamou Vladimir Putin, o presidente russo, de um grande “filho da puta maluco”. A Casa Branca informou que não era isso o que ele quis dizer.

No início da guerra, depois que o Hamas o invadiu, Israel mandou que os palestinos do Norte da Faixa de Gaza se mudassem para o Sul, sob pena de serem bombardeados e mortos. Foram bombardeados mesmo assim.

Metade dos palestinos mudou-se correndo para o Sul. Destruída grande parte do Norte de Gaza, agora Israel manda que os palestinos que se mudaram para o Sul voltem às pressas para o Norte. Por quê?

Porque Israel está pronto para invadir o Sul. Mas por que não invadiu o Sul primeiro? Porque o Sul da Faixa de Gaza sempre foi reduto eleitoral de líderes do governo de extrema direita de Israel, comandado por Benjamin Netanyahu.

Era preciso dar algum tempo para que os colonos israelenses estabelecidos no Sul de Gaza dali pudessem sair, ou proteger-se. Voto não tem preço. Vale mais do que vidas, se for o caso.

Quando Lula diz que Israel comete um genocídio, está certo. Genocídio é a eliminação de um povo, ou a tentativa de. Foi o que fez com os judeus durante a 2ª Guerra Mundial a Alemanha nazista de Hitler.

Lula não usou a expressão Holocausto, mas foi como se tivesse usado. Quem mandou dizer:

“O que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existiu em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu. Quando Hitler resolveu matar os judeus”.

O número de palestinos mortos na atual guerra, e até aqui, já ultrapassou a casa dos 30 mil, a maioria mulheres e crianças. Sem contar os mortos soterrados sob escombros de imóveis.

Não entra um caminhão com ajuda humanitária na Faixa de Gaza sem autorização do governo israelense. Em certo período, mais de 500 entravam por dia. Hoje, só 50 ou 60. Dá para nada.

Os caminhões levam comida, água, remédios e combustível. A ONU adverte que o mundo assiste a uma tragédia que não tem data para acabar. Israel diz que não tem mesmo data para a guerra acabar.

Por causa de sua política externa excessivamente pró-Israel, Biden arrisca-se a perder o voto árabe e o voto dos jovens indignados na difícil parada que tem pela frente para derrotar o ensandecido Donald Trump.

Thomas L. Friedman, um dos principais colunistas de opinião do New York Times, o mais importante jornal do mundo, escreve:

“Passei os últimos dias viajando de Nova Delhi para Dubai e Amã e tenho uma mensagem urgente a transmitir ao presidente Biden e ao povo israelense: estou vendo a erosão cada vez mais rápida da posição de Israel entre as nações amigas – um nível de aceitação e legitimidade que foram meticulosamente construídas ao longo de décadas. E se Biden não tomar cuidado, a posição global da América irá despencar juntamente com a de Israel.

Não creio que os israelitas ou a administração Biden compreendam plenamente a raiva que borbulha em todo o mundo, alimentada pelas mortes de tantos milhares de civis palestinos, especialmente crianças, com armas fornecidas pelos Estados Unidos. O Hamas tem muito a responder por essa tragédia humana, mas Israel e os Estados Unidos são vistos agora como impulsionadores dos acontecimentos e recebem a maior parte da culpa”.

Fonte: Blog do Noblat

Ricardo Noblat

Jornalista, atualmente colunista de O Globo e do Estadão.

Jornalista, atualmente colunista de O Globo e do Estadão.

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